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OPINIÃO

Uma análise psiquiátrica do juiz Moro

Marcelo Caixeta Especial para  Opiniãopública

O brasileiro comum é um indivíduo primitivo: ele até defende seus direitos com agressividade quando lhe roubam o pão com mortadela mas, como não lê, governos, patrões e instituições podem lhe roubar milhões que ele não age. Nossa sociedade, do ponto de vista psicossociológico, é moldada com base na família e nos amigos; deixamos ao poderoso governo a ocupação com a tal “justiça social”. Aí o governo ganha força e é loteado pelos ricos (“empresários”), pelos funcionários públicos e pela classe média (que, além de ser quase toda ela direta ou indiretamente funcionária pública, vive direta ou indiretamente das benesses do Estado ).
Os “ricos”, por sua vez, aproveitam-se da ignorância do povo para explorá-lo mais ainda, isto gera mais necessidade de um governo que possa “proteger” o povo contra o capital ( esta é uma ótima justificativa para a existência e a força cada vez maior do Estado). Também não é difícil para os empresários “mandarem” no Estado pois são eles que o sustentam, uma vez que todos aqueles apinhados no governo (pobreza, funcionários, políticos, burocracia) nada produzem em termos absolutos, só sugam.
O PT, inicialmente, só tentou repassar um pouco mais desta roubalheira no interior do Estado – que só favorecia a classe média e empresários – para a pobreza. É claro que fez isto visando o populismo eleitoral: sabia que não tinha instrumentos para seduzir a classe média e empresários, uma vez que estes são, por natureza, anti-socialistas ( querem as benesses do Estado só para si ). O que não deu certo é que, uma vez que o PT abriu a torneira do Estado, não só a pobreza, mas também os funcionários públicos , os políticos, a burocracia, e até os empresários (p.ex., via BNDES) também queriam uma parcela cada vez maior do fruto do roubo arrecadatório. Aí a coisa emperrou porque tem muita gente sugando, arrecadando, repassando, mas poucos produzindo (o “Estado Socialista” destroi a produção, o Estado socialista destroi toda a tessitura da Sociedade Civil via desidratação de sua iniciativa privada). Para piorar, todos estes mecanismos estão vindo à tona, não por causa da imprensa, da moral religiosa, do judiciário, dos procuradores, promotores, tribunais de contas, etc, mas sim por causa da transparência da internet. A transparência desnuda nossa indigência moral ( “todos vivemos à sombra do Estado Forte” ) e mostra para todos os mecanismos sórdidos listados acima. Com isto, dá voz e fortalece aqueles indivíduos “doentes” que colocam a obsessividade de um trabalho (vide o encarniçamento jurídico-saneador do juiz Moro) acima das benesses de seus empregos públicos e carreiras públicas. Estes indivíduos “doentes” tem um ego patologicamente forte, uma obsessividade pela realização do que é bem-feito e efetivo, fatores que não os deixam viver a eterna sombra da passividade, “serviços-não benfeitos” e preguiça exigida por seu emprego público. São os doentes que mudam o mundo (assim como, geralmente , são os “doentes” que ficam lendo um artigo como este). Os “inteligentes normais” – aqueles que por causa de sua inteligência conseguem sugar bem do governo – se adequam serenamente à boa-vida que o Estado lhes dá, não irão colocar a obsessividade de um trabalho bem-feito acima do bem-estar próprio, da sua família e de seus amigos. O sexo masculino é mais obsessivo no trabalho, mais orgulhoso de sua capacidade, mais desejoso de um trabalho rigidamente bem-feito e resolutivo ( e mais “caxias”) do que as congêneres femininas. Das mulheres, é muito mais fácil ouvir : “só quero passar no concurso”, “pode ser até um serviço chato, mas eu me adapto”, “não me importo com falta de realização, com “paralisia laboral”, apenas faço a minha obrigação”. Ou seja, levam “mais de boa” a paralisia estatal. Já os homens, os mais “enérgicos” (pois há muitos de “alma mais passiva”), estes ou ficam “doidos” (sua energia não tem para onde drenar ou ser valorizada no serviço público – em Goiânia mesmo há um “rico psiquiatra” que meio que se especializou em atender muito na surdina estes altos funcionários públicos “frustrados”), ou viram “psicopata-espertalhões” ( tipo os “roubadores da Petrobras” ), ou simplesmente chutam o balde e se demitem ou continuam receber o contra cheque e vão trabalhar com outra coisa que lhes dê realização. A “energia” que leva um funcionário ir contra toda a máquina, como eu disse acima, é uma “energia geralmente anormal”. Se esta energia fosse valorizada, mesmo que fosse anormal poderia causar paz de espírito para o doente, ele se sente realizado, utiliza da própria energia patológica para o bem dos outros, sente que está construindo algo. No entanto, quando esta energia é barrada, desvalorizada, ela pode tornar-se uma “energia escura” , patológica, intoxicar o seu detentor.
Toda esta “patologia psiquiátrica-frustrativa”, como vemos, é decorrente das distorções que a classe média brasileira armou para si mesma : “querer viver sob a mamata de um Estado “pleno provedor” é ruim para a saúde mental”.
Os funcionários que teimam em ser os “heróis” do sistema, aqueles que, de peito aberto, enfrentam tudo, geralmente são massacrados pelos políticos ou pelos chefes que os políticos colocam lá. Isto provavelmente não aconteceu com o juiz Moro e sua equipe de promotores porque hoje eles contam com um aliado muito poderoso: a transparência da internet.

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra (escreve às terças, sextas-feiras e aos domingos)

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