Home / Cidades

CIDADES

Metaverso para iniciantes

Rariana Pinheiro

Welliton Carlos

Uma das palavras do ano é metaverso. Termo que ressurgiu com recente pronunciamento de Mark Zuckerberg, proprietário do Facebook, ele representa, na verdade, experiências que já ocorrem pelo menos há 20 anos. A diferença é que agora um número maior de pessoas está apto a “viver" dentro do mundo virtual.

Em um ambiente de metaverso, por exemplo, esta edição do “Diário da Manhã” seria feita em uma estrutura 3D, onde cada repórter, editor e entrevistados poderiam se encontrar, realizar o diálogo que será matéria prima da notícia e fechar a edição. Tudo em um lugar que não existe materialmente.

A ideia, o fato e a opinião coletada na entrevista, esta sim, será veiculada e terá existência. Esta reportagem do DM é destinada a quem não sabe absolutamente nada deste modismo anunciado e deseja se inteirar para não ficar para trás, desinformado ou apartado de um novo mundo que se inicia.

Nossos entrevistados e fontes pretendem explicar questões elementares como que equipamentos são necessários para produzir tal interação, origem do metaverso, o que pode ser feito dentro destes ambientes desterritorializados e imersivos, onde já existe em Goiás e no Brasil.

Bê-á-bá

A palavra metaverso

Termo que surgiu na obra “Nevasca", de Neal Stephenson, em 1992. O autor, de fato, antecipa a ideia de vida dentro do ambiente digital. Para ele, o metaverso substituirá a internet. O termo significa hoje qualquer forma de mundo digital imersivo: espaço digital, coletivo, voltado para emular as interações sociais mais comuns, como sociabilidades, namoros, encontros, reuniões, comércios, etc.

Equipamentos

Existem duas formas de participação: com óculos VR (Virtual Reality) e outros gadgets de contato. E apenas pelo uso de computadores e celulares. A maioria dos computadores com 8 GB e 16 GB de RAM e processadores i5, i6 e i7, explica o técnico em informática Mateus Andrade, tem estrutura para navegar no metaverso. “Estes equipamentos custam a partir se R$ 5 mil. O óculos pode sair de R$ 250 à R$ 3500”, diz.

Metaverso já existe?

Metaverso já está no universo de games há pelo menos 20 anos, mas só agora o grande capital financeiro resolveu desbravar limites da realidade virtual (Foto: Freepik)

Não confunda o hype, a moda, com o termo e a prática. O metaverso já existe. O que mudou foi a orientação do mundo. Um dos homens mais poderosos do planeta, Mark Zukerberg, entendeu que o Facebook, sua empresa, está em decadência e envelheceu com seus usuários – mais de 30% deles morreram nos últimos cinco anos. A empresa criou então Meta, um projeto para reorientar a popular rede social para um universo infinito e paradigmático: a realidade virtual. O site Second Life oferece desde 2003 tudo o que entendemos por metaverso. Diversas empresas goianas, por exemplo, chegaram a migrar para dentro desta plataforma híbrida que mesclava redes sociais e games 3D. Partidos políticos estão no Second Life.

Onde testar o Metaverso agora com VR

                               Escritório metaverso desenvolvido a partir do óculos vr

Com óculos VR, é possível interagir e testar várias iniciativas privadas. Na Campus Party, realizada em Goiás no final do último mês, o governador Ronaldo Caiado e quem visitou os stands fez várias imersões. Jogos populares como Roblox e Fortnite podem ser jogados neste momento com os óculos. Outros games populares, como Gran Turismo, permitem você olhar dentro do carro e fora exatamente como se fosse real.

Onde testar metaverso sem óculos

Óculos 3D é necessário, mas não obrigatório para experimentar a vida imersiva

Inúmeras experiências virtuais sem óculos 3D podem ser executadas na internet. O site gather.town é um exemplo clássico de metaverso: nele, você pode criar uma experiência de escritório, um evento ( um comício, uma festa, etc) ou um encontro social.

É uma experiência 2D que ajuda a incluir no metaverso pessoas que não experimentaram games em 3D, como a geração de Super Nintendo anos 90, logo, sem o preparo para tal domínio. O metaverso atual é alinhado ao sistema de 3D, com grande realismo visual. Em 2D, o metaverso do gather.town permite uso de qualquer computador, mas requer webcam e microfone. É uma alternativa, por exemplo, ao Zoom ou Google Meet (softwares de reunião online), pois os avatares (personagens criados pelos usuários) presentes no ambiente simulam a real presença num ambiente. Ou seja, se um ícone do avatar aparece ali é porque ele tem sua câmera e microfone aptos a transmitirem suas informações.

     O site gather.town é um exemplo clássico de metaverso

Onde o metaverso estará

É praticamente infinito o conjunto de possibilidades, mas o metaverso estará nos shows de rock, no aluguel de propriedades desterritorializadas, nas lojas, shopping, ruas - o gêmeo digital das cidades já está em execução (ver correlata). "A grande sacada agora é comercial. Pois o Facebook quer lucrar com isso. E as empresas vão correr atrás: agora tem um dilema da inclusão. Se uma empresa colocar em promoção produtos que você só enxerga com um óculos Quaest, isso será justo?", questiona João Paulo Maciel, que tem uma loja de games no camelódromo de Campinas, em Goiânia, e vende óculo VR e outros apetrechos, como câmeras e app.

Avatar

Personagens que pessoas reais podem assumir na vida digital. Second Life, The Sims e vários jogos como Just Dance e Guitar Hero já usam o sistema de customização de identidade. O metaverso exige identidades reais ou avatares ou ambas.

Cidades inteligentes estarão no metaverso

A vida pública e privada tendem a convergir para o metaverso. A proposta de criação de cidades digitais é o próximo passo dos debates dos gestores.

Conforme Flavio Yuaça, analista de geoprocessamento da Prefeitura de Goiânia, o "gêmeo digital" de uma cidade é "uma representação virtual da mesma". Em artigo publicado no site do Estadão, ele explica que a proposta do gêmeo digital se funde ao de metaverso nas operações relacionadas às cidades inteligentes. Ele e pesquisadores do assunto citam algumas possibilidades que podem ser colocadas em prática, como, no futuro, a existência de cidades sem placas de endereços. Um modelo virtual de cidade substituiria o custo dos gastos com placas e suas reformas, considerados altos pelos gestores. Claro que tais mudanças só ocorreriam com a democratização de acesso ao universo digital.

A proposta dos pesquisadores é que ocorra primeiro um aumento das possibilidades de sincronização entre elementos das cidades reais com as digitais.

Em um momento de aplicação prática da nova tecnologia, as pessoas poderiam, por exemplo, serem convidadas a participar da inauguração de uma loja numa grande avenida. E lá na sede real e também virtual ocorrer possibilidade de interação entre o visitante real e o virtual, com superação da importância da territorialidade. Mas mais do que isso: quem se desloca para a loja, seja em ambiente virtual ou real, interagiria em 'real time' com a cidade inteligente.

No ano passado, na avenida Champs Elysee, em Paris, ocorreu a grande inauguração de uma loja com todo o sistema de metaverso. A única ausência foi a conectividade com a cidade real - assunto que já tem sido debatido e testado em Beta pela Prefeitura de Paris.

Agora, é fácil imaginar outras possibilidades: por exemplo, você ficou de completar a Romaria de Trindade com a família, mas quebrou a perna. Como ir? Pelo metaverso. E dialogando com todos amigos e mais: finalizando a prova ou cumprindo a promessa, ainda que seja com esforço "digital".

Governo de Goiás

Governador Ronaldo Caiado com óculos VR na Campus Party Goiás

Em processo de digitalização de serviços públicos através de plataformas como a Expresso, o Governo de Goiás quer virtualizar grande parte das ações executadas em suas dependências. O governador Ronaldo Caiado acredita na possibilidade do uso do metaverso como modal para novo modelo de gestão. O gestor cita o fato de Goiás ter obrigação em dar exemplo, já que é um dos estados líderes em conexão e digitalização. "Primeiro devemos deixar o passado analógico para trás. Depois, construir uma rede digital, que inclui preparar trabalhadores capacitados para essa revolução".

Justiça

A Justiça do Trabalho em Mato Grosso teve recente experiência com a digitalização de seu prédio e realização de eventos no metaverso. Audiências e julgamentos poderão em breve usar o sistema da realidade virtual e aumentada.

ENTREVISTA - Pedro Henrique Gonçalves  

“Em breve vamos perder a noção do que é real e o que é físico”

A frase é do professor da UFG Pedro Henrique Gonçalves, que é coordenador da Rede Ipelab de laboratórios de prototipagem e pesquisador de tecnologias inovadoras em ambientes. Ele conversou com DM sobre como o metaverso pode mudar a vida da sociedade, o mercado goiano e as diversas vantagens e possíveis riscos de sua popularização.

DM: Qual será o impacto do metaverso na vida das pessoas?

Pedro Henrique Gonçalves: A ideia do metaverso iniciou na década de 1980, com o conceito de ampliação do nosso espaço físico, imaginando que a gente poderia transcender para um espaço virtual. Mas hoje o metaverso tem mais um contexto de um ambiente virtual em que você possa amplificar as interações que temos no nosso cotidiano da vida real. Uma ideia que a gente possa descansar, conversar com outras pessoas, estudar, jogar, criar, construir e vender coisas. Esse processo foi acelerado pela pandemia, hoje fazemos mais atividades on line do que fazíamos há dois anos. Tecnologias computacionais foram construídas para que a gente suprir necessidades que o distanciamento social nos impôs. Aí podemos mudar nossa vida em relação de termos mais tempo na vida virtual do que em relação ao mundo real. E isso já está bem forte, se pararmos para pensar nos jovens que passam muitas horas jogando, não quer dizer que isso seja saudável, mas é uma alteração no nosso ser social e hoje já existem várias empresas que optaram por este uso mais virtual que físico para reduzir custos. Pode mudar vários aspectos de nossa vida, mas isso precisa ser bem trabalhado para que não tenha impacto negativo.

DM: Qual o papel dos jogos para a evolução do metaverso?

PHG: Os jogos foram um dos principais potencializadores da evolução computacional que está nos permitindo hoje o desenvolvimento do metaverso. A gente vai precisar de um poder computacional para conseguir processar tantos gráficos. Temos vários ambientes já criados dentro desse contexto do metaverso, só que muitos deles ainda tem um gráfico, que não é o gráfico real. É um gráfico virtualizado com uma visualização gameficada. Acho que, em breve, a gente vai conseguir imergir em espaços reais, em que a gente vai começar a perder um pouco a noção do que é real e do que é o físico.

DMRevista: Onde o metaverso é usado atualmente?

PHG: As empresas estão dentro desse contexto, o Facebook já está com foco maior no metaverso. Muitas marcas famosas, como Nike, Adidas e Heineken estão criando seus NFT, que é como se fosse um artigo digital que tem registro, para possibilitar uma inserção assertiva neste universo. As empresas também estão fazendo uma economia digital, que são as criptomoedas.

DM: Como está o andamento do metaverso no mercado de Goiânia?

PHG: Eu não conheço muitas iniciativas. O Sebrae hoje tem discutido muito sobre esse mercado. Temos no estado algumas iniciativas voltadas para a inovação. O Governo, com o projeto Escolas do Futuro, que tem uma pegada em cursos nessa vertente digital, em que os alunos vão aprender em realidade eletro virtual, modelagem tridimensional, a UFG também tem laboratórios que incentivam o uso da realidade virtual e possibilitam a modelagem tridimensional.

DM: Há muitos profissionais especializados nessa área em Goiás?

PHG: Há poucos profissionais. A gente conhece um ou outro curso que está respondendo essas demandas. Tem ainda profissionais de qualidade que são puxados para fora do estado. Então há uma necessidade de reforço nesses campos.

DM: Quais seriam os riscos da popularização desta tecnologia?

PGH: A popularização sempre traz dois lados. Tem o lado que não sabemos o que vai acontecer e o lado que sabemos que são as novas possibilidades de acesso e interações com o mundo real e o mundo físico. À medida que isso for evoluindo, problemas vão surgir e a comunidade vai ter que parar e começar a discutir novas regras. A Meta teve um caso recente de uma mulher que foi assediada nesse ambiente e rapidamente alterou as normas dos usuários. A parte boa é que a popularização vai permitir maior acesso à informação, maior controle de nossas informações pessoais e possibilidade de novas interações. Um aluno vai poder ter acesso à mesma aula que um aluno de um país de primeiro mundo tem. Daqui a pouco a gente vai poder ter imersão em uma Roma Antiga e ver como a sociedade evoluiu ao longo do tempo. Imagino que será bem positivo a evolução desse cenário.

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias