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Cientista cogita vida em Marte e Plutão

Na semana passada, a Nasa anunciou a detecção de água congelada em Plutão. Qual a importância dessa descoberta?

Nós já esperávamos por isso. Pelas análises em solo, era provável que a baixa densidade de Plutão fosse causada pela presença de água congelada, mas, até chegar lá e ver, eram só especulações. Agora, nós confirmamos. Com essa informação, sabemos melhor como essa substância está distribuída pelo Sistema Solar. A água, sobretudo a água líquida, é muito importante sob a perspectiva da Astrobiologia para pensar sobre como a vida pode estar distribuída no Sistema Solar, se ela existir além da Terra. Essa visão geral nos mostra que até mesmo em Plutão existe água, apesar de em forma de gelo, e nos diz que, sim, talvez haja vida até nos confins do Sistema Solar.

E o gelo em Plutão é vermelho? É isso mesmo?

Sim! A imagem que divulgamos foi em preto e branco, com o azul apenas para destacar os reservatórios. Na verdade, a região onde encontramos o gelo é bastante avermelhada. Não é azul ou branca, como vemos aqui na Terra.

E como foi feita essa descoberta?

Nós temos um instrumento chamado Leisa (Linear Etalon Imaging Spectral Array) a bordo da espaçonave que, basicamente, pode separar o espectro infravermelho de assinaturas de calor de um determinado alvo. Todo material possui uma composição, uma espécie de impressão digital. Então, nós procuramos por essa impressão digital de água congelada e encontramos nessas regiões.

Há alguns anos, a busca era por água em outros planetas. Agora, encontramos água, ao menos congelada, em todo o lugar. Como se explica isso?

Nossos instrumentos estão se tornando melhores e estamos explorando novos corpos. E nós sabemos um pouco mais sobre o que podemos encontrar, então mandamos instrumentos específicos. A busca principal dos astrobiólogos é por água líquida, o ingrediente mais importante para a vida, mas que nós não devemos encontrar em Plutão. A descoberta é muito importante, até porque estamos encontrando água de Marte a Plutão. Realmente, descobrimos muita água este ano.

Vocês também anunciaram a detecção de uma neblina azul em Plutão. Quais as implicações dessa descoberta para os cientistas?

Existiam teorias diferentes sobre como a atmosfera de Plutão deveria ser. Algumas pessoas pensavam que o corpo seria tão frio que a atmosfera estaria colapsada. Outra indicava a presença de uma atmosfera, o que se comprovou. Mas nunca esperávamos que fosse azul! É interessante. Não vemos tantos pores do Sol azuis no Sistema Solar. Provavelmente, a cor está relacionada com o tamanho das partículas em suspensão, que devem ser minúsculas para permitirem a passagem da luz. Mas é tudo muito recente, precisamos analisar melhor os dados.

Aliás, quando vocês receberão todas as informações captadas pela New Horizons?

A espaçonave vai continuar nos enviando dados ao longo do ano que vem. Nós esperamos fazer o download da maior parte das informações até o fim de janeiro, se tudo correr como o planejado.

E quanto tempo para analisar todos esses dados?

A Voyager alcançou os planetas externos há 30 anos e nós continuamos analisando dados coletados por ela. Nós vamos analisar os dados da New Horizons pelos próximos 50 anos, estou certa disso. Na medida em que melhorarmos o nosso entendimento sobre o Sistema Solar, vamos voltar a essas informações para procurar algo de novo. Até porque não teremos outra missão a Plutão por um longo período.

Os resultados alcançados pela New Horizons podem reverter a classificação de Plutão como planeta-anão?

Eu não acredito que vá mudar o entendimento da União Astronômica Internacional (UAI) sobre a decisão de 2006, mas acho que pode mudar a opinião do público. Mostrar que, apesar de Plutão não ser um planeta, é um lugar interessante.

Qual a importância da missão New Horizons para a astronomia?

A partir de agora, nós podemos dizer honestamente que temos uma boa ideia sobre todos os grandes corpos do nosso Sistema Solar, com exceção de Ceres e alguns satélites. Nós nem sabíamos quão grande era Plutão até a New Horizons chegar lá. No panorama geral, a missão nos ajuda a compreender a nossa História, de como o Sistema Solar evoluiu.

Pessoalmente, o que mais a impressionou em Plutão?

A grande surpresa é Plutão ser tão complicado. Por exemplo, existem regiões com crateras e outras sem nenhuma! A ausência de crateras é interessante por nos dizer que, literalmente na borda do Sistema Solar, sem nenhum grande planeta por perto, existem processos geológicos ativos. Então, o que mais me impressionou foi vermos Plutão, um corpo tão distante, que foi chutado da designação de planeta, quase sentimos pena dele e, quando chegamos lá, encontramos um lugar fabuloso! Está nos ensinando sobre geologia, ciência de materiais, e ainda teremos muitas surpresas de lá e de Caronte, mas sobretudo de Plutão, que certamente não nos desapontou.

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