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O novo vírus Chapare, causador de febre fatal com transmissão entre humanos

Nesta semana durante o encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene pesquisadores confirmaram o primeiro caso de transmissão entre humanos, registrado na Bolívia, de um vírus raro que causa febre hemorrágica e pode levar à morte.

O surto ocorreu no ano passado, na província de Caranavi, no departamento de La Paz. A transmissão ocorreu quando dois pacientes com febre hemorrágica Chapare, doença causada pelo vírus Chapare, infectaram três profissionais de saúde (um médico residente, um médico de ambulância e um gastroenterologista). Três dos infectados pela vírus morreram, entre eles dois médicos.

O Chapare é da mesma família dos arenavírus, que é um vírus responsável por ocasionar diversos tipos de febre hemorrágica. A forma de transmissão dos arenavírus costuma ser através do contato direto com roedores infectados, como mordidas ou arranhões, e também pelo contato com saliva, urina ou fezes desses animais.

A documentação do caso veio através da parceria entre pesquisadores do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos), do Centro Nacional de Doenças Tropicais da Bolívia e da Organização Pan-Americana de Saúde.

Segundo a virologista Maria Morales-Betoulle, uma das cientistas do CDC que participou da pesquisa, possivelmente a transmissão entre humanos ocorra por meio de fluidos corporais (como sangue, saliva, urina, sêmen e secreções) ou contato com objetos contaminados com fluidos corporais, inclusive durante alguns procedimentos médicos, como intubação. Afirmou ela em entrevista para a BBC News Brasil .

Porém a pesquisadora e outros cientistas ressaltam que devido ao pequeno número de casos documentados, ainda há necessidade de mais pesquisas para compreender como o vírus se propaga e causa a doença.

O Diagnóstico e possíveis outros casos

Em um momento em que o mundo está voltado para a pandemia do novo Coronavírus, cientistas como Morales-Betoulle também trabalham para identificar possíveis novas ameaças.

O pesquisador reconhece que vírus transmitidos por fluidos corporais costumam ser contidos com menos dificuldade do que aqueles transmitidos pelo ar, como o coronavírus. Porém com a descoberta de que Chapere pode ser transmitido entre humanos causa um alerta sobre a possibilidade de surtos maiores no futuro.

Em 2003, o CDC afirma que houve outro registro da doença, também na Bolívia, na província de Chapare, no departamento de Cochabamba. Em que o paciente morreu 14 dias após o surgimento dos sintomas.

Para os cientistas existe a possibilidade de que, nesse período de 16 anos entre o caso inicial e os de 2019, o Chapare tenha se confundido com outras doenças, o que o impediu de ser identificado.

Nos casos de 2019, os sintomas apresentados pelos pacientes eram principalmente febre, dor abdominal, vômito, sangramento das gengivas, erupções cutâneas e dor atrás dos olhos. No registro, o primeiro paciente foi inicialmente diagnosticado com dengue, como afirma Morales-Betoulle.

O virologista relata que "O primeiro infectado era um trabalhador agrícola. Ele ficou doente, foi ao hospital, recebeu diagnóstico de dengue e foi enviado de volta para casa. Como continuava a piorar, retornou ao hospital", disse.

À época o genro desse paciente, que trabalhava com ele na lavoura, também foi infectado. Morales-Betoulle afirma que o genro passou a noite no hospital ajudando a cuidar do sogro, e tem possibilidade de que tenha sido contaminado por lá.

Também há evidências de que roedores na região do surto estivem contaminados. Porém não há confirmação de que eles foram os causadores da doença.

A doença ainda não tem tratamento, sendo assim, os pacientes recebem apenas cuidados para aliviar os sintomas, como fluidos intravenosos e remédio para aliviar a dor.

Conforme o OCD, por conta das poucas vezes que casos foram registrados, as informações sobre o período de incubação (entre a exposição inicial e o desenvolvimento de sintomas) e a progressão da doença são limitadas.

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