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A “mudança” da Capital, na visão de J.G. Coelho Mendonça

Licínio Barbosa Especial para  Opiniãopública

Lançado há cerca de um ano, A Invenção de Goiânia – O Outro Lado da Mudança, do historiador J.G. Coelho Mendonça continua a repercutir, favoravelmente, na imprensa local. De início, o extenso artigo de Jefferson Bueno, “Um Tributo a Pedro Ludovico Teixeira”, página inteira do Diário da Manhã de 26.12.2013, pág. 4. A seguir, veio o artigo intitulado “Invenção de Goiânia”: Tributo à Verdade Histórica”, de Marcantônio de La Côrte”, também publicado no Diário da Manhã, pág.2, edição de 05.01.14. e, mais recentemente, o artigo “Goiânia – O Outro Lado da Mudança”, 11.01.15, pág. 1, Caderno OpiniãoPública, de Breno Caiado.
Essa obra, importante para conhecimento da odisséia da “Mudança”, teve sua origem numa tese de Doutorado do então doutorando da Faculdade de História da UFG, e surgiu, embrionariamente, como a monografia intitulada “A Assembléia Constituinte Goiana de 1935, e o mudancismo condicionado”, que, sob a segura orientação do Doutor Noé Freire Sandes, seria aprovada perante a Douta Banca de Doutorado na Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás.
Na “orelha”, o ilustre Doutor Nasr Fayad Chaul assinala que, “a tese de Doutorado que ora se transforma em livro, vem a se somar ao universo dos questionamentos de temas antes consolidados na historiografia goiana”. E acrescenta, de maneira pertinente: “Poucos foram os temas que tiveram tanta produção e pesquisas nas últimas décadas como o foi a ‘Construção de Goiânia e a Transferência da Capital em seus variados enfoques”.
Por sua vez, na correta Apresentação da obra, a douta Profª Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, titular (ora aposentada) da UFG, assinala que, “em meio a profunda crise política, a efetivação da mudança da Capital de Goiás é, afinal, viabilizada com o decreto número 1.816, de 23 de março de 1937. O projeto de lei em tramitação na Assembléia Legislativa, com esse objetivo, simplesmente desaparece. No decreto, foi ignorado o disposto na Constituição Estadual, bem como esquecida a existência de promessas formais dos governantes. Com efeito, não se concretizaram as compensações à Cidade de Goiás, nem atendidas as reivindicações há muito reclamadas pela população villaboense. Relativamente à antiga Capital, prevaleceu, afinal, uma política de terra arrasada, que somente em dias futuros haveria de amenizar-se “ (pág.18).
Já no Prefácio, o douto Orientador da tese, Doutor Noé Freire Sandes, assinala que “a tese de Jales Guedes Coelho Mendonça tem o claro objetivo de palmilhar o tempo da mudança, atento ao que nele se apresenta como traço de continuidade, o outro lado. A construção da nova capital, como projeto político, se espraia em duas direções: Desde o fim do Século XVIII, a idéia da mudança se assemelha a uma iluminação utópica. Na década de 1930, a utopia se transforma em projeto político tenazmente defendido por Pedro Ludovico. Mais uma vez, os dois tempos se afastam por meio de um recorte temporal que institui a Revolução de 1930, como marco de passagem para o Brasil moderno” (pág.22).
A obra, que compreende 681 páginas, se acha estruturada em 5 (cinco) capítulos, e as Considerações Finais, acrescidas de créditos das imagens, entrevistas, periódicos, arquivos e arquivos eletrônicos.
No Capítulo I, cuida, o autor, da “Experiência republicana em Goiás: Oligarquias e partidos políticos, enfocando “breve panorama do Estado de Goiás no quadro político federativo (1889-1937), “a árdua missão oposicionista”, o “Partido Democrata: A inusitada união de Bulhões, Caiado e Ludovico, e a Revolução de 1909”; “A ‘salvação nacional ‘hermista alcança Goiás: O fim da oligarquia bulhonista?”; “O Partido Republicano de Goiás de 1916 e o modus vivendi articulado por Wenceslau Braz”; “O Partido Republicano Independente de 1924: A tentativa de protagonismo do Sudoeste”; “A refundação do Partido Republicano de Goiás em 1927”; “O Partido Republicano de Goiás no poder: Chega o crepúsculo às trincheiras democráticas”; o “Partido Social Democrático e a formação da Coligação Libertadora”. Segue-se a este capítulo o primeiro Caderno de imagens.
No Capítulo II, intitulado “a escolha do local da nova Capital”, o autor focaliza “a experiência além-Paranaíba: um espelho para Goiás”; “a experiência aquém-Paranaíba”; “o memorial Haas”; “a disputa entre os municípios goianos”; “a Comissão e a Subcomissão: Entre a política e a técnica”; “A preferência pela cidade neutra”; “Os dois Relatórios da Subcomissão”; “A indignação do prefeito de Bonfim: e a técnica”?
No Capítulo III, destaca-se o “Mudancismo condicionado: Construir sem destruir”, em que se embutem “a convocação centristade Ignácio Xavier da Silva: In médio est virtus, a milenária parêmia aristotélica; se enfoca “o futuro de Villa Boa: Centro de educação e cultura”; “Os compromissos ludoviquistas”; O “veto à indenização aos proprietários”; “A luta pelo saneamento ambiental”; “As balizas legais do mudancismo condicionado”; “O emblemático posicionamento de Mário Caiado”; “As eleições em Villa Boa na década de 1930; “o “Mudancismo incondicionado: Destruir para construir”.
A seguir, o segundo Caderno de imagens.
No Capítulo IV, estuda-se a Constituinte Goiana de 1935 e a Mudança da Capital, compreendendo a “instalação da Constituinte”, “a posse do Governador e a promessa de pacificação”; uma vista d’olhos sobre “os antepassados”; “a trajetória da proposta de mudança na Constituinte e os debates parlamentares”; e, por último, um estudo sobre “a Constituinte Estadual de 1935: Fonte normativa legitimadora da transferência”.
No Capítulo V, estuda-se a “Mudança sem Lei”, onde são enfocados os temas: “A trajetória do projeto de lei número 1 (de 07 de julho a 14 de agosto de 1936); “a trajetória do projeto de lei número 1 na Assembléia Legislativa – Parte II (de 15 de agosto a 30 de setembro de 1936) um estudo sobre “o Decreto e a Lei”; “O gesto de reassumir; “O veto aos desembargadores”; “A dimensão da compensação ao município e Goiás” (da Cidade de Goiás); por último, um estudo sobre “o poder legislativo (que) não regulamenta a Mudança difinitiva”.
Nas Considerações Finais, o ilustre autor conclui:
“Consoante ressaltou Paul Ricoeur, a partir de agora, a presente tese faz-se documento, permitindo uma série de reinscrições que submetem o conhecimento histórico a um processo contínuo de revisão. Por fim, acreditamos que o resgate dos quatro momentos de tensão que marcaram o percurso mudancista goiano dará um novo alento aos estudos históricos atinentes ao tema. As interpretações lançadas, assentadas em copiosa documentação e profusa investigação, dialogam com os paradigmas propostos por Paulo Bertran, especialmente o concernente ao denominado ‘buraco negro’ de Goiânia, e abrem uma outra perspectiva de compreensão da História de Goiás, restituindo sentido à ação política de personagens de um tempo e de um lugar não tão distantes da moderna capital” (pág.644).
Com essa obra de envergadura, que não é apenas uma mera manifestação opiniática, mas um estudo profundo, calcado em farta documentação, sob a segura orientação de um Doctor, e submetido ao severo crivo de uma conspícua Banca de Examinadores, é uma referência que se junta aos demais estudos sobre esse permanente tema de perene discussão, que transcende os lindes meramente históricos e geográficos, para ganhar o terreno da Sociologia, da Economia e seus desdobramentos.
Diante desse estudo profundo, só nos resta almejar que as gerações de agora e do futuro venham abeberar-se desse manancial de Sabedoria para a correta compreensão dos seus fundadores e dos que vieram a aprimorar a nossa Capital do Estado de Goiás. Uma verdadeira metrópole com apenas 80 anos de dinâmica existência.

(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35. E-mail [email protected])

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