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Anticoncepcionais aumentam risco de trombose

Divania Rodrigues,Da editoria de Cidades

Depois de desenvolver trombose venosa cerebral por fazer uso de anticoncepcionais, a professora universitária Carla Simone Castro, 41 anos, se juntou a uma luta que espera levar informações às mulheres evitando que passem pelo que passou. Sua história ficou conhecida em setembro do ano passado quando ela divulgou um vídeo para tranquilizar os alunos e amigos sobre seu estado de saúde e explicar o que havia acontecido. De lá para cá, a questão repercutiu e tem sido debatida e acompanhada mais de perto pela sociedade.

Nesta semana um estudo realizado por pesquisadores britânicos e publicado na revista The BMJ Today, especializada em saúde, afirma que os anticoncepcionais mais recentes aumentam o risco das usuárias desenvolverem trombose venosa. O resultado corrobora um estudo dinamarquês publicado em 2011 e com pesquisa francesa, apontando que o risco de embolia pulmonar era duplicado em mulheres que faziam usa das pílulas de nova geração.

Conhecidos como anticoncepcionais de 3ª e 4ª geração esses contraceptivos orais combinam as substâncias drospirenona, desogestrel, gestodeno e ciproterona. Já os medicamentos mais antigos, e 1ª e 2ª geração contêm levonorgestrel, noretisterona ou norgestimata. A geração mais moderna foi melhorada para tentar limitar os efeitos colaterais relacionados a altas doses de estrogênio, como inchaço, náuseas e enxaquecas.

Conforme os pesquisadores britânicos, as usuárias das pílulas modernas têm o risco 1,5 a 1,8 vezes aumentado com relação às mulheres que tomam os medicamentos antigos. Portanto a 3ª e 4ª geração quase dobram as chances do desenvolvimento de trombose venosa se comparado aos primeiros a serem lançados no mercado. Quando a comparação é realizada com mulheres que não fazem uso das pílulas anticoncepcionais o risco é quatro vezes maior para o desenvolvimento da doença.

A pesquisa observou dados médicos de mulheres entre 15 e 49 anos e mostrou que houve mais casos de mulheres que faziam uso de anticoncepcionais modernos e que desenvolviam a trombose do que nos casos de usuárias de pílulas antigas. Por ano, a cada 10 mil mulheres foram encontrados 14 casos de mulheres que ingeriam medicamentos de 3ª e 4ª gerações, enquanto apenas seis faziam uso dos primeiros remédios.

Medidas contrárias

Na França, entre 2012 e 2013, os problemas relacionados aos anticoncepcionais orais foram amplamente discutidos pela sociedade, pelo sistema de saúde e autoridades sanitárias. Em março de 2013 o governo retirou o subsídio que reembolsava mulheres que compravam as pílulas da nova geração, por causa dos riscos cardiovasculares. A pressão levou a uma redução na comercialização das pílulas mais recentes em até 25%.

Página debate problema na rede social

O movimento tem ganhado força e repercutido nos meios de comunicação do País, garantindo que mais mulheres tenham informações a respeito da importância que o método de contracepção, que escolhe juntamente com seu médico ginecologista, pode ter ao evitar que desenvolva trombose. Depois de ter sua vida transformada pela trombose, Carla Simone Castro ajudou a fundar a página do Facebook “Vítimas de anticoncepcionais”, que tenta alertar as brasileiras sobre o risco de problemas cardiovasculares relacionados ao uso dos medicamentos e movimenta informações a respeito de novidades a respeito do assunto.

A professora universitária explica que já voltou a lecionar, mas que ainda aguarda para realizar uma segunda cirurgia que provavelmente será realizada em outubro. Para ela esse estudo recente ajuda a comprovar que é necessária uma medida por parte das autoridades no sentido de aumentar o esclarecimento das pacientes e o engajamento dos ginecologistas para saber se a mulher para quem ele está receitando o medicamento têm predisposição à trombose.

Danielle Fortuna, esteticista de 29 anos, desenvolveu trombose na perna aos 18 anos, ainda em 2003. Exames comprovaram que ela não poderia tomar os anticoncepcionais que tomava e para encorpar o movimento ela criou na internet um abaixo-assinado endereçado ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que pede medidas para tentar resolver o problema. Em pouco mais de duas semanas quase 30 mil pessoas apoiaram a iniciativa, que pretende chegar ao número de 35 mil assinaturas.

Os hormônios que são a base dos anticoncepcionais interferem na formação de coágulos sanguíneos que podem se formar sem que haja sangramento, causando o entupimento de veias e artérias (trombose) ou mesmo interferir na circulação sanguínea. Os especialistas são categóricos ao afirmar que o risco é baixo e que nem todas as mulheres que fazem uso dos medicamentos desenvolverão a doença, sendo que o risco é maior para aquelas que já têm predisposição.

PREDISPOSIÇÃO

Esse é um dos pontos pelos quais o movimento luta, já que a partir de exames é possível verificar se uma mulher tem predisposição para a doença. Carla Simone explica que a intenção é que o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomende que médicos passem a pedir a realização de exames de trombofilia antes de receitar anticoncepcionais para suas pacientes.

Ela ainda informa que no dia 9 de junho ocorrerá na Câmara dos Deputados uma audiência pública para discutir o tema com autoridades de saúde. Na oportunidade, ela pretende demonstrar a necessidade da realização dos exames antes de prescrição pelo ginecologista, da obrigatoriedade de notificação dos casos de trombose relacionada ao uso dos anticoncepcionais, da impressão de alertas nas embalagens dos medicamentos.

Apesar do risco real, casos são raros

Os pesquisadores e especialistas apontam, porém, que apesar de ser um risco real a chance do desenvolvimento da doença ainda é baixo e os casos são considerados raros. Ainda lembram que medicamentos são seguros, porque o risco de trombose é maior para uma mulher grávida (10 vezes maior) do que para aquelas que fazem uso das pílulas contraceptivas modernas, portanto os benefícios superariam os riscos.

A página “Vítimas de anticoncepcionais”, criada a menos de um ano, conta com cerca de 1.400 depoimentos de mulheres que teriam desenvolvido trombose por causa da medicação que ingeriam para evitar a concepção. Apesar dessa quantidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) explica que poucos casos são notificados porque a comunicação é voluntária.

Em setembro do ano passado, em resposta à reportagem, a agência esclareceu que “no Notivisa, tivemos, no período de 2009 a 2014, três relatos de eventos tromboembólicos, desses dois tiveram sua causalidade confirmada e relacionada ao medicamento Yasmin. Já no Periweb, em 2013, foram encontradas cinco, todas com causalidade relacionada ao medicamento”. Ainda lembrou que a associação entre eventos tromboembólicos e anticoncepcionais é conhecida e encontra-se descrita nas bulas dos medicamentos.

REPERCUSSÃO

Em outubro do ano passado, quando o assunto começou a ganhar repercussão, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) emitiu seu posicionamento a respeito perfil de segurança dos anticoncepcionais orais. Marta Franco Finotti, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da entidade e então professora adjunta da Disciplina de Ginecologia do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), esclareceu que os medicamentos eram seguros.

Ainda expôs que conforme “os Critérios Médicos de Elegibilidade para uso de Métodos Anticoncepcionais da Organização Mundial de Saúde (OMS), na sua última edição, exames de rotina para rastreamento de trombofilias não são adequados, por causa da raridade das condições e o alto custo dos exames.” E que os medicamentos são contraindicados apenas em casos de antecedente pessoal de acidente vascular cerebral (AVC), antecedente pessoal de trombose venosa profunda (TVP), embolia pulmonar (EP) e cirurgia de grande porte com imobilização prolongada.

Não havendo contraindicações a médica esclarece que a escolha da paciente deve ser o principal fator de prescrição do método contraceptivo.

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