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Papa ensina cinco lições para ser um líder

Da Redação

A postura do papa Francisco está alinhada com as teorias mais recentes de liderança. Um chefe que escuta a equipe e leva suas opiniões em consideração antes de decidir, que não se comporta como se fosse melhor que os outros por causa de seu título e que, ao mesmo tempo, demonstra firmeza e chama a responsabilidade para si.

Suas lições são ensinadas da forma que, segundos especialistas em gestão de pessoas, é a melhor possível: pelo exemplo. Da observação de seu comportamento foram extraídas 12 lições de liderança, apresentadas em um livro que acaba de ser lançado: Lidere com Humildade, de Jeffrey A. Krames, da Editora Planeta.

A seguir, cinco das 12 lições presentes no livro para começar a exercitar atitudes de um líder contemporâneo.

Humildade

O papa Francisco acredita que, acima de todas as demais qualidades, a humildade autêntica é a que mais capacita os líderes. “Se conseguirmos desenvolver uma atitude verdadeiramente humilde, poderemos mudar o mundo”, escreveu o papa, antes de ganhar esse título na igreja.

“Mesmo quando estava para ser apresentado pela primeira vez (como papa), ele se recusou a usar uma plataforma que o elevaria acima dos outros cardeais, preferindo permanecer na mesma altura que eles. ‘Vou ficar aqui embaixo’, foi o que ele disse, segundo relatos”. Depois pediu que rezassem por ele antes de dar a bênção papal à multidão, quebrando, mais uma vez, a tradição”.  O trecho, publicado no livro, foi reproduzido de uma reportagem.

O recado do papa é claro. Tome cuidado para não tomar atitudes que transmitam a seus subordinados a mensagem de que você está acima deles. Para evitar esse comportamento no mundo corporativo, algumas ações valem mais do que longos discursos. Trocar seu imponente escritório por uma sala interna ou até mesmo um cubículo é uma das ideias sugeridas no livro.

Outra sugestão de comportamento capaz de expressar a humildade de um líder envolve um ponto sensível no mundo dos negócios: o bolso. “Eles (os gestores) podem reduzir o próprio salário. Cada vez mais líderes recebem apenas US$ 1 por ano, já que normalmente ganham milhões em opções de compras de ação”, escreveu Krames.

Julgamento

Para o papa Francisco, as palavras são tão importantes quanto as atitudes. Por isso, ele parece escolher com cuidado cada frase dita em seus livros e discursos religiosos.

“Não julgue, avalie”. Para o papa, os verbos "julgar" e "avaliar" têm claramente sentidos distintos. Em teoria, é um senso comum dizer que não se deve julgar os outros. Na prática, no entanto, opinar sobre o comportamento alheio, especialmente pelas costas da pessoa em questão, é algo corriqueiro nos corredores das empresas.

Avaliar, por sua vez, é função do líder em tempo integral. A diferença entre as duas atitudes pode parecer sutil. Mas não é. Enquanto julgar se aproxima da fofoca e demonstra imaturidade profissional, avaliar exige discernimento, cuidado e senioridade.

Como exemplo, apresentado no livro, é citado o episódio em que Francisco fez uma avaliação severa do então “bispo da ostentação”, Franz-Peter Tebartz-van Elst, por causa de seus gastos excessivos na construção de um centro religioso. Decidiu, portanto, que ele não era o tipo de líder que se ajusta a sua visão de uma igreja voltada a ajudar os pobres e menos favorecidos.

Mesmo assim, o papa nunca criticou pessoalmente o ex-bispo. Sua avaliação foi de que as escolhas do bispo simplesmente não se adequavam à visão de Francisco para a Igreja Católica. Com isso, em 23 de outubro de 2013, Tebartz-van Elst foi suspenso do exercício de seu ministério.

Isolamento

Uma instituição aberta a pessoas de todas as esferas da vida e que busca ajudar todo tipo de gente, onde quer que estejam, não pode se isolar. O mesmo vale para o líder de uma empresa ou setor.

O papa Francisco escreveu de maneira abrangente sobre o conceito do isolamento ao longo de sua vida, embora não tenha usado essa palavra específica. A essência das ideias difundidas por ele é a de que um líder deve falar com pessoas dentro e fora da sua organização, de preferência de religiões diferentes do país e ao redor do mundo.

Ele afirma que o verdadeiro diálogo só pode ocorrer quando todos respeitam os outros e ouvem com a atitude de que todos têm algo importante e pertinente a dizer. “Essa postura reforça as raízes de Francisco, baseadas em respeito, dignidade e humildade para consigo mesmo, os outros e Deus”, escreveu o autor.

Logo depois de ser eleito papa, na Praça São Pedro (no Vaticano), Francisco fez um pedido incomum que exemplifica a importância dada a todos que estão ao seu redor: “Antes que o bispo abençoe seu rebanho, peço que vocês rezem para que o senhor me abençoe. A oração do rebanho pedindo a benção de seu bispo”.

Pragmatismo

No jornal argentino El Jesuíta, Francisco foi citado dizendo: “Eu não tenho todas as respostas. Sequer tenho todas as perguntas e novas perguntas estão sempre surgindo. Mas as respostas têm que ser pensadas de acordo com as diferentes situações, e também é preciso saber esperar por elas”.

O líder religioso incentiva os líderes religiosos a fazerem o que for necessário (dentro dos limites da ética) para ajudar uma pessoa por vez. E, se ao fazê-lo, o líder tiver que entrar na lama metafórica – ou até literal –, tanto melhor. “A questão não é usar ou não a batina, mas se você arregaça as mangas quando tem de trabalhar pelo bem dos outros”.

Em seu discurso religioso mais citado, Francisco se dirigiu a igreja como um todo, dizendo: “(...) Prefiro uma igreja machucada, ferida e enlameada por ter saído pelas ruas, a uma igreja enferma devido ao confinamento e apego à própria segurança. Não quero uma igreja preocupada em ficar no centro e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.

“Francisco demonstra seu pragmatismo de muitas maneiras. Ele sabe e reconhece que o mundo é um lugar diversificado, e que o ponto de inflexão estratégico da igreja é composto de definições em rápida evolução do ‘novo normal’ por parte das várias culturas”, diz o autor do livro.

Como exemplo da evolução do "novo normal", ele cita casamentos e uniões não tradicionais, o crescente papel da tecnologia na vida cotidiana e a maior ênfase dada hoje às questões ecológicas. E completa: “Ele sabe que para atingir seu objetivo de criar uma igreja mais aberta e acolhedora, deve romper com as partes mais severas e rigorosas da doutrina da Igreja e levar em consideração mudanças que seriam impensáveis antes dele”.

Viva na fronteira

Francisco, ao mesmo tempo em que exerce o poder, também vive de acordo com um código radical de humildade que ele mesmo se impõe. Isso é viver na fronteira.

Krames define Francisco como um líder tridimensional, “muito mais que uma figura gentil e afável que passa o dia inteiro envolvido em atos de humildade”. É a sua humildade que o coloca na fronteira. Ele age com autoridade, coragem e sabedoria da experiência, mas dá espaço pra outras ideias, porque sabe que é impossível saber todas as respostas.

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