Beto Silva,Da editoria de Cidades
Integrantes da Polícia Civil estão preocupados com a escalada de homicídios e violência em Goiás. A cada veiculação do Mapa da Violência, pesquisa quantitativa realizada pelo governo federal com apoio da Unesco, os agentes de segurança pública do Estado ficam atônitos.
E o motivo é claro: nas duas últimas décadas, Goiás saiu de uma posição discreta e privilegiada nas taxas de mortalidade homicida para figurar no topo dos Estados com maiores índices de homicídio. De ilha pacífica, portanto, o Estado se transformou em cenário de tragédias e mortes que se repetem até as autoridades ficaram omissas e caladas.
Nunca se matou tanto como agora, insinuam as pesquisas sociológicas divulgadas em todo País. Dessa vez, não é apenas a comunidade acadêmica e políticos que denunciam a escalada de mortes em Goiás. Os policiais apontam falta de estrutura para trabalhar e esgotamento dos investimentos na área de segurança pública. A crise apontada por integrantes da Polícia Civil coincide com as denúncias de que o sistema prisional de Goiás esteja falido, o que motiva inúmeras fugas.
Casos conexos ocorrem praticamente todos os dias: criminosos que fugiram de presídios saem para matar desafetos e praticar novos crimes. Se junta a isso a incapacidade de realizar investigações adequadas.
Em entrevista ao DM, o deputado federal João Campos disse que a classe policial precisa de mais investimentos e efetivo para conseguir um trabalho de enfrentamento eficaz contra a escalada de homicídios.
O parlamentar alerta: não é apenas a questão de fronteira que tem multiplicado os casos de violência. E ele cita que São Paulo e Rio de Janeiro, em vez de aumentarem seus índices de homicídio, têm diminuído drasticamente. Para ele, é a prova mais contundente que gestão pode mudar a realidade social. Mas ao mesmo tempo o político reconhece que Goiás não tem recursos suficientes para atender aos complexos problemas que surgem.
Iraque
O “Mapa da Violência 2015: mortes matadas por arma de fogo” trouxe dados alarmantes para Goiás: o Estado saiu da 11ª colocação para a 6ª no ranking nacional da violência no comparativo entre 2002 e 2012. Ou seja, até a década de 2000, o Estado apresentava uma qualidade de vida pacífica que hoje não se tem mais. Para se ter ideia, Goiânia é uma cidade mais violenta do que Rio de Janeiro e países em guerra, como o Iraque. Com tamanha quantidade de homicídios, Goiás tem chamado a atenção de pesquisadores e estudiosos de criminalidade e violência não só do Brasil, mas do mundo.
O Fórum Internacional de Segurança Pública do México, durante a realização de grupos de estudos, tem se debruçado sobre a nova violência das metrópoles da América Latina. As modulações de Goiânia e região do Entorno do Distrito Federal são algumas das mais debatidas nos simpósios.
NÚMEROS
- Em 2012, ocorreram 31,7 mortes por arma de fogo para cada 100 mil habitantes em Goiás.
- Em Goiânia, esse índice é ainda mais preocupante: 43.
- Goiânia saiu da 13ª colocação em 2002 e chegou à 9ª em 2012
Antes de 2000
- Goiás tinha de 6 mil policiais
Em 2012
- Estado tem 3.200 policiais
“Policial civil tem em Goiás uma das piores carreiras do País”
Para o Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO), os dados do mapa expõem a sistemática redução nos investimentos nas forças de segurança no Estado. A entidade relata que existe uma matemática perversa: aumentou a população de Goiás, mas o governo de Goiás diminuiu drasticamente o quantitativo de policiais. Justamente quando a situação piorou, piorou também a qualidade de combate.
Presidente do Sinpol, Paulo Sérgio Araújo afirma que o estudo traduz em números o que o policial vive em seu cotidiano: "Nosso efetivo na Polícia Civil é de cerca de 3.200 policiais para uma população de 6,5 milhões de habitantes, ao passo que em 1998 era de 6 mil, quando aqui viviam de 4,7 milhões de pessoas. Precisaríamos de cerca de 10 mil policiais para atender à crescente demanda gerada pela escalada da violência, além de melhor estrutura de trabalho", avalia.
Pelas contas dos policiais, entre 1998 e 2015, a população aumentou quase 40%. Mas o efetivo policial estaria 45% menor. "O policial civil tem em Goiás uma das piores carreiras do País: além dos baixos salários, convive com excesso de horas extras, submete-se ao chamado plantão de sobreaviso (quando não trabalha, mas tem de ficar em casa à disposição) sem a devida remuneração e enfrenta um plano de carreira há muito tempo desatualizado. Infelizmente, quem paga pela precarização da polícia é o cidadão, que perde três vezes: quando paga impostos elevados, quando tem de bancar a segurança privada e quando é vítima da violência que a ONU agora revela", diz Araújo.
O Sinpol ajuizou Ação Civil Pública contra o desvio de função de agentes da Polícia Civil, que, por conta da superlotação nos presídios, acabam tendo de fazer guarda e transporte de presos em delegacias.
Por conta da falta de estrutura e de pessoal, existem hoje em Goiás 23.500 mandados de prisão em aberto.