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COTIDIANO

Um mundo novo e perigoso se apresenta

No livro “Admirável Mundo Novo”, de 1932, Aldous Huxley alerta através de uma ficção futurista: em uma época não muito distante as pessoas serão pré-condicionadas  a viverem em harmonia com as leis.  Na sociedade organizada por castas, os ruídos, anomias e violências seriam controladas a partir dos instrumentos da biologia e aparatos psicológicos.  Capacetes, peles de eletrodos, corações artificiais...tudo estará à venda, acoplados à mochilas, roupas e multiequipamentos.

Essa sociedade não é impossível. As últimas invenções da modernidade nos levam a um ideal de transformação e aventura capazes de impor o controle.  O recente resgate dos estudiosos de comunicação quanto a obra de  Marshall McLuhan faz a sociedade antever e comprovar novamente suas premonições midiológicas: as máquinas tornaram-se extensões dos homens. E a aldeia global emulou sua própria realidade.

E quando Marshall McLuhan diz que o meio é a mensagem, ele, de fato, diz que a tecnologia, que produz o meio, torna-se  o conteúdo da informação.  Em que pesem as críticas consistentes ao trabalho de McLuhan, principalmente as desferidas por Umberto Eco e Raymond Willians, o que se vê é uma sociedade em busca de um determinismo tecnológico, cada vez mais tarada em bugigangas e distante de antigas criações humanas, como livros, esculturas e sinfonias.  O blu-ray interessa mais do que o ‘chiaroscuro’.  Steve Jobs é um gênio tão importante quanto Van Gogh.

Na vida concreta, é inegável o aparecimento da ciberurbe, de novos formatos de encontros sociais como os flashmobs e a consolidação da cibercultura, seja através do devir ciborgue seja o novo estágio reflexivo do pensamento tecnológico, que permite a criação dos conceitos de ciberdemocracia ou cibercidadania.  O fato determinante, todavia, continua sendo a clara instrumentalização da tecnologia. Ela é um inegável instrumento do capitalismo, que visa, antes de tudo, manter sua equação produtiva.

Ao sair pelas ruas, você ainda não encontrara o ‘admirável mundo novo’, mas ele se anuncia. E quando menos se esperar, as ruas de uma metrópole como Goiânia, por exemplo, estarão infestadas de novos produtos, gadgets e equipamentos produzidos para manter o sistema como exatamente está.

A missão da tecnologia será, sem sombra de dúvidas,  a reconstrução do argumento do sistema produtivo para manter o pré-condicionamento que é suscitado na obra de Aldous Huxley.   Em 1962 quando Morton Heilig criou o ‘sensorama’, protótipo de uma máquina geradora de realidade virtual, o que se buscava era uma segunda etapa do discurso fáustico de Theodor Adorno e Max Horkheimer.

Um leitor comum, uma pessoa já costumada aos smartphones e  GPS, deve aqui pensar: “que diabos tenho a ver com estas mudanças?”  A adoração das redes e da tecnologia levam a crer que existe ao menos uma fantasia emancipadora na tecnologia: um racionalismo calculista pode dizer que ficaremos mais inteligentes com as máquinas, todavia as pesquisas produzidas no âmbito das faculdades de educação mostram o contrário: acentuada queda na qualidade da leitura.

A semana que se inicia traz ainda a repercussão do surgimento dos garçons-robôs na China.  Ao aprofundar a tese de que as redes de computadores democratizam a informação, o sistema financeiro trouxe também um fato pouco mensurável: a desconstrução do trabalho, o mesmo que foi a base do capitalismo tradicional durante séculos, será agora a vítima do capital, que será cada vez mais virtual e transnacional.

Agora, com as transformações, estão ameaçadas as antigas formas de sociabilidade, os antigos modelos de relacionamento e, claro, o mecanismo do trabalho.   As recentes invenções, as que estão para chegar e as pesquisas – todos em conjunto – determinam interesses econômicos por trás que despertam em seus ideólogos uma defesa sem reflexão, um fetiche sem cerimonailzações.

Assim, a maioria dos nerds, dos hackers e de toda a cibercultura está enviesada nas mesmas concepções de Morton Heilig, sem saber o que está por trás de cada engrenagem, chip ou novos biofármacos produzidos para o mercado. A realidade virtual não emancipa. Antes, conforma, entorpece, deforma.

Para não ter nenhuma dúvida do que está para chegar às lojas mais próximas da sua casa, além do tênis sintético de R$ 5 mil e do relógio invisível de R$ 15 mil, o DM selecionou um ‘recorte’ do futuro-agora. Nele, você terá seu próprio helicóptero, uma internet cerebral, chips implantados no corpo com capacidade de processamento de informações e inúmeros produtos que aos moldes da cultura da informática tornam-se obsoletos sempre que um arquivo é descontinuado.

O capitalismo nos promete fascinantes viagens, como aquela do Titanic. E nos cobra para isso. Em troca, fornece o direito, que é uma garantia mínima de que não se mede o tamanho da indenização, mas que ela será paga para um dos seus descendentes.

FIQUE POR DENTRO

Garçom robô

garcom

Para quando: agora

A China começou, na semana passada, a utilizar robôs em restaurantes. Eles atuam como garçons. Uma empresa já começou a distribuir a linha de produção. Existe uma cadeia de restaurantes que utiliza uma máquina robô para fazer macarrão. O chef de cozinha robô já é uma realidade, ao orientar as cozinheiras, testando inclusive o gosto dos alimentos. O Dalu Robot Restaurant em Jinan, capital da província de Shandong, conta com sete robôs. A proposta do empresário para 2017 é inaugurar um restaurante onde apenas robôs  fiquem no local.

Coração artificial

coracao

Para quando: agora

Inúmeros cientistas pesquisam o coração artificial, desde a década de 1960. Mas agora eles estão cada vez mais aptos a substituírem o coração doente.  Nos Estados Unidos, o pastor Troy Golden viveu por um ano com o aparelho.  No Brasil, a ideia é utilizar o equipamento enquanto o paciente aguarda a fila de transplantes. No caso de Troy, o peso do equipamento era de 7 quilos. O modelo brasileiro executado pelo Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese foi criado pelo engenheiro Aron de Andrade. O equipamento custa R$ 50 mil.

Seu próprio helicóptero

helicoptero

Para quando: 5 anos

O trânsito nas ruas estará cada vez mais caótico muito em breve. Por isso, o japonês Gennai Yanagisawa criou o helicóptero pessoal. Dono da Gen Corporation, ele afirma que o equipamento pesa 75 quilos e voa a até 100 Km/h com uma pessoa de até 140 quilos. O Gen H-4 chega a 3 mil metros de altitude e pode voar por até uma hora. A sensação, afirmam os usuários, é de “pilotar uma bicicleta” no ar. Preço: R$ 75 mil. O site da empresa diz que não recebe temporariamente encomendas. Mas outras fabricantes genéricas já vendem produtos menores e mais baratos.

Esposa robô

esposa

Para quando: dois anos

Um grupo de japoneses tem empreendido esforços por apresentar um modelo de amigo ou esposa robô para o mercado. Os replicantes já podem fazer praticamente tudo: o modelo de Le Trung diz mais de 17 mil frases, além de memorizar pessoas e realmente vivenciar o cotidiano do esposo. Os japoneses evoluíram os movimentos dos robôs, os humanizando. A novidade dos robôs namoradas é que elas conseguem fazer strip-tease e lapdance. No Japão, um segmento jovem já optou em não se casar ou ter filhos com mulheres normais. Eles pretendem se relacionar com os robôs.  Pesquisas indicam que 45% dos jovens entre 16 e 24 anos  desprezam o ato sexual. 90% dos jovens acredita que casar ‘de fato’ é um erro.

Seria o fim dos celulares?

celular

Para quando: 20 anos

Quem leu o livro Muito Além do Nosso Eu: A Nova Neurociência Que Une Cérebros e Máquinas e Como Ela Pode Mudar Nossas Vidas (Ed. Cia. das Letras), do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, achava que ele falava de algo para daqui muito tempo. Pois seu estudo, realizado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, e no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), foi publicado na revista Scientific Reports. E mostra como podemos nos comunicar no futuro, sem a necessidade de um celular ou interação face a face. A partir da instalação de equipamentos (microeletrodos), poderemos comunicar via a rede cerebral. O que de prático já foi feito? Segundo o estudo, camundongos com eletrodos conseguiram transmitir informações motoras e táteis. Na pesquisa, eles cumpriram metas em conjunto, devido àcomunicação. Prazo para instalação da brainet: 20 anos.

Carro sem motorista

carro

Para quando: cinco anos

Chamados de veículos autônomos, os carros da Google deverão estar nas ruas até 2020. Os veículos da empresa utilizam microprocessadores da Nvidia, que atua junto à Mercedez-Benz. O maior medo da empresa é que os carros estejam prontos já em 2018 e os países ainda não tenham se debruçado para regulamentá-los. O veículo autônomo pode andar sem qualquer atuação humana dentro do veículo, por isso não traz volante nem freio. Os criadores dos protótipos acreditam que as avenidas e ruas terão que se adaptar o mais rápido possível, visto que eles trazem a promessa de um transito sem violência e padronizado. O carro é movido a energia elétrica.

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