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A África dos milionários e a desigualdade social

Da Opera Mundi

Há cerca de 160 mil pessoas residentes no continente africano com fortunas acima de um milhão de dólares (cerca de 3,4 milhões de reais). Esta é uma das conclusões de um relatório de uma empresa sul-africana de pesquisas de mercado sobre a riqueza na África.

O número de milionários no continente mais que dobrou desde 2000, crescendo 145% nos últimos 14 anos. O índice africano supera a taxa global (73%), mas ainda é pouco mais da metade da taxa da América Latina, que quase quadriplicou o número de pessoas com mais de um milhão de dólares, com índice de aumento de 278% neste período, segundo o relatório.

De acordo com o relatório da New World Wealth, a soma das fortunas milionárias africanas chegou a 660 bilhões de dólares em 2014, e o número de milionários no continente deve chegar a 234 mil até 2024.

A bonança milionária, entretanto, não foi acompanhada por uma proporcional distribuição de renda entre toda a população africana. O número de pessoas no continente que vivem com menos de US$ 1,25 por dia (cerca de 4,30 reais por dia ou 130 reais por mês) aumentou de 411,3 milhões em 2010 para 415,8 milhões em 2011, segundo o Banco Mundial.

Para Nick Dearden, diretor da organização Global Justice Now, o relatório da empresa sul-africana mostra o aprofundamento da desigualdade no continente. "Não surpreende que pessoas ricas na África estejam ficando mais ricas, já que estamos vendo um tipo de desenvolvimento que beneficia amplamente os ricos e piora ainda mais as vidas das pessoas pobres", declarou Dearden ao jornal britânico The Guardian. "Ajuda assistencial, acordos de comércio e 'investimento' empresarial patrocinado pelo Reino Unido estão aprisionando os países em um tipo de crescimento que consiste em tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres."

Segundo o relatório, as ilhas Maurício abrigam as pessoas mais ricas na África, com a renda per capita estimada em US$ 21.470, enquanto a República Democrática do Congo é o país mais pobre, com renda per capita de 230 dólares. A renda per capita global está estimada em US$ 27.600.

O Zimbábue é o país com a pior performance no ranking da empresa sul-africana. A renda per capita zimbabuense passou de 630 dólares em 2000 para 550 dólares em 2014. O relatório destaca que, diferentemente de países como Líbia e Tunísia, afetados por instabilidade política e social, o Zimbábue continua sob a mesma liderança, o presidente Robert Mugabe, no poder desde 31 de dezembro de 1987.

Angola é o país onde a renda per capita mais cresceu nos últimos 14 anos: de 620 dólares em 2000 para 3.920 dólares em 2014. Já a África do Sul é o país com mais milionários no continente: 46.800 pessoas. O Egito vem em segundo, com mais de 20 mil milionários, e a Nigéria em terceiro.

Para Andrew Amoils, chefe de pesquisa da New World Wealth, empresa que produziu o relatório, cidadãos ricos beneficiam as economias africanas: "Muitas destas pessoas mantêm a riqueza delas na região. Então há muitas vantagens, porque muitas delas são empresárias e muitas iniciam empreendimentos", declarou ao The Guardian.

Dearden discorda: "Desde Nigéria até Moçambique, você pode ver a pobreza aumentando, assim como um rápido crescimento econômico. O que isso significa? A riqueza está sendo apropriada pelos super-ricos e pelo capital transnacional. E isso significa que pessoas comuns, em comparação, ficam ainda mais pobres."

"Isso tudo poderia ser diferente: com investimento governamental decente em serviços públicos, taxação progressiva, regulação da transferência de capitais e relações econômicas regionais para os países africanos se livrarem da dependência dos mercados ocidentais", conclui.

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