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Operações de crédito apresentam recuo

Apesar do ministro da Fazenda, o goiano Henrique Meirelles, ter anunciado esta semana que a recessão acabou, um conjunto de informações divulgadas ontem pelo Banco Central indicam que o otimismo ministerial pode ser muito mais torcido do que fato concreto. Lembra a piada do sujeito que anunciou a morte de uma pessoa sem ter certeza do que dizia e, depois, corrigindo a informação, afirmou: “Sim, ele morreu, mas passa bem”.

Ontem o BC divulgou nota sobre as operações de crédito do sistema financeiro. Em linguagem leiga: atividade dos bancos relativas a empréstimo de dinheiro e desconto de títulos e crédito, em especial as duplicatas.

Segundo o BC, o saldo das operações atingiu R$3.074 bilhões em janeiro, com reduções de 1% no mês e de 3,9% em doze meses. A explicação é que “a evolução mensal foi influenciada pela sazonalidade do crédito às empresas, saldo de R$1.508 bilhões, que recuaram 2,4%, enquanto as operações com pessoas físicas cresceram 0,3%, alcançando R$1.565 bilhões”. A relação crédito/PIB decresceu para 48,7%, ante 53,2% em janeiro de 2016.

As empresas estão evitando os empréstimos bancários. Somente as operações para pessoas físicas apresentaram algum crescimento, irrisório, por sinal. No atacado, o fato é que também nos bancos a recessão está chegando. E se não entrou arrombando a porta é porque comprar títulos da dívida pública ainda é o melhor negócio do mundo, mesmo com a redução recente da Selic para 12,25% ao ano. A propósito, a Secretaria do tesouro nacional anunciou na semana passada que o volume de resgate ( pagamento dos empréstimos feitos via venda de títulos da dívida pública – atingiu recorde.

A nota segue especificando as variadas modalidades de operações de crédito.Todas apresentaram declínio. Embora as operações destinadas a pessoas físicas tenham apresentado ligeiro aumento, como já se disse, houve declínio nas contratações de cartão de crédito à vista e a expansão do empréstimo consignado empacou.

O crédito direcionado totalizou R$1.541 bilhões (-0,5% no mês e -2,7% em doze meses), destacando-se a contração mensal de 1,6% na carteira de empresas (saldo de R$785 bilhões), com ênfase nas liquidações de créditos com recursos do BNDES. No segmento de pessoas físicas, saldo de R$757 bilhões, ocorreu aumento de 0,6% no mês, com crescimento nas carteiras de crédito rural e financiamentos imobiliários.

Na segmentação por atividade econômica, o saldo apresentou queda em todos os setores, com retrações mais significativas em comércio (-5%, para R$261 bilhões), indústria de transformação (-2,4%, para R$400 bilhões), construção (-1,8%, para R$99 bilhões) e transportes (-1,4%, para R$139 bilhões).

Taxas de juros e inadimplência

Apesar disso, as taxas de juro tiveram ligeira alteração. Devido à grande publicidade que se dá ao assunto, muita gente pensa que a taxa Selic é uma espécie de tabelamento das taxas a serem praticadas pelos bancos, Nada a ver. Os juros bancários são determinados por forças de mercado e fatores de risco, entre os quais o da inadimplência, ou calote. Os bancos consideram inadimplentes os mais de 90 dias consecutivos, deixam de liquidar suas obrigações.

A taxa média de juros das operações de crédito do sistema financeiro, consideradas as contratações com recursos livres e direcionados, situou-se em 32,8% ao ano, em janeiro, com elevações de 0,8% p.p. no mês e de 1,5 p.p. em doze meses. O custo médio atingiu 52,8% a.a. no crédito livre (+1,2 no mês) e 11,3% ao ano. no direcionado (+0,7%. no mês).

A taxa média situou-se em 41,9% ao ano. Nas contratações com pessoas físicas, elevações de 0,3% no mês e de 2,5 %. em doze meses. No mês, a trajetória foi determinada pela taxa de juros com recursos livres, cujos encargos subiram 1%., para 72,7%, com destaque para aumentos em crédito pessoal não consignado (+1,1%.) e consignado (+0,2%). No crédito direcionado às famílias, a taxa média de juros manteve-se em 10,4% ao ano.

No segmento de pessoas jurídicas, a taxa média atingiu 21,1% ao ano., avançando 1,2%. no mês (-1,4%. em doze meses). A taxa aumentou 1%. nas contratações com recursos livres, alcançando 28,8% ao ano, destacando-se elevações em desconto de duplicatas (+3,4%.), capital de giro (+0,7%.) e financiamentos a exportações (+2,8%.). No crédito direcionado, a elevação de 1,6% na taxa média, para 12,5% ao ano., esteve concentrada nas operações com recursos do BNDES.

Em resumo, no geral as taxas de juros sofreram aumento. O spread bancário referente às operações com recursos livres e direcionados situou-se em 23,8%. em janeiro (+1,3%. no mês e +3,8%. em doze meses), atingindo 41,7%. nas operações livres (+2%. no mês) e 4,6%. nas operações com recursos direcionados (+0,9%.). O indicador alcançou 32,8%. no segmento de pessoas físicas e 12,3 %. no de pessoas jurídicas, aumentando 0,8% e 1,7 % no mês, respectivamente.

Spread bancário é a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro, O valor do spread varia de acordo com cada operação, dependendo dos riscos envolvidos e, normalmente, é mais alto para pessoas físicas do que para as empresas.

Quando um gerente de banco oferece ao correntista uma “aplicação” que vai render tanto, ele está, na verdade, tomando dinheiro emprestado. Mas, ao emprestar para um “tomador de empréstimo” aquilo que ele acabou de tomar emprestado, exigirá um tanto mais um tanto a título encargos financeiros. O Banco lucra com a diferença,tal como o marreteiro de uma conhecida praça, que compra a preço vil para revender a preço exorbitante.

Já o crescimento da taxa de inadimplência das operações de crédito do sistema financeiro, que corresponde à participação dos saldos com atrasos superiores a noventa dias, situou-se em 3,7% em janeiro, estabilidade no mês e crescimento de 0,2%. em doze meses. O nível de atrasos alcançou 4,0% no segmento de pessoas físicas (+0,1% no mês) e manteve-se em 3,5% no de pessoas jurídicas. A inadimplência permaneceu estável em 5,7% na carteira livre e em 1,8% no crédito direcionado. Outro sinal de que a economia, ao contrário do que afirma as autoridades públicas, não está entrando em recuperação.

A média dos saldos diários da base monetária totalizou R$260,4 bilhões em janeiro, com declínio de 1,9% no mês e acréscimo de 3,5% em doze meses. A variação mensal repercutiu a redução de 3,6% no saldo do papel-moeda emitido e o crescimento de 8,4% nas reservas bancárias, que ainda refletem o aumento sazonal da demanda por moeda em dezembro.

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