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Fiesp exige corte ousado nos Juros

Saiu na tarde do último dia 8 deste mês nota oficial da Fiesp, dada por seu presidente, Paulo Sakf, afirmando que “recuo do PIB mostra urgência em reduzir juros e estimular crédito”. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo é a mais forte entidade patronal do país. Suas manifestações costumam ter mais peso político do que a da CNI. Afinal, São Paulo é o estado mais industrializado do Brasil, e é também a maior praça financeira do País.

Único estado a ter uma bolsa de valores e uma bolsa de mercadorias. É lá, na Avenida Paulista, que estão as sedes centrais dos grandes bancos. Hoje em dia, a maioria dos bancos brasileiros são paulistas. Para se ter uma ideia do gigantismo industrial de São Paulo, basta dizer que somente a cidade de Santo André, no ABC paulista, possui mais estabelecimentos industriais do que Goiás e Distrito Federal juntos.

Daí a relevância política dos manifestos da entidade. Para a Pie sp, o recuo do PIB é sinal de que as coisas estão erradas, muito erradas. E a culpa, como de costume, é do governo. A iniciativa privada faz tudo certinho, claro; o governo é que atrapalha. Em tempos de prosperidade, ninguém quer o governo aberadando a economia; em tempos de crise, ele é convocado a tirar a vaca do brejo.

Os números divulgados pelo IBGE nesta terça-feira mostram recuo de 0,9% do PIB brasileiro no 4º trimestre de 2016 em relação ao trimestre anterior. E os dados fechados do ano confirmam que o país passa pela pior crise desde a década de 1930, com um encolhimento acumulado da economia de 7,2% em 2015 e 2016.

Para 2017, a Fiesp vem projetando crescimento de 0,8% do PIB. Tem sido a a mais otimista das projeções. Mas, agora, a entidade faz uma ressalva: o país vai crescer 0,8% “desde que haja condições para uma recuperação com força da atividade”, afirma. Tem que ser logo. Sinais positivos, como a geração de empregos em janeiro, a queda acentuada da inflação e a recuperação da confiança pelos empresários estariam a indicar que não há tempo a perder..

“Para aproveitar esse vento favorável, é urgente incentivar o investimento na produção, o que só vai acontecer com a redução mais acelerada das taxas de juros e com o aumento da oferta de crédito”, afirma Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Para Skaf, a diferença entre a taxa básica de juros e a inflação está absurdamente alta, e a principal fonte de financiamento do investimento produtivo – o BNDES – está paralisada, não dando às empresas o crédito necessário para a retomada da atividade. Outros bancos também restringem novos empréstimos. Sem crédito em condições viáveis, não há como investir na produção.

De dando largas à sua inclinação poética, num arroubo metafórico de deixar Gabriel Nascente morrendo de inveja, ele afirma que“é hora de soltar as velas e deixar o barco navegar de novo. Vencidas as ondas próximas da praia, a viagem deverá ser tranquila, graças às reformas estruturais em curso, como o limite de crescimento dos gastos do Governo, já aprovado, a mudança da lei do petróleo, a reforma tributária e a modernização da legislação trabalhista”.

Faltou apenas reclamar do câmbio, que está desfavorável, segundo a CNI e até mesmo os economistas da escola nacional desenvolvimentista. Em compensação, Skaf introduz no debate uma observação que vinha escapando aos representantes das classes conservadoras: a retração da oferta de crédito e a introversão do BNDES, uma instituição que, sob Temer, deixou de ser Banco de Desenvolvimento.

Assim que assumiu o poder, Henrique Meireles determinou ao BNDES que recolhesse ao Tesouro Nacional os 100 bilhões de Reais que o Governo Dilma havia aportado à instituição para finalidade de financiamento à produção. E desde então, os novos dirigentes do Banco vêm sinalizando que o agente fomentador da economia deveria praticar juros de mercado.

O que passa por juros de mercado são as taxas escandalosamante altas praticadas pelo bancos privados. Em razão disso, segundo o Banco Central informou recentemente, a oferta de crédito bancário recuou em 2016 em relação a 2015. Com o BNDES fechando suas portas aos industriais, a Industria brasileira não tem onde buscar recursos para investir na expansão do parque industrial, na inovação, na tecnologia etc etc.

A Fiesp apoiou abertamente o golpe contra Dilma Rousse e fez votos de bom sucesso ao governo Temer. Agora, quase um ano depois, a entidade se mostra desalentada. A crise afetou, principalmente, o setor industrial. As fábricas operam com mais de 40% de ociosidade e não conseguem desovar estoques. Os armazéns estão encalhados. Ninguém está comprando. Mesmo assim, a industria resiste a promover grandes torras, liquidações, queima total. Até quando, ninguém sabe.

Os diretores do Banco Central estão, agora, sob pressão do setor produtivo. Espera-se do Copom que faça corte ousado, algo em torno de 2% ou mais. Aguardemos contritos.

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