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COTIDIANO

Alternâncias de poder marcariam tempo presente na América Latina

  • Donald Trump deve retroagir nas relações entre os Estados Unidos e Cuba, pisoteando os avanços da Era Barack Obama, diz pesquisador 
  • Conflitos tomam, hoje, as ruas de Caracas, capital da Venezuela, sob o pano de fundo de graves crises econômica, social e política, pontua 
  • Professor afirma que, na Argentina, a ex-presidente da República Cristina Kirchner está viva e que o neoliberal Maurício Macri seria impopular 
  • Escritor diz que esquerda ensaia chegar ao poder no México, venceu no Equador, mantém hegemonia na Bolívia, controla Nicarágua e possui chances em Honduras 


- Mais do que um esgotamento dos projetos da esquerda progressista há, hoje, na América Latina, um período de alternância de poder.

A análise é do professor graduado em Ciências Políticas, em Lima, Peru, com mestrado em Estudos Sociais, em Santiago, Chile, e doutorado, em Estudos Comparados, na Universidade de Brasília [UnB], Brasil, o peruano, fã de Cubillas, craque dos anos 70 da seleção de futebol do País andino, Carlos Ugo Santander, 45 anos de idade,  quadro da Universidade Federal de Goiás [UFG].  A esquerda ensaia chegar ao poder, no México, com Lopes Obrador, venceu, no Equador, com Lênin Moreno, mantém a hegemonia, na Bolívia, com Evo Morales, controla o Governo Federal, na Nicarágua, com o velho sandinista, de 1979, Daniel Ortega, e possui elevadas chances de retomar em Honduras, pós-golpe de 2009, com Xilmara Zelaya, aponta.

- Já na Venezuela, desde Hugo Chávez – morto em 5 de março de 2013, de câncer – as relações são tensas, no País.

Déficit de democracia

O pesquisador afirma, com exclusividade ao Diário da Manhã, que o ex-motorista, herdeiro do Chavismo e atual presidente da República, Nicolás Maduro, proprietário de um espesso bigode, não contribui ao convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujos critérios democráticos seriam discutíveis, assim como endurecer, de forma autoritária, com o Congresso Nacional, que com maioria obtida nas urnas lhe faz oposição política e institucional. Manifestações de rua entre aliados de Nicolás Maduro e opositores já teriam provocado mais de 57 mortes. Os dados não são oficiais. A violência é generalizada. Conflitos tomam, hoje, as ruas de Caracas, capital, sob o pano de fundo de graves crises econômica, social e política.

- Na Argentina, a ex-presidente da República Cristina Kirchner está viva. Maurício Macri – inquilino número 1 da Casa Rosada, sede do Poder – é impopular. Dos quatro dólares que entrariam, hoje, no País, três vão para o mercado especulativo e apenas um para o setor produtivo.

Observador do cenário político latinoamericano, Carlos Ugo Santander, enquanto degusta uma Heineken, cerveja alemã,  sob os olhares de Lucas Ribeiro, ex-presidente da União Estadual dos Estudantes [UEE], seção de Goiás,  e também da União da Juventude Socialista [UJS], braço estudantil do PC do B, acredita que o ‘pato’ Donald Trump, um republicano ultraconservador, irá retroagir, em comparação com Barack Obama, seu antecessor, nas relações dos Estados Unidos das Américas com Havana, Cuba. A tensão pode voltar. Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, morto em 2016, realizou mudanças lentas, porém significativas no País e nas relações exteriores, admite o docente.  Barack Obama colaborou e teve tolerância, diz.

EUA & Cuba

- Com Donald Trump é possível que tudo volte à estaca zero.

Sem medo das patrulhas ideológicas de esquerda, o estudioso afirma que Cuba é um País com um regime autoritário, sim. Primeiro-irmão, Raúl Castro teria dado continuidade, no poder, à gestão de Fidel Castro, líder da revolução, de primeiro de janeiro de 1959, ao lado de Ernesto Guevara de La Serna, El Che, médico argentino executado em 9 de outubro de 1967, e de Camilo Cinfuegos, morto de forma suspeita, logo após a derrocada da ditadura de Fulgencio Batista, um sargento mulato aliado dos EUA. Miguel Díaz-Canel é cotado para substituir Raúl Castro, em 2018, pontua. Os Comitês de Defesa da Revolução, as Forças Armadas e o Parlamento, sob o controle do Partido Comunista de Cuba, terão peso decisivo na sucessão, analisa ele.

- A situação na Venezuela, hoje, é dramática...

O país de Nicolás Maduro depende, única e exclusivamente, da produção e exportação de petróleo, explica. É o motivo da crise, destaca. Com superprodução e uma baixa contínua dos EUA, que utilizariam novas tecnologias e fazem um processo de substituição de importações, registra. O ‘Chavismo’, a sua manutenção no poder, corre risco, sim, atira. A Venezuela é uma nação com sérios déficits de democracia, avalia. Os três poderes existem, eleições regulares – plebiscitos e referendos –, mas a Assembleia Constituinte limitada convocada poderá dar continuidade à crise política que grassa o País, crê. Uma coisa é certa: Nicolás Maduro não é um homem eficiente no exercício do poder, define o professor da UFG, de Ciências Sociais.

- Com o fechamento, Nicolás Maduro entra em uma fase de autoritarismo.

Peru e Colômbia

A experiência de Ollanta Humala, na presidência do Peru, é o fracasso de um modelo, acredita. O neoliberal, fuzila. Ele era um bolivariano de boca para fora, resume.  No poder, não se assumiu como chavista, dispara. O Peru é, hoje, um País em via de desenvolvimento, define. A informalidade da mão-de-obra chega ao patamar de 80% da população economicamente ativa [PEA], informa.  As relações de trabalho são precárias, insiste. Os trabalhadores não possuem direitos trabalhista, desabafa. As relações precárias de trabalho impactam de imediato no exercício da cidadania e dos direitos políticos, ataca. Eleito, o presidente da República do Peru, Pedro Pablo Kucynski Godard, governará o País até o ano de 2021, com agenda neoliberal, diz.

- A melhor forma de disputar o poder é pela via pacífica. Pelo voto popular. Cinco décadas de uso do fuzil acabaram agora, na Colômbia, com o acordo entre o Estado e as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

O caso do Uruguai é o de uma democracia, pós-ditadura civil e militar, com mortos e desaparecidos políticos, com participação popular e fortalecimento das classes médias, vê Carlos Ugo Santander. O que dá estabilidade política ao País, metralha. Pepe Mujica, ex-Tupamaro, é um homem de esquerda, democrático, ético, republicano, transparente e aberto, define-o.  O pesquisador da América Latina conceitua o impeachment de Dilma Rousseff, no Brasil, em 2016, com um golpe. Não se exerceu violência militar, pondera.  Mas trata-se de uma deturpação das regras constitucionais, frisa. Pedaladas fiscais não deveriam ser motivos para a deposição de uma presidente da República eleita com 54,5 milhões de votos, crê.

- Michel Temer construiu uma coalizão de bandidos conservadores! Não é ainda, porém, um Estado de Exceção. As reformas liberais precarizarão as relações de trabalho.

Burguesia à sombra do Estado

A burguesia brasileira opera, hoje, como as oligarquias dos anos da década de 1930, do século passado, vocifera. A burguesia se reproduz à sombra do Estado, critica. Ela evita o risco de competir no mercado, resume. Para ter a garantia e o monopólio do acesso aos recursos do erário, insiste.  Que são loteados pelo capital, explica. A crise política evidencia que o poder econômico, no Brasil, se movimenta e controla a esfera política, denuncia. O professor recomenda os seguintes autores para a compreensão da América Latina: José Carlos Mariátegui, Aníbal Quijano, Hugo Zemelman, Atílio Boron, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Raúl Prebish. Para interpretar o capitalismo contemporâneo, Slavoj Zizek, Boaventura de Sousa Santos,  Noam Chomsky, Antonio Negri e Byung-Chul Hon, sugere o intelectual.

"Com o fechamento, Nicolás Maduro entra em uma fase de autoritarismo” "Experiência de Ollanta Humala, na presidência do Peru, é o fracasso de um modelo" "Com Donald Trump é possível que tudo volte à estaca zero:  EUA e Cuba " "A burguesia brasileira se reproduz à sombra do Estado"


Carlos Ugo Santander, professor peruano da UFG

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