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Redação é o maior medo no Enem 2017

Chegou a hora da verdade para milhares de estudantes. A partir deste domingo, 6, 1 milhões de brasileiros tentam entrar em uma faculdade ou testar seus conhecimentos. Desde que foi criado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se transformou em uma mania nacional. Não só estudantes, mas toda a sociedade discute os temas das redações, os conteúdos mais críticos das disciplinas e mesmo as questões mais difíceis.

A principal novidade deste ano será a realização das provas em semanas diferentes, o que aumenta a expectativa de quem mergulhou durante meses em conteúdos que abordam conhecimentos diversos, de democracia à direito canônico, de falsos cognatos de inglês à poesia futurista, de progressões à teoria da relatividade, de estudo da massa atômica aos efeitos do agronegócio do Cerrado.

A reportagem do DM percorreu as salas de aula de parte das escolas da capital nas últimas horas de preparação. A maioria dos alunos teme, como sempre, a redação. Uma das avaliações do certame, ela cobra determinação para se posicionar, clareza, conhecimento de atualidades e rigor na escrita. A nota 1000 é um sonho, diz Augusto Oliveira, que estava em sala de aula nesta sexta-feira, 3, e se prepara tendo em vista cursar direito.

Conforme o diretor Ademar Pascoal, do Colégio Dinâmico, o estudante deve agora desestressar e relaxar até o momento em que pegar o caderno de provas. Ele conta para o DM que abriu toda a escola até às 23h para que cada aluno estude e se encontre com os colegas. “Muitas vezes ele vem para falar com os coleguinhas, para aliviar a tensão, sair de casa um pouco. Esses garotos são muito cobrados”.

Ademar cita a redação como uma das principais preocupações dos alunos. O diretor diz que muitos tentam adivinhar o tema que será exigido, o que muitas vezes já foi antecipado em sala de aula.

O professor Raul Majadas, do Colégio Prevest e também Olimpo, diz que a primeira regra para “adivinhar” o assunto a ser cobrado é que não costuma ter repetição de temas da redação. Os conteúdos podem repetir, mas nas outras provas. Portanto, ano passado o tema foi a intolerância religiosa. E neste, com certeza, ou quase, estará de fora da prova.

Raul diz que o Enem tem como característica o desenvolvimento de temáticas alinhadas ao discurso social. “Sempre tem algo do papel do cidadão ou das instituições, da responsabilidade frente as mudanças que precisam ser feitas. Daí que você pode ter desde racismo até lei seca, passando por trabalho escravo e imigração, publicidade infantil, enfim, tudo para discutir a ética da sociedade”. O professor orienta o aluno a desenvolver um raciocínio mais crítico, desde que dentro do respeito ao ser humano e das instituições.

“Muitas pessoas pensam: será que teremos uma interferência do governo? Ou mais polêmicos? Temas como Homofobia, pessoas em situação de rua, idosos, questão indígena, temas que nunca caíram e são temas sociais muito fortes e relevantes podem ser exigidos agora”.

“Por outro lado, o Enem está devendo um tema de característica ambiental. Ano passado, o Enem ocorreu exatamente um ano depois do acidente de Mariana, o maior acidente ambiental do país, e não se falou nada na prova. Talvez queiram compensar isso agora. Tem ainda questões como tecnologia, inclusão digital, suicídio, etc. Mas o discurso será sempre social, questionando o cidadão diante destes problemas”.

PRIMEIRO SEMESTRE

A professora Lúcia Zambon (Foto), do colégio Olimpo, diz que o aluno deve pensar em propostas com fortes questões sociais, políticas e culturais em evidência. “Temas em evidência, principalmente, no primeiro semestre, quando a prova de redação, geralmente, é elaborada. Assim, há diversas possibilidades de temas”.

Ela elenca alguns, caso dos “desafios enfrentados pela população urbana brasileira”.  Como o Enem sempre apresenta recorte temático, diz a professora, pode ser direcionada uma exigência sobre “mobilidade, violência, segurança, lixo, moradia...”.

A professora também aposta em outros temas, como inclusão digital e social, homofobia e bullying – temas comuns no noticiário. “Também julgo provável que o Enem possa explorar a situação do jovem, hoje, na sociedade, com várias possibilidades de recorte: relação com o trabalho, com a política, com a família, com a tecnologia, com o país”.

Lúcia Zambon afirma que o tema exigido geralmente costuma ser debatido em sala. Ou seja, o aluno não chega a ter uma surpresa. Mas e se cair algo que ele não tenha nenhum domínio? “Se a prova apresentar um tema a respeito do qual o aluno não esteja preparado, ele não pode perder o controle”.

A professora orienta com uma importante estratégia: o aluno deve ler com atenção a coletânea e, à medida que o fizer, relacionar as informações contidas naqueles excertos com as várias matérias (áreas do conhecimento) estudadas. “Deve, a seguir, responder às questões da prova e ficar atento, uma vez que, nelas, geralmente, há informações que poderão ajudá-lo a refletir sobre o tema dado”.

MEC e Inep recomendam respeito aos direitos humanos na redação 


Apesar de o Inep ainda não ter sido notificado da decisão judicial que determinou a suspensão da regra do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que determina que quem desrespeitar os direitos humanos na prova de redação pode receber nota zero, a recomendação é que os candidatos sigam as regras do edital. O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que a decisão judicial será respeitada, mas orientou os candidatos a respeitarem os direitos humanos na redação.

“A questão dos direitos humanos é básico e fundamental, até porque estamos falando em educação, e não poderíamos ter uma linha de ação distante dessa realidade. Mas ao mesmo tempo temos que cumprir a decisão judicial, que leva a possibilidade de ter zero na prova. Como cautela, eu diria que o melhor é se submeter ao exame e fazer a redação respeitando os critérios de direitos humanos”, recomendou o ministro.

A prova de redação do Enem será aplicada a mais de 6,7 milhões de candidatos neste domingo (5). O ministro disse que o Inep vai recorrer da decisão até a última instância. Segundo ele, o respeito aos direitos humanos é um pressuposto constitucional elementar que não conflita com a liberdade de expressão.

Mendonça Filho garantiu que as linhas de pensamento ideológicos e políticos dos candidatos serão respeitados durante a correção da prova. “Ao mesmo tempo, jamais um ente como o MEC ou o Inep, em uma avaliação, pode aceitar teses que defendam por exemplo o holocausto, apartheid, a segregação racial, a discriminação do ponto de vista religioso, de raça”, disse.

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