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Alckmin vetará “segunda sem carne”

O governador Geraldo Alckmin vetará o proje­to de lei, mais conheci­do por “segunda sem carne”, re­cém-aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. A ini­ciativa do deputado Feliciano Fi­lho (PEN) causou impacto jun­to aos consumidores e em toda a cadeia da pecuária brasileira. Goiás, por exemplo, exporta para a capital paulista mais de 600 mil toneladas de carnes e deixou no alvoroço as entidades classistas ligadas à pecuária. O Diário da Manhã obteve a confirmação do veto governamental através da Assessoria de Comunicação do Governador de São Paulo.

Em entrevista ao Canal Rural, o governador Geraldo Alckmin já dissera que “embora bem-inten­cionado, o projeto é equivocado, pois cerceia o direito das pessoas e desconsidera a capacidade de tomar decisões sobre sua própria alimentação”. Conforme a Asses­soria de Comunicação, o gover­nador “aguarda apenas o proje­to de lei chegar à sua mesa para proceder ao veto”. A Assembleia Legislativa tem quinze dias de prazo legal para o envio da ma­téria para sanção ou veto do go­vernador do Estado.

A ideia acatada pela Assem­bleia se baseia na Segunda sem Carne, um movimento que existe em mais de 35 países e pede a re­dução de consumo de carne “pe­las pessoas, pelos animais, pelo planeta”. Em São Paulo, o autor do projeto foi o deputado Feliciano Filho (PEN), que a protocolou em fevereiro de 2016. A proposta ago­ra vetada ainda previa uma multa pelo descumprimento da lei no va­lor de 300 unidades fiscais do Esta­do de São Paulo, o que correspon­de hoje a 7.500 reais. A reação, no entanto, à iniciativa foi veemente, partida das entidades classistas do segmento da pecuária.

Se os pecuaristas e toda a ca­deia da carne reagiram de ime­diato, pedindo o veto do gover­nador de São Paulo, os ativistas vegetarianos argumentaram que a restrição seria benéfica. Quatro fatores ambientais estão em jogo na produção da carne: a super­fície ocupada pelas pastagens; a água consumida, tanto por par­te dos animais como no proces­so de produção; os gases de efeito estufa provocados pela flatulên­cia do gado. No caso brasileiro, um estudo também liga frigorí­ficos e suas áreas de compra na Amazônia à maior parte do des­matamento recente na zona.

COMPARAÇÃO ILUSTRATIVA

Laura Ordóñez, cientista am­biental e professora da Escola In­ternacional de Naturopatia, em Granada, na Espanha, discorren­do ao jornal El Pais, editado em Madri, sobre a questão, disse que “para que uma vaca produza um quilo de proteína, ela precisa con­sumir entre 10 e 16 quilos de ce­reais, enquanto um porco requer quatro quilos. Para produzir um filé de 200 gramas, são necessários 45 bacias de cereais”, ilustra.

Segundo a pesquisadora, “pro­duzir carne é algo muito custoso, e seria mais eficiente alimentar as pessoas com os cereais que se des­tinam à engordar o gado”. O cereal é apenas uma parte da pegada de carbono (o impacto que qualquer atividade produz no meio ambien­te) da indústria da carne. A água é outro fator limitante: enquanto para cultivar um quilo de milho são ne­cessários 1.500 litros de água, para se ter um quilo de carne são consu­midos 15.000 litros do líquido.

“Isso sem falar na contamina­ção por purinas [resíduos líquidos formados pela urina e pelas fezes dos animais], geradas principal­mente em fazendas de suínos, e com graves consequências para o solo e para as águas subterrâneas”, afirma Raúl García Valdés, profes­sor de ecologia da Universidade Autônoma de Barcelona.

PRODUÇÃO DE CARNE

Este ano serão produzidos no mundo 318,7 bilhões de toneladas de carne, “e espera-se um aumen­to do consumo mundial a um rit­mo de 1,6% por ano nos próximos 10 anos”, anunciou o agroecono­mista belga Erik Mathijs durante o Congresso Internacional de Ciên­cias e Tecnologias da Carne, reali­zado em agosto. Um crescimento que se concentrará, principalmen­te, nos países em desenvolvimento.

“Atualmente, 80% do planeta consome pouca carne e quase nada de leite”, lembra Lluís Serra-Najem. Ele cita um exemplo: “No momento em que 1,2 bilhão de cidadãos chi­neses começar a demandar esses produtos, será necessário um au­mento de produção que não sabe­mos se será possível, por causa das limitações ambientais do planeta”

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