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A banalização do sexo

  •  Um termo em inglês que se refere a mensagens de texto de cunho sexual, geralmente com o uso de imagens e vídeos sexualmente explícitos. Especialistas de universidade dos EUA debatem os riscos expostos aos jovens 


Sexting é um termo inglês que se refere a mensagens de tex­to de cunho sexual, geral­mente com o uso de imagens e vídeos sexualmente explícitos (as famosas “nudes”), enviadas através de dispositivos eletrônicos, como smartphones. Com o aumento vertiginoso no uso destes dispo­sitivos nos últimos anos, o termo passou a ser cada vez mais usado, e geralmente se refere a conversas saudáveis entre dois adultos.

Mas o sexting também está no vocabulário dos adolescentes. De acordo com uma pesquisa feita com mais de 110 mil adolescentes de todo o mundo, um de cada sete en­tre eles diz enviar este tipo de men­sagem, e um em cada quatro as re­cebe. Em um texto publicado no portal The Conversation, os auto­res da pesquisa, Sheri Madigan, da Universidade de Calgary, no Cana­dá, e Jeff Temple, da Universidade do Texas, nos EUA, avaliam os resul­tados e debatem se este é um mo­tivo de preocupação para os pais.

Eles afirmam que, enquanto o sexting tem aumentado entre os adolescentes, o sexo adolescente propriamente dito, por outro lado, sofreu um declínio na última déca­da. “Nossa equipe realizou uma me­tanálise da literatura de pesquisa, com base em 39 estudos de pesqui­sa sobre sexting juvenil internacio­nalmente entre 2009 e 2016. Des­cobrimos que aproximadamente 15% dos adolescentes estão envian­do sexting. Enquanto isso, cerca de 41% dos adolescentes estão tendo relações sexuais, de acordo com um relatório de 2018 do Centers for Di­sease Control and Prevention dos Estados Unidos”, apontam no texto.

Um dado interessante desco­berto por eles é que não há dife­rença aparente entre os envios de imagens entre meninos e meninas. “Os meninos são frequentemente retratados como solicitantes, e me­ninas como remetentes, de ima­gens ou vídeos nus. Os achados do nosso estudo desmascaram essa suposição amplamente assumida e mostram que meninos e meni­nas são igualmente suscetíveis de participar do sexting”, apontam.

PERIGO?

Os autores defendem que este é um comportamento natural e adaptado ao mundo virtual. “Com a onipresença dos smartphones e o aumento do uso digital em to­das as categorias de idade, os pais não devem se surpreender que os adolescentes se envolvam em sex­ting com outros adolescentes. Os pesquisadores sugerem que o sex­ting adolescente consensual pode ser um componente normal do comportamento e do desenvolvi­mento sexual na era digital. O au­mento da prevalência deste com­portamento sexual, em indivíduos mais velhos em particular, corres­ponde ao seu crescente interesse pela exploração sexual e desenvol­vimento de identidade”, apontam.

Eles esclarecem que, apesar do temor de que esse comportamen­to traga algum risco, há muito pou­ca ou nenhuma evidência de re­lação entre o sexting e problemas como solidão ou depressão. Para eles, o maior problema é se a troca de mensagens é consensual. “Em­bora meninas e meninos tenham uma quantidade similar, há dife­renças importantes na percepção desse comportamento entre os jo­vens. Em comparação com os me­ninos, as meninas relatam sentir mais pressão para enviar sexting, e também se preocupam se serão julgadas com dureza por mandar e por não mandar sexting”, exp.icam.

“Garotos, por outro lado, podem ver o sexting como uma oportuni­dade para mostrar seu status social. Este padrão duplo pode criar níveis mais altos de angústia para meni­nas. No momento em que o jovem pressiona “enviar”, eles confiam em que o receptor não compartilhará as imagens ou vídeos sem o seu con­sentimento. Sexting pode se tornar um problema quando essa confian­ça é violada”, ponderam os pesqui­sadores. “Nossa pesquisa sugere que 12,5% dos adolescentes estão encaminhando fotos íntimas sem o consentimento do remetente”.

Além deste problema, os autores apontam ainda outros desafios. “Pri­meiro, muitos adolescentes podem sentircomosehouvesseumaexpec­tativapelosexting. Emboraprovavel­mente não seja uma expectativa ga­rantida, a ideia de que ‘meus amigos estão fazendo isso, então talvez eu de­vesse fazer também’ poderia ser um forte motivador entre pares”.

Um segundo problema que eles sugerem que pode ocorrer é quan­do os adolescentes são coagidos ou chantageados, quando imagens ou vídeos são usados como uma for­ma de ameaça. “Outro problema é a ideia de segurança digital. Os cérebros adolescentes ainda estão em desenvolvimento; a capacida­de de analisar criticamente as fer­ramentas e aplicativos digitais que eles estão usando pode não ser su­ficiente para mantê-los seguros. Onde essas imagens são armaze­nadas? Quem, além do destinatá­rio pretendido, tem acesso a elas? Por quanto tempo elas são man­tidas digitalmente? E, se mudar de ideia, posso pegá-las de volta?”

Eles argumentam que estas e outras questões simplesmen­te podem não passar pela men­te de um adolescente e, às vezes, nem na de adultos, especialmen­te quando esses pensamentos es­tão competindo com o interesse sexual e a intimidade.

DIÁLOGO

Os pesquisadores sugerem que os pais têm um papel fundamen­tal ao garantir que, independen­temente do que façam, os jovens ajam com consciência e seguran­ça. “Os pais podem manter seus fi­lhos conscientes e informados ao ter discussões abertas, sobre rela­cionamentos de namoro saudá­veis, pressão dos pares, segurança digital, sexualidade e cidadania de forma mais ampla”, aconselham.

O consenso geral, segundo eles, é que os pais ou responsáveis de­vem ser proativos, em vez de pro­tetores e reativos, sobre conversar com os filhos sobre sexo. “Pregar a abstinência não é eficaz. Tal como acontece com a questão do sexo seguro, esta deve ser uma conversa contínua com o jovem em vez de uma ‘conversa’. Nessas discussões, é importante enfatizar a cidadania digital. Em geral, a cidadania digi­tal incentiva os indivíduos a agir de forma segura, legal e ética em suas interações e comportamentos online e digitais”, apontam. É im­portante enfatizar que a cidadania digital se aplica também aos adul­tos. Além disso, tais conversas po­dem fornecer uma abertura para discutir outros problemas sensí­veis com os adolescentes, como a própria sexualidade.

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