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Brasileiros desacreditados

O Indicador de Uso do Crédi­to apurado pelo SPC Bra­sil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confedera­ção Nacional de Dirigentes Lojis­tas) revela que 22% dos brasileiros tiveram crédito negado no último mês de janeiro ao tentarem parcelar uma compra em estabelecimentos comerciais ou contratar serviços a prazo. A falta de comprovação de renda ou insuficiência de renda (36%) e as restrições ao CPF (31%) em virtude da inadimplência foram as principais razões para a negativa.

De acordo com a sondagem, em cada dez consumidores, seis (58%) não se utilizaram de nenhu­ma modalidade de crédito no últi­mo mês de janeiro, como cartões, crediário, cheque especial, linhas de financiamentos ou emprésti­mos. Outros 42% mencionaram ao menos uma modalidade a qual tenham recorrido no período. Em dezembro, período de tradicional aquecimento das vendas no varejo, esse índice era ligeiramente maior e atingiu 46% dos consumidores. Ainda assim, o número observado em janeiro deste ano é o segundo mais elevado desde junho de 2017, quando 44% dos brasileiros ha­viam se utilizado de ao menos um tipo de crédito naquele mês.

Os cartões de crédito (36%) e o crediário (12%) foram as modali­dades mais usadas em janeiro des­te ano. O cheque especial foi citado por 7% da amostra e os financia­mentos por 6%. Na escala do Indica­dor de Uso do Crédito que varia de zero a 100, sendo que quanto mais alto, maior a utilização de modalida­des de crédito, o resultado observa­do em janeiro ficou em 28,1 pontos, pouco abaixo dos 31,0 pontos verifi­cados em dezembro último.

Para o presidente do SPC Bra­sil, Roque Pellizzaro Junior, o resul­tado tímido do indicador é reflexo ainda da queda nas concessões de crédito ocorrida no período mais agudo da crise. “Com a renda do brasileiro menor, a análise de cré­dito tornou-se mais criteriosa para evitar a inadimplência e as conces­sões caíram ao longo do período mais severo da recessão. Somen­te agora o crédito começa a recu­perar-se, mas é prudente que haja controle e critérios sobre a libera­ção de crédito por parte das ins­tituições e que o consumidor se mantenha cauteloso antes de se endividar”, afirma Pellizzaro Junior.

No total, apenas 14% dos con­sumidores consideram a tomada de crédito como algo fácil nos dias de hoje. Para 51%, trata-se de algo dificil, ao passo que 22% conside­ram regular. “Crédito fácil e sem burocracia pode parecer algo posi­tivo aos olhos do consumidor, mas em muitos casos, a contrapartida dessa agilidade é a cobrança de ta­xas de juros muito elevadas. O cré­dito pode ser um aliado do consu­midor para aquisição de bens de maior valor, mas se não bem utili­zado, pode ser a porta de entrada para o descontrole financeiro” ex­plica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Sobre as dificuldades que o mau uso do crédito pode acarretar, o le­vantamento aponta que 48% dos tomadores de empréstimos e finan­ciamentos atrasaram, em algum momento, parcelas dessa dívida – sendo que 15% ainda possuem prestações pendentes.

O indicador apurado pelo SPC Brasil e pela CNDL também revela que o percentual de consumido­res que não pagaram o valor inte­gral da fatura do cartão de crédito oscilou de 28% em dezembro do ano passado para 23% em janeiro deste ano. Desse total, 10% entra­ram no chamado ‘rotativo não re­gular’, quando não há nem mesmo o pagamento do mínimo. Já 13% ficaram dentro do ‘rotativo regu­lar’, ou seja, pagaram ao menos o mínimo da fatura. Os consumi­dores que pagaram o valor total da fatura em janeiro somam 76% dos usuários do cartão.

Os juros cobrados pelos bancos quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão de crédi­to são altos e chegam a 387% ao ano, em média, no caso do não regular e, 241% no caso do regular, segun­do dados oficiais do Banco Central.

Entre os consumidores que se utilizaram do cartão de crédito no mês de janeiro, 41% aumentaram o valor da fatura nesse período e somente 21% notaram um queda. Para 35% houve estabilidade. Entre os que se lembram o valor que gas­taram, a média da fatura encerrada em janeiro foi de R$ 849, cifra ligeira­mente abaixo da observada em de­zembro último, que era de R$ 966.

A pesquisa ainda mostra que o uso do cartão já não se limita a compra de itens de alto valor, que geralmente precisam ser parcela­dos. As despesas correntes de todo mês também estão sendo feitas a crédito pelo consumidor brasilei­ro. Em primeiro lugar ficaram as compras em supermercados, cita­das por 59% de seus usuários. Em segundo lugar está a aquisição de remédios, com 45% de menções. Depois aparecem gastos como rou­pas, calçados e acessórios (34%), combustíveis (32%) e idas para ba­res e restaurantes (25%).

De acordo com os dados do In­dicador de Propensão ao Consu­mo, no último mês de fevereiro, quase a metade (49%) dos consu­midores manifestaram a intenção de reduzir gastos no orçamento, contra somente 8% que plane­javam aumentar o valor de suas compras. Para 40%, os gastos de­vem se manter estáveis. Apesar de a inflação estar sob controle, os pre­ços elevados dos produtos (37%) é a principal razão para a conten­ção de gastos do brasileiro, seguido da busca constante por economi­zar (25%) e do desemprego (19%).

Entre os produtos que os con­sumidores pretendem comprar em março, excluindo os itens de supermercado, os remédios lide­ram a lista (28%), seguido das rou­pas, calçados e acessórios (19%) e da recarga para celular (18%).

O estado das finanças do consu­midor colabora para esse compor­tamento mais cauteloso. Apenas 18% dos consumidores brasileiros estão com as contas no azul - ou seja, com sobra de recursos para consumir ou fazer investimentos. A maior parte (40%) admite estar no ‘zero a zero’, sem sobra e nem falta de dinheiro, enquanto 38% encontram-se no vermelho e não conseguem pagar todas as contas com a renda que possuem.

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