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Festa intitulada “o maior evento de sexo do Estado de Goiás” causa polêmica

Uma festa inusitada cha­mou a atenção nas re­des sociais através de um anúncio que circula pela internet desde o dia 7 de março. Intitulado “Grande Evento de Sexo Surubão 2018”, o cartaz afirma que este se­ria o “maior evento de sexo do es­tado de Goiás” e que 300 mulheres já teriam se cadastrado para a festa. Com data prevista para os dias 17 e 18 de março, o anúncio apresen­ta duas modalidades de ingresso, “simples” e “com bebidas”. O cartaz não informa detalhes sobre o local do evento, mas traz um contato de telefone para “inscrições”.

Um dos organizadores do even­to disse que, além das 300 mulhe­res, outros 330 homens teriam confirmado inscrição no evento e 400 pessoas demonstrado inte­resse, de acordo com informações do site CurtaMais. A festa, que tem duração prevista para cerca de 20 horas, seria vigiada por “duas guar­nições”. O organizador também informou ao site que Goiânia ca­rece de eventos assim e o objeti­vo é que novas organizações des­te tipo ocorram, como previsão de até 3 mil participantes. Além dis­so, ele também pretende criar, em Goiás, uma boate dedicada exclu­sivamente ao sexo.

A proposta cau­sou indignação ao padre Luiz Augusto Fer­reira da Silva, conhecido como Pa­dre das Multidões, que trabalha na Paróquia Santa Teresinha do Me­nino Jesus, no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia. “É como se o homem fosse simplesmente um ob­jeto, nada mais do que isso. Não tem razão, não tem dignidade, é como se o órgão ge­nital mas­culino e femini­no fos­se apenas um instrumento”, afir­mou, indignado, o padre. Para ele, a busca incessante pelo prazer tem deixado as pessoas insaciáveis.

“A gente acha que um evento como esse, fazendo sexo a qual­quer momento e de qualquer for­ma, é liberdade. Pelo contrário, isso é uma escravidão e revela uma ca­rência afetiva, revela que a pessoa não consegue reconhecer o seu va­lor”, emenda o padre. “Isso é uma cultura da morte, onde o ser hu­mano perde a dignidade e a família deixa de existir, onde tudo é permi­tido”, completa. Procurada pela re­portagem, a organização do evento não respondeu. Para o padre, “este evento não pode ser um sucesso, precisa ser um fracasso”. O sacerdo­te disse ainda que contatou um ad­vogado para se informar sobre a le­galidade do evento e foi informado de que a prática é legal, desde que não haja menor de idade no local.

O músico e produtor cul­tural Carlos Brandão afir­ma que a ida à festa é opcional. “É uma fes­ta como todas as ou­tras festas, só que ela chama mais atenção porque é uma “suru­ba”. Como toda fes­ta fechada que você paga uma gra­na para entrar, vai quem quer, quem tem dinheiro para gastar”. Brandão, que é responsável pela organização de eventos tradicionais em Goiânia, como o Chorinho, no Centro da cidade, ainda comen­tou sobre a objeção à realização do evento “Quem vai ser con­tra e levantar bandeira contra uma festa dessa é porque não tem dinheiro para pagar e está com despeito ou então porque está com falso moralismo. Sexo é uma coisa tão normal, pra mim sexo é a melhor coisa do mundo. Vai quem quer e tem dinheiro”, conclui.

Em entrevista concedida ao Diário da Manhã, o padre Luiz Augusto comentou o caso.

ENTREVISTA

O que esse evento representa?

Esse evento é resultado da nos­sa vida hoje. O homem perdeu a razão, perdeu o senso. De repente alguém está promovendo um festi­val de Sexo Surubão, a fotografia diz todas as coisas que vão acon­tecer. Como se o homem fosse sim­plesmente um objeto, nada mais do que isso. Nós estamos destituí­dos de nós mesmos, a gente busca cada vez mais prazer por prazer, cada vez mais insaciável. Agora, 300 mulheres inscritas em um fes­tival de sexo durante dois dias, com certeza nossas famílias estão envolvidas em tudo isso.

Eu vejo isso como realmente uma cultura da morte, o ser hu­mano perde dignidade, família deixa de existir onde tudo é per­mitido. Quando eu vejo um evento como esse, é resultado de um povo que não tem mais limite, que não sabe o que quer, que não tem iden­tidade própria e por isso é escra­vo. Um povo que tem o sexo ape­nas como órgão genital, não como uma integração de vida, doação, entrega e compartilhar aquilo que é mais valioso de cada um.

Qual seria o resultado disso?

A morte. Não a morte física, mas a morte como ser humano, como pessoa. As pessoas que pra­ticam aquilo que fere a família e a dignidade elas são usadas, em fa­cebook, em rede social, com toda tranquilidade a pessoa se iden­tifica para quem quiser fazer as inscrições, alguém oferece o lu­gar para fazer isso acontecer. Por mais que as pessoas não tenham fé, o resultado do pecado é a mor­te. Não é a morte física, é a morte do ser humano, como gente.

Você percebe as propagandas nessas casas de prostituição, cada dia uma mulher diferente. A mulher é um objeto de consumo, e o sexo é um objeto de poder. Se a pessoa tem um corpo bonito, ela vende a si mesmo e consegue ter dinheiro. O sexo é um produto que eu uso, não é uma coisa que me integra como pessoa e que me dá digni­dade. Disponho dos meus órgãos genitais para fazer aquilo que al­guém quer e que paga por isso. Nós perdemos o sentido do valor, res­peito e dignidade.

Quais as consequências disso?

Nos torna mais do que animais, porque eles não têm raciocínio. Nós estamos tendendo para o caos porque isso se tornou uma coisa comum. Natural não é, natural é aquilo que é próprio da vida como ser humano. As pessoas perderam o senso e a razão. Homens casados vão estar lá, mulheres casadas e fi­lhos das nossas famílias também. O que mais percebo isso é que as pessoas que se entregam a isso elas estão cegas, depois alguém desco­bre, elas se mostram arrependi­das, pedem perdão, mas elas não pensam antes de fazer as coisas.

Enquanto está fora (da nossa realidade), estamos tranquilos e condenamos. Quando chega na nossa casa, a situação é outra. Mes­mo a pessoa que não acredita em Deus, quando ela é traída, ela sen­te a dor, se revolta, quer matar.

E sobre o cartaz...

O mais interessante é que eles identificam a chácara (o local), o preço e o contato de quem faz as inscrições com o celular da pró­pria pessoa aqui. São coisas pen­sadas e planejadas, tem alguém por trás disso. É normal, faz-se o que quer, ninguém tem nada com isso, mas as consequências são so­ciais, pessoais e familiares. Uma atitude dessa interfere no mundo inteiro. A defesa nossa é da famí­lia e isso fere totalmente a família.

Nós precisamos ser corajosos para denunciar e não permitir que isso aconteça, pra fazer com que isso seja um fracasso, isso não pode ser um sucesso. Não se tra­ta de ser católico ou evangélico, é o básico. É algo que se perdeu o senso e o limite.

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