Home / Cotidiano

COTIDIANO

“A Justiça faz bem à saúde”

1.Em entrevista exclusiva ao jornal Diário da Manhã, médico mundialmente conhecido por pioneirismo em intervenção cirúrgica, Dr. Áureo Ludovico de Paula ressalta a importância da Justiça, comemora a vitória da razão e do progresso sobre a polêmica médico-jurídica iniciada há oito anos, quando o MPF-GO e o CFM protocolaram ação civil pública contra o goiano

2.Técnica criada pelo médico, a interposição ileal já foi realizada em um sem-número de pacientes e os índices estatísticos de remissão, nos casos do diabetes tipo 2, são celebrados por especialistas progressistas da área bariátrica. Conforme Dr. Áureo, cerca de até 90% dos pacientes são curados ou entram em remissão do diabetes e doenças relacionadas

3.À reportagem, Dr. Áureo discorreu sobre a atualidade brasileira, além do embate que lhe causou problemas nesta última década. Ele avaliou que a sociedade precisa reconceituar-se para não se tornar refém de ideologias e imputou sobre os indivíduos, não sobre as instituições, causas e responsabilidades para a construção de um mundo melhor

Responsável pela nova saúde de brasileiros fa­mosos, como o apresen­tador Faustão, o senador da Re­pública e ex-futebolista Romário (PSB), o pré-candidato ao Sena­do Demóstenes Torres (PTB) e do vereador Jorge Kajuru (PRP), o médico goiano Áureo Ludovi­co de Paula foi considerado ino­cente pela Justiça da acusação de experimentador na Medicina.

Decisão unânime do Tribu­nal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) decreta o fim da polêmi­ca médico-judicial, iniciada em janeiro de 2010, quando o Minis­tério Público Federal em Goiás (MPF-GO), aliado com o Conse­lho Federal de Medicina (CFM), protocolou ação civil pública desfavorável ao cirurgião, onde afirmava-se que o procedimen­to que ele criou era experimen­tal e não poderia ser aplicado a pacientes. Além da absolvição, a Justiça recomendou que o CFM regulamente a cirurgia.

O procedimento, conhecido como gastrectomia vertical asso­ciada à interposição ileal (GVII), além da redução do estômago, estimula a produção da insuli­na pelo pâncreas e, como resul­tado, na maioria dos casos (cerca de 90%), os pacientes encontram a remissão da diabetes tipo 2 ou até a cura da enfermidade. As doenças advindas desse tipo de diabetes também são afetadas, como o colesterol elevado, a hi­pertensão arterial e a obesidade.

A téc­nica está d e s c r i t a pela ciên­cia especia­lizada desde 1928, desde quando foi pu­blicada na revista Annals of Surgery, e foi utilizada ao longo do anos para várias indicações clínicas gas­troenterológicas e até urológicas, conforme esclarece o médico.

Áureo Ludovico realiza o pro­cedimento há cerca de 11 anos. No início, o procedimento era con­siderado de alto risco no trato da obesidade e era limitado para cor­rigir problemas como o diabetes. Os estudos avançaram na área e evidenciou-se a possibilidade de tratar também a doença que afeta 15 milhões de brasileiros.

O diabetes é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e amputação de membros inferiores. Ado­tar uma dieta saudável, praticar atividade física e não fumar são atitudes que podem prevenir ou retardar a doença do tipo 2.

Com base nestes dados, su­bentende-se que a cura da dia­betes ameaça diretamente várias indústrias farmacêuticas, que do ponto de vista de negócios e finan­ças, precisariam encontrar novas enfermidades para apoiarem seus negócios. É natural, então, que uma oposição ferrenha, embora invisível e não declarada, tenha sido coorde­nada por forças economicamente superiores às instituições que regu­lamentam e efetivam a prática mé­dica no Brasil. Mas Dr. Áureo Lu­dovico busca a discrição e opta não tangir este tema frontalmente, em­bora admita que é possível que haja um “temor” nestes grupos.

A diabetes tipo 2, uma vez esta­belecida no metabolismo humano, ou o paciente tem que viver com remédios o resto da vida e manter uma vida estritamente regulada, ou buscará a cirurgia que traz índi­ces positivos de curas ou remissões. Entretanto, Dr. Áureo deixa claro que nem todos os pacientes pode­rão passar pelo procedimento, caso os exames indicarem condição de saúde que não satisfaça os requeri­mentos necessários à cirurgia.

Na entrevista ao Diário da Ma­nhã, Dr. Áureo Ludovico explicou que, em 2010, obteve um parecer técnico favorável à sua prática ci­rúrgica, estabelecido por 42 espe­cialistas e ilustres nomes da área que compuseram a Câmara Técni­ca de Cirurgia Bariátrica e Metabó­lica, entretanto, autocraticamente, a cúpula diretiva do CFM, isto é, não especializada, indeferiu a decisão técnica, algo que nunca acontece­ra antes no tribunal técnico do CFM.

Apesar de a cirurgia ser realiza­da amplamente em outros países, como Portugal, Itália, Índia, Estados Unidos e França e que esteja farta­mente documentada em dezenas de publicações científicas e revis­tas nacionais e internacionais que citam o nome do médico goiano, houve essa negativa do órgão má­ximo que regula a Medicina no País.

Em entrevista à Folha de S. Pau­lo, Áureo arremata quanto foi per­guntado o porquê da discordância entre a Justiça e o CFM: “a cúpu­la diretiva, integrada por médicos sem nenhuma vivência na área, é que discordou por motivos que somente eles podem responder.”

Além dos embates médico-ju­diciais enfrentados pelo cirurgião goiano, nestes últimos 15 anos, aconteceram também denúncias e perseguições, de veículos de mídia e por parte de cerca de uma dezena de pacientes e advogados, relacio­nadas à acusação de experimenta­ção médica. Todas as ações movi­das contra o goiano, embasadas nesta premissa, caíram por terra com a decisão do TRF-1.

DESABAFO

Momento “raríssimo” de felici­dade na vida profissional e pessoal do médico que “apanhou”, segun­do disse ele, oito anos ininterrup­tos por conta das acusações, ele desabafa o sofrimento que lhe foi imposto e confidenciou ao Diário da Manhã os detalhes que o fe­riram neste período, do qual, se­gundo ele, saem vitoriosas a hu­manidade e a Medicina.

PERFIL

Nome: Áureo Ludovico de Paula

Idade: 55 anos

Formação: Médico pela Universidade Federal de Goiás (UFG); Doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP

Atuação: Membro de equipe de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital de Especialidades de Goiânia, Hospital das Américas, no Rio e Sírio- Libanês, em São Paulo.

Além disso, o nome do sr. de Paula está difundido no meio médico-acadêmico mundial por uma quase centena de artigos e publicações científicas disponíveis nas bibliotecas e banco de dados de ciência especializada em sua área de atuação

422 milhões de adultos, em todo o mundo, têm diabetes. Doença é a responsável por 1,6 milhão de mortes a cada ano

Confidências de um sofrimento

Médico explica por que seu procedimento, que pode curar, na maioria dos casos, o diabetes tipo 2, foi tão perseguido e ainda poderá sofrer mais embates: “O progresso chega, mas antes ele apanha”

CONFIRA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA REALIZADA NO ESCRITÓRIO DO CIRURGIÃO, EM GOIÂNIA

Diário da Manhã – O senhor conseguiu uma vitória definitiva na Justiça. O DM publicou [anteontem] o resultado jurídico desta saga acusatória contra o senhor. O título da manchete foi Discípulo de Hipócrates vence conluio de hipócritas. Fique à vontade para dizer o que quiser, o que sentiu e o que sofreu até que fosse inocentado pelo TRF-1.

Dr. Áureo – Olha só, quero te dar uma notícia. Quando um pro­cedimento médico é bem funda­mentado, isso se chama progresso. Eu só vou progredir se eu trans­gredir. É claro, eu só vou trans­gredir porque estou fundamen­tado na melhor ciência, eu estou fundamentado em resultados, eu estou fundamentado em A, B e C. Só que eu quero te dizer, a palavra que você está usando como “trans­gressão” às regras, num futuro bre­ve, vai ser chamada de progresso.

Uma vez, um chargista me bo­tou deitado numa maca. Enges­sados os dois braços, engessadas as pernas e engessada a barriga e a frase: “engessaram o médico”.

Nós padecemos de um mal ab­surdo; que é a cidadania passiva. Você, beneficiado, você acomoda. Não é que você faz isso por mal­dade…, mas é da índole. Quan­tas guerras civis já tivemos aqui?

Quantas pessoas… Eu ainda falei isso pra ele, hoje: Batista, eu mandei sua reportagem, hoje, para muita gente no Brasil, e vou te ser honesto e transparente. Você acre­dita que várias e várias pessoas me perguntaram quem era esse jornalista que teve o peito de es­crever isso aí? Vou citar só uma figura importante. Romário Fa­ria. Outra pessoa: Fausto Silva. Quem que é esse maluco que ar­rumou uma manchete fantásti­ca dessa?, me disseram.

Eu faço um elogio rasgado para o Batista Custódio em diferentes ambientes e falo isso sempre para ele: “Batista, a sua vida, até você morrer, está calcada numa coi­sa: você vai apanhar muito. En­tão você, tal como eu, persona­lidade forte, tem que acostumar a apanhar”. Eu passei nos cinco rounds, quatro, apanhando, no canto, sem piedade. Você pode ter certeza. Rapaz... o que fizeram.

PIONEIRISMO

Há 28 anos, quando eu trouxe a cirurgia laparoscópica para o Brasil, o presidente do CRM daqui foi para a televisão e falou que eu estava fazendo um absurdo, que eu ia matar uma pessoa atrás da outra. Virou a maior revolução da cirurgia nos últimos 100 anos. Eu estava no nascedouro da coi­sa. Participei do desbravamento da laparoscopia.

A questão da diabetes está sen­do infinitamente pior do que lá atrás. Não sei se porque eu era muito jovem, e o jovem não tem a real dimensão das coisas. Não sei se é isso, mas a verdade é que eu sinto hoje muito mais do que naquela época. Agora, nós esta­mos mexendo com 450 milhões de pessoas no mundo. 15 milhões de pessoas no Brasil. O quarto re­médio mais vendido [para a dia­betes] vendeu a bagatela de US$ 28.5 bi no mercado norte-ameri­cano, no ano passado. Imagine...

Ano passado, eu operei no Con­gresso Americano de Cirurgia. Fiz essa cirurgia. Se pegar um strea­ming desses, à época, milhões de cirurgiões podem ter assistido. En­tão, hoje, o que este pessoal teme tanto? Porque eles sabem que a nossa capacidade de geometri­camente aumentar esse procedi­mento é absurda. Quando come­çou a laparoscópica, todo mundo achava: “não, isso vai gastar 30 anos para evoluir”. Em dois, três anos, já tinha revolucionado toda a cirurgia e todo mundo fazia. Com a capacidade que você tem, com vídeos, com internet, com tec­nologia, a ciência é instantânea. Você não consegue segurar seu co­nhecimento nenhum dia. Moral da história: esse pessoal tem ver­dadeira razão de temer qualquer coisa. Isso vira-se o jogo.

Você com a sua empresa de T.I, fica esperto. O seu futuro bri­lhante de hoje, pode ser amanhã... Quantos exemplos? Eu tinha um BlackBerry que eu achava aquilo máximo. Já tive máquina Kodak, etc. Hoje nem existe mais. O que esse pessoal teme? Que uma coi­sa nesse porte possa vir de uma forma avassaladora.

UM CASO

Um paciente estava ali [na sala de espera], agora. Seu MV. Glico­se lá no teto quando operou há 30 dias. Me trouxe, agora, a glicose atual: tudo normal, melhor que a minha e a sua. Ele virou para mim e disse: “Dr., joguei meus re­médios fora. Não estou toman­do nada. Minha mulher inclusi­ve tá criando caso, que eu tinha que tomar remédio para pressão e eu falei pra ela que não preci­sava, pois meus exames estão to­dos normais”. Então, verdadeira­mente, você pode ajudar. É óbvio, e nós temos feito absoluta questão de informar, que isso não vai ser para 100% das pessoas. Núme­ro um: existe um subgrupo que não vai poder fazer [o procedi­mento cirúrgico]. Dois: existe ou­tro subgrupo que não vai curar. Podem melhorar, mas não vão curar. Terceiro: existe um subgru­po, diminuto, ínfimo, que pode complicar. Ninguém, então, está divulgando uma panaceia. Exis­tem publicações minhas, no exte­rior, já há dez anos, com as esta­tísticas relacionadas ao grau de cura. Tudo documentado. Nin­guém está vendendo uma pana­ceia. Não há necessidade.

Diário da Manhã – O que aconteceu, então?

Dr. Áureo – O órgão máximo [Conselho Federal de Medicina, o CFM] juntou as melhores ca­beças. Quarenta e dois [42]. Em múltiplas reuniões sequenciadas. Essa turma aprovou, lá atrás! Os melhores técnicos, professores, so­mentegenteilustreda área, aprovou isso lá em 2010. O que que a turma do adminis­trativo fez? Sem lau­do, sem contra lau­do, sem nada... Ou seja, a autarquia, na verdade, ela é uma autocracia. Por quê? Porque fazem o que querem, do jeito que querem, independentemente do que eu, você, ou qualquer um fale. E outra, tem mais isso: tudo docu­mentado. A coisa é de tal forma autocrática que ela fica documen­tada e estamos feitos. São estes do­cumentos, de forma absurda, que fizeram os desembargadores, tri­bunais, etc., darem uma decisão destas [que impediram o Dr. de atuar]. Acha que eles iam afron­tar o órgão máximo?

A MÍDIA

Ano passado teve um episódio bacana. A IstoÉ me ligou queren­do fazer uma reportagem. Eu pen­sei: “não vem coisa boa”. Docu­mentadamente, o procedimento foi sendo elaborado ao longo do tempo. Tanto é que eu sempre fiz um compromisso: aquilo que não tiver documento, eu não mencio­no. O motivo é claro: essa é uma área de vasta importância. Ima­gine. Você [o repórter] faz uma re­portagem dessas, tem um poten­cial de atingir milhões de pessoas. Sabe-se lá o que que é isso? A IstoÉ mandou um e-mail com as per­guntas. Eu respondi uma a uma e virei e escrevi: “como embasa­mento das minhas respostas, se­guem documentos, um, dois, três, quatro”. Mandei cerca de 30 do­cumentos, sabe o que aconteceu? Não fizeram a reportagem.

Pega a última reportagem da Folha de S. Paulo sobre isso. Quem me entrevistou foi um jornalista, e eu observando o encaminhamen­to do cara, falei assim: “Seu fula­no, estou estranhando o senhor. O senhor é muito sabido. Ou você leu exaustivamente sobre o tópi­co, ou você tem alguma formação na área biológica” E ele respon­deu: “Dr., eu sou doutor na USP pela área de Biologia”... A maté­ria ficou perfeita, basta digitar no Google: “Folha de S. Paulo inter­posição ileal”. Sabe o que ele fez comigo? “Dr., mande por favor todos os documentos”. Respondi: – claro que mando, já estou com todos eles disponíveis, por man­dar pra todo o mundo, mando também pra você.

A importância do tema [a dia­betes] diz respeito, especialmen­te, da prevalência do problema. O outro lado importante é que, apesar de termos enormes avan­ços na área, no tratamento com remédios, a verdade pura e crua é que os remédios não resolvem. Eles apenas paliam o problema. Daí é que surgiram os problemas [contra o método].

Diário da Manhã – Dr. Áureo, nos dê alguns números aí...

Dr. Áureo – Diabetes é a prin­cipal causa de cegueira. Diabetes é a principal causa de amputa­ções. É a principal causa de fa­lência de rins e hemodiálise. É a principal causa de neuropa­tia. É a principal causa de dis­função erétil. É a principal cau­sa de cardiopatias: as doenças cardíacas. 85% dos doentes dia­béticos vão mor­rer do coração. Então, os núme­ros são magnâ­nimos em todos os sentidos. Por isso que se reves­te o tema da im­portância que ele tem. Muitas pes­soas, que não são do ramo, elas es­tranham esse embate tão inten­so [contra a gastrectomia ver­tical com interposição ileal].

Olha... o Batista Custódio é tes­temunha e, se você ver as repor­tagens, você vai perceber. Nós já tivemos momentos, aí, terríveis. Esse Batista mesmo me salvou de tantos aí, porque ele manteve uma postura transgressora às opiniões vigentes. E pasmem! Você emitir uma opinião que transgrida opi­niões vigentes, não é para qual­quer um. Uma coisa é você falar assim: “O Brasil é um país de cli­mas maravilhosos”, agora, você vir com uma tese, que transgrida o que há no momento... Olha, isso não é para qualquer um. Não é! E o Batista tem a singular caracte­rística de ter feito isso comigo, mas, na verdade, ele faz isso a vida in­teira. Há cerca de 40, 50 anos, ele fez um artigo contra a cassação de Iris Rezende. Moral da histó­ria: eu só tolerei tantos absurdos, ao longo do tempo, porque eu tive o apoio de raras [ênfase], rarís­simas pessoas ao longo do tem­po. Dentre eles, Batista Custódio. O Batista já escreveu coisas, nes­sas reportagens sobre o tema, que ninguém teve coragem de escre­ver. E outra, está escrito, só para dizer que não estou exagerando.

Não é fácil. Se você conversar com a pessoa enferma, nesta área, você vai entender o que é sofrimen­to. Não tem muito tempo atrás, eu operei um bilionário americano. A mulher dele virou para mim e falou assim: “Dr., a única coisa que põe esse homem de joelhos, que ele não compra, é a saúde”. Falou desse jeito... Está curado. Ele foi um caso fantástico.

Então, tivéssemos tido uma pos­tura altiva, positiva, de enfrenta­mento, dos que se beneficiaram, essa coisa [os anos de persegui­ção contra o procedimento cria­do por Dr. Áureo] tinha tomado um contorno diferente. A verdade pura e crua, e aqui eu nem criti­co, eu nem falo isso... é que a cida­dania passiva é da índole nossa. Todo mundo achou que prenden­do o Lula ia cair o mundo. Caiu o mundo? Presta atenção, caiu? Honestamente? Achava-se que ia ter uma revolução. “Oh, vai ter morte!”, diziam. “O exército do Stedile [o dirigente do MST] vai quebrar o Brasil inteiro.” Teve isso? É a índole. Cuidado com a índole brasileira, com a índole passiva do brasileiro. Muito boa por um aspecto, mas terrível por outro. Esse caso nosso [a guer­ra judicial contra Dr. Áureo] é um exemplo. É claro que, intima­mente, meu celular ficou cheio de recados, mas, publicamente, ninguém move uma palha.

Veja bem, o próprio Batista Cus­tódio. Esse apanha, hein? Apa­nha! Hoje ainda comentei com ele. “Batista, você está dando es­paço pro Ronaldo Caiado em seu jornal, você está apanhando mui­to Batista?”, fiz essa pergunta de maldade [brincadeira] com ele. Falei assim: “posso imaginar o que você está apanhando”, afi­nal, dar espaço para Ronal­do Caiado num ambiente que também é palanque marconis­ta... ah, esse apanha! O Batis­ta sempre se ferrou [para de­fender a liberdade].

Diário da Manhã – O que o senhor sentiu ao longo desse processo?

Dr. Áureo – Para rela­tar isso, em um nível pes­soal, filhos meus tiveram bullying dentro da escola. Eu tive que ir à escola dos filhos por bullying! “Você é filho de... que está fazendo experimentação em pleno século XXI.”

Diário da Manhã – Quase bruxo...

Dr. Áureo – Quase um bru­xo... Inclusive fizeram uma outra charge de mim como um bruxo. Quem fez? [Parou para pensar...] Tenho dois amigos meus, no exterior, que são médicos-ilustrado­res. Foi um deles que me man­dou uma coisa nesse sentido: – Olha, a sua alquimia salva. No entanto, desde sempre, al­quimista sofre, Áureo.

Até dentro da minha família, muita gente... Uma irmã minha virou e falou para mim: “meu ir­mão, mas você está fazendo ex­periência em gente? Meu irmão do céu, você ficou louco? Se meu pai tivesse aqui...” – eu perdi meus pais desde cedo – “ele ia te bater na cara, pra você aprender a vi­rar homem!”. Dentro da minha própria casa.

Um dia, o Cremego quis obri­gar, isso foi inclusive noticiado na televisão, jornal e tudo, que eu assinasse um termo de ajus­tamento e conduta de posturas minhas. Eu só não assinei por­que um juiz fez um mandado de segurança dizendo que eu não era obrigado assinar um negó­cio desses, sem antes as coisas [os processos] terem seu finalmen­te. Pode escrever isso aí. Tenta­ram me obrigar a assinar um ter­mo de ajustamento de conduta pelo CRM de Goiás sem ter sido esclarecido nada do que estava acontecendo. Imagine, você, eu ter que assinar um negócio sem antes ninguém saber o que esta­va acontecendo. Isso nos dá uma ideia do que é o poder emanado destas autarquias.

Essa conversa de que nós temos que fortalecer as diferentes insti­tuições, isso é conversa de gente que quer nos catequisar para que nós fujamos da essência do proble­ma. Olha o que está acontecendo no Supremo. Primeiro que aqui­lo não poderia ser chamado de Supremo. Pois, no meu entender, Supremo é a Divindade ou Algo que você acredita que exista por aí. Como é que um ambiente da­quele pode ser chamado de Supre­mo? Desculpa, nós teríamos que mudar aquele nome. Segundo, como é que você pode imaginar que a jurisprudência vai mudan­do ao sabor das pessoas que lá es­tão? Então, que história é essa de fortalecer as instituições? O que nós temos que fazer é fortalecer os critérios de limpeza, de pure­za, de purificação das diferentes pessoas nas diferentes instituições. É isso! Não precisamos fortalecer instituições. O que precisamos é criar mecanismos de ajustes den­tro das diferentes instituições. Você entra dentro de uma instituição aí, você faz a maior m. protegido pelo CGC, o seu CPF nunca está à disposição, nunca. “Ah, mas para nós termos um MP forte, para ter­mos uma instituição forte, nós te­mos que proteger as pessoas da...” Não, ninguém está dizendo o con­trário. O que estou dizendo é que é preciso criar critérios de perfor­mance para quem está lá. Olha o que aconteceu com o Janot e a Dod­ge ago­ra. Ou seja, o problema, aqui entre nós: vamos evoluir!

Oproblema não é fortalecer instituição, é for­talecer critério de performance das pessoas enquanto atuantes naquelas instituições. Quer di­zer então que a juris­prudência do Supre­mo Tribunal Federal vai mudar à mercê das pes­soas que entram e saem de lá? Aonde que estará a força da instituição? Agora, temos que assegu­rar a longevidade para eles lá? Tudo perfeito. O indivíduo que está lá, ele realmente pre­cisa ter um corpo her­meticamente blindado para ele tomar atitudes de independência que vão contra o seu e o meu pensamento, mas daí você endossar e ele ter a rega­lia, a primazia de atitudes quaisquer que sejam... Es­creva! Um dos nossos minis­tros escreveu: “interpretar literalmente o que está es­crito na Constituição não é o melhor caminho herme­nêutico”... Uai! Quer dizer então que o que está escri­to lá, literalmente, não é o melhor entendi­mento? Não é o me­lhor caminho her­menêutico? Uai! Quer dizer que o indivíduo que está lá inter­preta do jeito que ele quiser? Ele que é guar­dião da Consti­tuição? Estáes­crito! Um dos ministros fez uma pérola dessas! Vocês viram a últi­ma discussão do Gilmar e do Barroso? Que pérola! Que pé­rola! Quer me convencer que o problema é a fra­queza das institui­ções? Não é! É por­que nós não temos critérios de perfor­mance para o indi­víduo enquanto na­quele negócio.

O CFM é um pro­blema claro. Imagi­ne! O que você acha de um governo em que ele, no melhor estilo ditatorial autocrático, ele executasse, ele legislasse e ele julgasse? Você dirá: – Áureo, isso é um absur­do! – Pá! O CFM é isso, meu amigo! Ele legisla, ele jul­ga e ele emite teses ético­-científicas. Você quer me dizer que nós não precisa­mos criar critérios de per­formance para as pessoas que lá estão? Sabe o que vai virar? Autocracia! Aquilo não é uma au­tarquia, aquilo é uma autocracia, ponto final.

Criam-se as câma­ras técnicas, conselhos técnicos [referindo-se à Câmara Técnica de Ci­rurgia Bariátrica e Me­tabólica, composta em 2010]: – Nós precisamos de conselhos técnicos com as mais iluminadas mentes para emitir pareceres técnico-científi­cos sobre as diferentes cirurgias, teses, medicamentos etc. – Tudo bem, vírgula! – Desde que em si­metria, em consonância, em per­feito casamento com o grupinho que está lá em cima – Porque caso não seja assim, olha o meu exem­plo! – Refutamos o laudo técni­co-científico da câmara técnica – Mas, qual a argumentação? – Não tem! – Pois bem, fizeram isso! Aí você fala para mim que isso é democracia? Não, isso não é de­mocracia, isso é autocracia!

A origem, portanto, dos proble­mas, está no nosso antigo, medie­val – medieval! – princípio de for­talecimento das instituições. Isso é uma tese antiga e ideológica que só serve às diferentes ideologias. O que precisamos é de critérios de performance. Tudo bem, vamos fortalecer todas as instituições, mas nós precisamos de fortaleci­mento verdadeiro dos critérios de purificação. Que história é essa de reeleição indefinida de todo mundo? Isso é o maior erro. En­tre num sindicato desses, qual­quer sindicato. É o mesmo gru­peto desde sempre. Entra dentro dos partidos aqui [em Goiás]. De quem é o DEM? É do Ronaldo. De quem é não sei o quê? É de fulano. De quem é não sei o que lá? É de ciclano. De quem é o MDB? É do Iris e do Maguito. A gente comen­ta essas coisas com o mais digno respeito. O Iris é um segundo pai para mim, entretanto não pode­mos renegar essa característica natural das instituições e orga­nizações que existem no Brasil.

Diário da Manhã – A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia também entrou na jornada contra seus feitos?

Dr. Áureo – Sendo objetivo com sua pergunta, o posicionamento deles foi mais ou menos o seguin­te: – Não, nós precisamos aguar­dar para ver os resultados –, dis­seram. Mas o problema, Arthur, é que o futuro chega...

[Trilililim... Trilililim...!]

[O relógio inteligente no pu­nho do entrevistador, um Apple Watch (), começou a tocar. Era uma chamada do jornalista Ba­tista Custódio, cancelada para dar continuidade à entrevista]

... Essa coisa [toda perseguição contra o procedimento criado por Dr. Áureo] já tem 15 anos. Com 15 anos o futuro chegou. Mas escu­ta, o futuro chegou e as opiniões são as mesmas? O futuro chegou e as opiniões são as mesmas, por­tanto, o que se deduz? Que atitu­des são meramente protelatórias. Que não há interesse em mudan­ça do status quo, não há.

Em síntese, se você pegar a opi­nião do Colégio Brasileiro de Ci­rurgia Digestiva? A favor. Se você pegar a opinião da Sociedade Bra­sileira de Endocrinologia? Eles são em cima do muro, acham que precisam aguardar...

Diário da Manhã – Mas doutor, espera um pouquinho, já são 15 anos, quando é o aguardar? O futuro não vai vir?

Dr. Áureo – É... e um detalhe importante, sabe Arthur, em Me­dicina existe uma realidade ba­cana: a verdade é transitória. É uma coisa agressiva de se ouvir... Imagine você, um matemático bri­lhante, que trabalha com axio­mas básicos que nunca mudam. Axiomas, axiomas!, você traba­lha com isso! Geometria analí­tica etc. Tudo bem, um axioma? 1+1 é igual a 2. Não tem 1+1=3. Em Medicina é diferente. As coisas são verdades transitórias. Verda­des transitórias! A minha mãe já chegou a operar o estômago para tratar úlcera. Hoje se trata com re­médios. O problema, no entanto, àquela época, a cirurgia dela foi salvadora. Você acha que eu es­tou achando que daqui 100 anos nós vamos estar operando? Não. De repente, daqui 100 anos esta­remos fazendo uma coisa absolu­tamente inovadora que nós nem temos hoje. Tudo bem! Mas você não pode esperar 100 anos, meu amigo. Na verdade, seu futuro estará inexoravelmente fechado nos próximos anos. Então, pres­te atenção, nós trabalhamos com verdades transitórias. “Ah!, mas nós precisamos de mais estudos para o futuro...” Tudo bem, o futu­ro chegou! Deixa ele te dar bom­-dia. Bom-dia, o futuro chegou!

As diferentes pessoas que neces­sitam de um tratamento x, qual­quer que seja, hoje, elas não têm a possibilidade de negociarem o futuro. Elas não têm ainda a pos­sibilidade de negociarem uma in­terrupção do progresso do proble­ma. Ou seja, quando o problema progride, você vai precisar tomar uma atitude hoje. E o que nós te­mos, hoje, é isso, ponto. Eu citei o exemplo da minha mãe porque é uma coisa real, dentro da minha própria casa. 50, 40 anos atrás, ela fez uma cirurgia absurda hoje, salvadora à época. Portanto, nin­guém está dizendo que essa cirurgia seja a última palavra em termos de tratamento. Hoje, ela efetivamen­te põe a doença em remissão em partes de 90% das pessoas, pon­to final. Se você puder esperar 35 anos ou 40 anos por algo inova­dor que está vindo no futuro, tudo bem, sente-se e espere. Mas a ci­dadã ali não vai poder esperar. Ela não poderá esperar. Até por­que, daqui estes 35 anos a doen­ça já detonou com ela, com você ou comigo.

Essa é a realidade. Ninguém vende uma alternativa de trata­mento cirúrgico como uma rea­lidade que será eterna. Ninguém pode vender isso.

Diário da Manhã – E os casos abertos que te envolviam?

Dr. Áureo – Eles foram para o Conselho Federal de Medicina, fo­mos absolvidos do ponto de vis­ta médico, em todos. O que ficou subjacente em dois deles? O pro­blema da experimentalidade... Que foi agora por água abaixo.

Diário da Manhã – Mas e quanto à pessoa que operou e teve problemas?

Dr. Áureo – Claro que vai ter problemas. Como em qualquer procedimento pode ter. Quem é que pode, em sã consciência, vir num jornal de prestígio igual ao seu e vender o absurdo da ideia de que o que se faz é imaculado, de que não existe riscos? Não é isso! Esse tripé precisa ser bem equa­cionado. De um pé, está o pacien­te e os seus riscos inerentes. De um outro, a estrutura médica e de ou­tro, o profissional. Essa equação, ela precisa ser adequadamente di­mensionada. Quando você vai fa­zer qualquer que seja o procedi­mento, você sempre tem que ter em mente esse tripé. Primeiro, como está o paciente? Dois, como está o hospital? Três, a equipe médica, o profissional, estão adequadamen­te preparados para isso? Esse é o terceiro risco iminente. O quarto? Vamos deixar para a Divindade, ponto. Até porque, se você concor­dar, entenderá que nada é mais tirânico do que o acaso. O acaso vem na nossa vida, de uma tira­nia absurda e te faz refém.

Diário da Manhã – O senhor está feliz?

Dr. Áureo – Estou feliz. Feliz por ter amigos à la Batista Custódio. Esse cidadão foi importante na minha vida. Já falei para ele vá­rias vezes: “Rapaz me ponha para pagar o que tenho que pagar para você! Rápido! Rápido! Me ponha para pagar, ponha preço, ponha favor, ponha o que você quiser, eu não quero é ficar em débito com você”. A minha amizade ele terá a vida inteira.

Diário da Manhã – Agora, o senhor é inocente pela Justiça...

Dr. Áureo – Olha, antes de en­cerrarmos, eu tenho uma palavra, do ministro do Supremo Ricar­do Lewandowski, que eu gosta­ria que você escrevesse aí. Olha, fazendo minhas as palavras do ministro Lewandowski: “A Justiça faz bem à Saúde”. Todo mundo é contra a judicialização da saúde, eu não sou. Pelo contrário, para mim não existe poder moderador maior do que a Justiça. “Ah, mas a Justiça erra!”, erra mesmo! Nós temos, e já dissemos!, é que criar mecanismos de clareamento, de purificação e de performance. E eu vou te dizer mais uma vez: a Justiça faz bem à saúde, fazendo minhas as palavras do ministro Ricardo Lewandowski. Verdade absurda! É o poder moderador. Tanto é que dos poderes, é o que está menos comprometido. Você pode até achar que qualquer hora dessas vai acontecer uma Lava Jato da Justiça. Pode até ser que seja, mas quero dizer a você de antemão o seguinte: a Justiça faz bem à saúde. Esse negócio de ju­dicializar a saúde, isso não é de­feito. Está bom?!

Diário da Manhã – Tranquilo.

Dr. Áureo – Fiquei muito feliz com a sua visita. Foi um prazer enorme recebê-los.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias