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“O homem sem a natureza vai morrer de solidão”, afirma fotógrafo

‘Registro histórico de um tempo em sua vida’. As­sim define ‘fotografia’, Nunes D’Acosta. ‘Quando a fotogra­fia é visualizada, a pessoa se remete àquele momento. A fotografia excita as suas lembranças e, por isso tem gosto, cheiro e provoca emoções.’

Com 13 anos em Firminópolis, Nunes da Costa já fotografava ca­samentos. Aos 14 anos, fez um tra­balho para Leonino Caiado e foto­grafou a última fronteira de Goiás, que era a região de Crixás.

Na década de 70, Nunes traba­lhou com grandes retratistas de sua época, como Décio Marmo, Alois Feichtenberger, Hélio Nunes, quan­do aprendeu a fazer fotojornalis­mo. José Hidasi o fez tomar gosto por passarinhos, embora antiga­mente eles só podiam ser fotogra­fados empalhados. Com o adven­to da máquina digital, tudo mudou.

Consuelo Nasser foi uma de suas incentivadoras. Amiga, ela lhe deu grandes lições de vida, além de ter alavancado sua carrei­ra, colocando-o em contato com a alta sociedade goianiense. Poste­riormente, lhe inseriu em Brasília, onde ele tem registro de grandes trabalhos. Fez muitas capas para a Revista Presença, dirigida por Con­suelo. Foi ela que lhe batizou com o nome artístico de Nunes D’Acosta.

É de Consuelo Nasser a se­guinte frase, referindo-se a Brasí­lia: “me diga onde moras e te direi quem és”. Para ela, o burburinho pertencia ao Lago Sul.

Hebert Morais foi outro grande incentivador, e lhe colocou para fazer as fotografias de Daura Sabi­no. No projeto Goiás Rural, Nunes teve a oportunidade de ter con­tato com os bichos: passarinhos, peixes, capivaras.

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

Analisa que hoje são poucas pessoas que têm consciência eco­lógica. Não sabem a importância de uma borboleta, de uma minho­ca, de um beija-flor, de uma ave que canta no amanhecer e no oca­so, de um gambazinho, e explica que isso é importante porque tan­to a fauna quanto a flora são par­tes de nós. Uma ave ou um pei­xe demonstram que aquele lugar está ‘bom’. A natureza com suas ár­vores, nascentes, cursos d’agua, os animais os as aves são indicado­res que aquele lugar está vivo. Um sapo coaxando indica que a água está sem poluentes, e floresce: ele tem o que comer, onde se refugiar, revelando que há uma complexi­dade ambiental capaz de propor­cionar o reduto onde a vida flui.

Nunes D’Acosta avalia que quando uma árvore é cortada, todo um sistema ambiental é di­zimado, e sem esse ambiente, o ser humano é afetado, porque é par­tícipe desse ecossistema.

“O homem não pode viver sem o canto do sabiá, da curicaca, sem o rugido da onça, e se ele é tirado des­se ambiente original em que foi con­cebido, ele vai morrer de solidão.”

Também acredita que o ser hu­mano é um cordado, ou seja, em um certo período das nossas vidas, homem e bicho são iguais, estando em dentro de um ciclo evolutivo. “O sapo, na formação gênica do óvulo, é uma criança na gestação, pois esta se parece com um peixe, com um gi­rino, enquanto é formada.”, afirma.

Também considera que o ser humano na cidade como está con­cebida, sofre grande violência, pois está separado do ambiente para o qual foi concebido inicialmente, ou seja, em meio à natureza.

Sobre os remanescentes de na­tureza cita o a bacia do Rio Meia Ponte, que envolve o Bosque do Jardim Botânico do Cerrado, mais conhecido como Parque do Cerra­do. Lamenta que nossas nascen­tes estejam sendo invadidas por hortaliças, plantações de tomate, envenenadas por agrotóxicos ou produtos químicos. “É crime am­biental que não está sendo devi­damente tutelado pelo Ministério Público. A biodiversidade precisa ser preservada, e não há político interessado nisso, pois geralmente estão envolvidos com a especula­ção imobiliária”, denuncia.

Como estudioso da biodiversi­dade, afirma ser o Parque do Cer­rado um remanescente de passari­nhos, insetos, árvores, no meio de Goiânia. Nunes define como “uma riqueza ecológica inigualável, além de ser um contensor de águas, uma verdadeira esponja em céu aberto.”

As aves que habitam o Parque do Cerrado, faz biólogos de todo mun­do rir, pois os mesmos, incrédulos, dizem que elas estão ali por proces­so de soltura, pois aquele ecossis­tema guarda aves que existem na Mata Atlântica e na Amazônia. E jus­tifica: ‘quem tem asas não tem limi­tes.’ Ele conta que foi educado por seus pais a respeitar a natureza. “O respeito vem através da educação”.

Participa do grupo de fotografia Goyaves, que é uma organização de observadores de aves de Goiânia e do Estado. Se tornou historiador de aves, e reparte essa iformações com grandes biólogos do mundo. Suas fotografias são enviadas para os Es­tados Unidos, África do Sul, Suíça, Holanda, e até Emirados Árabes, onde uma amiga comanda uma agência de informações sobre os ecossistemas do mundo.

E finaliza: “o homem precisa vol­tar às origens.”

O homem não pode viver sem o canto do sabiá, da curicaca, sem o rugido da onça, e se ele é tirado desse ambiente original em que foi concebido, ele vai morrer de solidão”

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