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COTIDIANO

A busca do corpo perfeito

  •  Entre as intervenções cirúrgicas, operações com fins reconstrutores aumentaram 23%, enquanto cirurgias de finalidade estética deram salto de apenas 8%

A era digital trouxe avanços tecnológicos, mas também uma preocupação aliada ao excesso da influência da mídia sobre os jovens em busca da “bele­za ideal”. Nunca se ouviu falar tanto em procedimentos estéticos como agora, em que o excesso de imagens que idealizam o corpo esbelto nos aplicativos, na internet e na televisão são vendidas como uma forma ideal de se sentir bem, e ter a “vida perfei­ta”. Mas é exatamente em cima des­sas “imagens perfeitas” que nascem as frustrações com o corpo, e com a pele, desencadeando uma série de problemas psicológicos geran­do autoestima baixa e até mesmo desprezo pela própria vida.

As últimas notícias sobre mortes em procedimentos cirúrgicos esté­ticos com o PMMA (polimetilmeta­crilato–plástico em formato de es­feras utilizado para preenchimento corporal) para o procedimento cha­mado Bioplastia não reconhecido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), têm deixado os médicos e principalmente os psi­cólogos em estado de alerta com as mulheres que estão cada vez mais obcecadas pela estética corporal. O produto pode causar sérios danos à saúde causando a morte.

A busca pelo rejuvenescimento precoce têm crescido muito no Bra­sil, fazendo com que a saúde seja deixada de lado priorizando apenas os resultados estéticos que as cirur­gias e procedimentos podem trazer. Assim como demonstra o Especia­lista em Cirurgia Plástica, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica desde 1997, Fabiano Rady Daud, 49: “Não há procedimento intervencionista algum sem risco. A necessidade de sucesso pessoal associado à beleza ditada pelas mí­dias sociais têm distorcido os valo­res e convicções”, reforça.

A procura precoce por procedi­mentos estéticos teve um aumento considerável nos últimos dez anos, e a justificativa é sempre a mesma; procuram os procedimentos por causa da longa jornada de trabalho, que acelera o envelhecimento da pele causando rugas, manchas, e olheiras. E usam os procedimentos estéticos e cirúrgicos para a melho­ra da “auto estima”. Aline Fonseca, 32, proprietária de clínica de esté­tica em Caldas Novas, acredita que as pessoas procuram os procedi­mentos para se verem bem peran­te a sociedade: “A sociedade evo­lui e traz inovações. Elas ocorrem na tecnologia, na vida das pessoas, na moda, e no desejo de alcançar a imagem ideal. E as pessoas se sen­tem motivadas a mudar, cuidar do corpo, da saúde em um todo, e de serem bem vistas e admiradas pe­las outras pessoas”. Acrescenta.

Segundo a Sociedade Brasilei­ra de Cirurgia de Dermatologia / Regional de São Paulo (SBD/SP), “nos últimos dois anos, a procura por procedimentos estéticos não cirúrgicos aumentou 390%. Entre os cirúrgicos, as operações com fins reconstrutores subiram 23%, en­quanto as cirurgias com fins estéti­cos, apenas 8%. Os dados foram re­tirados da pesquisa do Censo 2016 que entrevistou 1.218 associados de todas as regiões do país. E a psi­cóloga Lorena Bueno Belchior, 36, exemplifica as motivações pelas quais as pessoas têm procurado tanto esses métodos para alcançar os objetivos tão almejados relacio­nados à beleza física: “A população brasileira é considerada a mais vai­dosa do mundo; com a facilidade de divulgação e de acesso à infor­mação e as facilidades de parcela­mento nos pagamentos dos pro­cedimentos, e também o advento das redes sociais, com toda a expo­sição pessoal e profissional que te­mos hoje em dia, com a vontade de melhorar ou mudar “algum defeito” no corpo, são fatores que influen­ciam no aumento dessa estatística.

Para Luciano Chaves, ex-presi­dente da SBCP, houve um aumen­to de 30% entre os anos de 2014 a 2016 na procura por procedimen­tos estéticos não cirúrgicos por se­rem menos invasivos e mais pre­ventivos por causa da redução de custos e da qualidade e disponibi­lidade dos serviços ofertados por estes profissionais. Fabiano Daud, comenta sobre esse aumento na procura por estética e as formas paliativas que as pessoas procu­ram para resolver esses problemas: “Nossa comunidade tem se sujei­tado a procedimentos de maior ou menor porte buscando na maioria das vezes, o máximo de resultado com o mínimo investimento. Nes­ta brecha da oportunidade está o aumento de riscos à saúde. Ofere­ce-se então os “milagres”, enfatiza.

Olhar no espelho e não se sen­tir bem (mesmo estando bonita) é falta de aceitação pessoal, e psi­cólogos alertam que para se sen­tir bem fisicamente primeiro é ne­cessário estar bem interiormente. Cuidar da saúde deve ser priori­dade antes de tudo, e os resultados chegam com disciplina em busca de qualidade de vida. O atleta Lu­cas Kaynnã explica muito bem essa perspectiva em uma única frase: “A estética natural como padrão de be­leza é consequência da boa saúde, e não o contrário”, afirma. E a psicó­loga Lorena B. faz um alerta para as pessoas que descontam nos proce­dimentos estéticos e cirúrgicos os traumas causados por problemas psicológicos (sejam eles quais fo­rem): “Quem sofre de baixa autoes­tima deve procurar primeiramen­te a ajuda de um psicólogo, para investigar qual a causa verdadeira desse problema”, comenta.

O uso da tecnologia está em to­das as esferas da vida, inclusive no cotidiano. Mas até que ponto a tela do celular interfere na vida dos in­divíduos causando o desejo de se tornar uma outra pessoa bem di­ferente? O celular desenvolve um processo de ansiedade, deixando evidente a construção de um “pa­drão” ao qual muitas pessoas não se encaixam. É na juventude exa­tamente entre os 20 e 30 anos as pessoas costumam se comparar com o outro, (principalmente as mulheres), e se rendem à pressão social das imagens digitais onde a maioria das pessoas acreditam que há um “padrão” a seguir.

Mas os procedimentos estéti­cos não são procurados somente por mulheres, homens também têm procurado as clínicas em bus­ca de rejuvenescimento, mas para eles esses procedimentos estão mais ligados à vaidade e à repre­sentação social. E se for de uma forma saudável, os procedimentos são super válidos como esclarece o personal trainer e modelo Breno Ruis, 27: “Faço sessões de depila­ção a laser nas regiões do peito­ral e nuca. Já fiz sessões de mas­sagem desportiva com objetivo de prevenir lesões pois treino seis ve­zes por semana e faço musculação há 14 anos. Decidi fazer os proce­dimentos por cuidado da estética, trabalho com a minha imagem e preciso estar sempre muito bem apresentável. E me sinto sempre muito bem após os procedimen­tos pois trabalho com os melhores instrutores da área”.

A imagem pode até alimentar a vaidade, mas não vai alimentar a auto estima pois é um processo de construção interna. E as imagens são um desejo do querer. Acom­panhar a vida de uma pessoa que vive uma realidade totalmente diferente da sua não é algo insa­no, mas querer viver como aque­la pessoa é como matar o amor próprio para alimentar uma ob­sessão desnecessária.

Por esse e outros motivos é in­dispensável o acompanhamento com profissionais habilitados para ajudar na hora da escolha de um procedimento cirúrgico e inclusi­ve estético como alerta a psicólo­ga Lorena B.: “Quem sofre de baixa autoestima deve procurar primei­ramente, a ajuda de um Psicólogo, para investigar qual a causa ver­dadeira desse problema. E deve­mos sim, fazer o que estiver den­tro das nossas possibilidades para nos sentirmos melhor, mas não a qualquer custo”. E ela ainda aler­ta sobre a escolha de realizar qual­quer procedimento: “Usar de auto análise, inteligência emocional na escolha e decisão para fazer um procedimento estético ou cirúr­gico é extremamente necessário; caso o resultado não correspon­da à expectativa criada”.

Para as mulheres, lidar com a vaidade é um processo cada vez mais complicado e estressante, que dependendo da dose pode causar distúrbios emocionais por não se sentirem confortáveis com a ima­gem do espelho. Para se adequar aos novos padrões que os aplicati­vos mostram é preciso abdicar da personalidade própria para se en­caixar em uma modalidade obs­cura. Algumas mulheres ficam tão deslumbradas pela beleza ideal das “vidas digitais” que chegam a en­trar em grupos sociais para obter procedimentos cirúrgicos à preços mais acessíveis clandestinamente. E após os procedimentos a frustra­ção com os resultados são os mais diversos; perdem a vontade de co­mer, de sair, e até mesmo de viver. Fabiano Daud esclarece a temáti­ca sobre os perigos dos grupos so­ciais e a organização através deles para fazer procedimentos tão sé­rios que modificam a vida das pes­soas: “Nos estarrece a todos tantos fatos negativos que surgem relacio­nados a intervenções em busca da beleza através de profissionais não qualificados. Porém há que se res­saltar, o caminho que os pacientes escolhem para buscar seus profis­sionais baseados exclusivamen­te nos grupos sociais não é valida­ção de sucesso.

A idealização das “vidas digitais” é preocupante. Às vezes as fotos em aplicativos são a proliferação de padrões dos quais provavelmente não fazem parte da felicidade real. Por isso não se pode terceirizar a responsabilidade de se sentir bem consigo mesmo para descarregar no corpo e na pele uma auto esti­ma “invejada”que não existe, no de­sespero de ser rejeitado pelos ami­gos, pela família e até por si mesmo pelo simples fato de não estar bem o tempo todo. E assim esquece de preencher as prioridades reais para viver uma vida plena sem muitos esforços; se gostar, se aceitar como é, aceitar as coisas de que goste de fazer, mesmo que sejam “esquisi­tas” aos olhos dos outros.

PADRÃO

Deixar de ter prazer nos gostos pessoais para atender ao “padrão” da sociedade com o olhar do outro é doentio. É necessário se acostumar com a autoimagem, ter aceitação pessoal para se sentir confortável consigo, e assim conseguir ter uma vida perfeita ao seu modo. Tomar a decisão de se fazer procedimento estético não é algo incomum, mas é necessário se preocupar mais com a estética da alma, alimentar os gos­tos pessoais, mesmo que sejam es­tranhos para os outros.

Fazer coisas das quais se sente bem para que a autoestima esteja em dia é dar alimento para que o espelho reflita uma imagem admi­radora. Porque a autoestima sim é o alimento que move a vida. Quan­tas pessoas se vê por aí usando as roupas da moda, vivendo em fes­tas, fazendo fotos nos App’s sem­pre sorrindo, mas que meia hora de conversa as fazem chorar pelo simples fato de se verem sozinhas em meio à multidão? Nessa era di­gital os sentimentos que mais per­duram são: o de solidão e o medo da rejeição. Por isso viver com a alma vazia é arrancar o amor próprio de dentro sem dar prioridade às pes­soas ao redor que “realmente” fa­zem bem. Viver sem alimentar o amor e a convivência com a famí­lia, sem ter hábitos saudáveis, sem construir amizades verdadeiras da­quelas que te fazem dar gaitadas, é ter uma vida seca sem graça. É fun­damental conter motivos para levar uma vida plena e “real”.

A sociedade evolui e traz inovações. Elas ocorrem na tecnologia, na vida das pessoas, na moda e no desejo de alcançar a imagem ideal. E as pessoas se sentem motivadas a mudar, cuidar do corpo, da saúde em um todo, e de serem bem vistas e admiradas pelas outras pessoas” Aline Fonseca, proprietária de clínica estética

Qualidade na modificação de hábitos

Modificar os hábitos para sentir bem é um processo ne­cessário, é fornecer à mente coi­sas boas, e assim estar feliz para se sentir bem com qualquer escolha. Se auto avaliar nes­se momento é extremamente importante, pois, internamen­te existem questões psicológi­cas das quais precisam ser trata­das: como traumas com alguma parte do corpo que não gosta, um bullying que sofreu na in­fância, uma violência sofrida em algum momento da vida.

Decidir entre cuidar da alma ou cuidar do corpo diversas ve­zes a vaidade fala mais alto e as pessoas se frustram com os re­sultados dos procedimentos, e as causas dessas frustrações são exatamente por não estarem com o psicológico preparado para esses tipos de métodos. e por vezes a procura de uma op­ção mais “em conta” acaba por aceitar qualquer método, que causa inclusive risco de vida. E convenhamos que para todo procedimento que seja clan­destino ou realizado por pro­fissionais ilusórios como vem acontecendo no Brasil afora, existem sérios riscos de seque­las e até mesmo de morte.

Cada pessoa têm uma parti­cularidade diferente, mas é pre­ciso estar atento aos porquês de seguir um caminho como uma forma paliativa de procrastinar os problemas internos e resol­vê-los com estética. Diversos problemas na vida pessoal po­dem desencadear a tendência de estar bem o tempo inteiro, o que de fato não acontece, todos têm dias ruins, e está tudo bem ter dias ruins. Visto que, bom mesmo é se libertar desses pa­drões e viver de acordo com que acha que se deve viver. Todas as transformações da vida come­çam internamente, de dentro para fora, e é um processo len­to, por vezes doloroso, mas é necessário se encontrar. É um papo de você com você mesmo para conquistar a liberdade pes­soal, com estímulos saudáveis, e alimento para alma fazendo com que a vida seja cada vez mais absoluta. Porque é!

Aline F. “A motivação maior é sentir-se bem consigo mesmo’’!

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