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COTIDIANO

Tradutores para a terra de João de Deus

  •  Médium João de Deus elogia inciativa e diz que turismo religioso precisa dessa atenção

O Colégio Tecnológico de Abadiânia vai dar curso de inglês básico voltado para a atenção a turistas e qualifi­car principalmente trabalhadores que atendem diretamente o turis­mo religioso na cidade. Abadiânia é frequentada por centenas de milha­res de turistas de todas as naciona­lidades que procuram tratamento com o médium João de Deus.

A iniciativa foi do Instituto Re­ger, Organização Social que faz a gestão do Itego Governador Ono­fre Quinan, em Anápolis, a qual o Cotec de Abadiânia está vinculado. A presidente do Instituto Reger, Sô­nia Santos, esteve na última sema­na com João de Deus e explicou a ele o objetivo do curso e as metas de facilitar a comunicação e o acesso dos turistas estrangeiros à cidade e à Casa Dom Inácio, onde ele atende de quarta-feira a sexta-feira.

“Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Reger mostrou que uma grande necessidade para a população era a fluência básica em idiomas estrangeiros, principalmen­te o inglês, para facilitar a comunica­ção com os turistas que acorrem a Abadiânia em busca de tratamen­tos com o senhor João de Deus. Por isso preparamos um curso de inglês que será o norte para outros que vi­rão”, explica a professora Sônia. Bió­loga com pós-doutorado ela foi até o líder espiritual para dizer que a eco­nomia é fortalecida com a romaria de pessoas que buscam seu trata­mento e que isso precisa ser reverti­do em benefícios para esses turistas.

O Cotec de Abadiânia preencheu rapidamente as 60 vagas disponibili­zadas e contratou professor de inglês para ministrar as aulas. Tudo é gratui­to para os alunos e a ideia é que seja inicialmente um laboratório para de­finir novas ações com outros cursos. “A pesquisa apontou também a ne­cessidade de cursos de conversa­ção básica em francês e espanhol e isto já está no nosso planejamen­to para um futuro breve”, explicou.

Os turistas estrangeiros que bus­cam a Casa Dom Inácio vêm de paí­ses e continentes diferentes do mun­do. Alemães, belgas, dinamarqueses, iranianos, indianos, russos, polone­ses, franceses, argentinos, colombia­nos e tantas outras nacionalidades são os fiéis que buscam tratamen­to espiritual. Por lá já passaram ex­poentes nacionais e até internacio­nais em busca de refrigério espiritual com João de Deus. Personagens do brilho de Oprah Winfrey, apresen­tadora norte-americana, e outros nacionais como Xuxa, Luciano Huck e grandes vultos da Repúbli­ca como o ministro do STF, Luís Ro­berto Barroso – que João de Deus se refere como sendo “filho da casa” – além de atores famosos como Mar­cos Frota e Shirley MacLaine.

Há uma grande procura de turis­tas brasileiros, mas esses frequen­tam e voltam para seus lugares de origem mais rapidamente. Os que ficam mais tempo são mesmo os es­trangeiros e o volume assusta: cer­ca de 80% dos turistas que circulam pelas ruas de Abadiânia são oriun­dos de outras partes do mundo e compreendem muito pouco o por­tuguês. Como o inglês é a segun­da língua mais falada no mundo a fluência no idioma bretão é exigên­cia básica para as relações pessoais.

Abadiânia fica às margens da BR 060, que nesse trecho é chamada Belém-Brasília, por ser a via que liga a capital federal à capital paraense. Havia uma outra cidade, hoje cha­mada Abadiânia Velha, e que se tor­nou distrito. A atual é uma migração para beira da rodovia aberta pelo len­dário engenheiro Bernardo Sayão no início dos anos 1960. O comércio lo­cal é dividido em duas castas distin­tas, a que fica na margem leste da ro­dovia, à esquerda de quem vem de Brasília, é mais voltada para a cida­de propriamente. A outra, na mar­gem direita, ou no oeste, é quase que totalmente dedicada ao turismo reli­gioso, com grande concentração de pousadas, hotéis, restaurantes, lan­chonetes, lojas de cristais e bouti­ques onde são vendidas as indefec­tíveis roupas brancas com as quais os fieis frequentam os trabalhos es­pirituais de João de Deus.

CONVERSAÇÃO

O comércio em Abadiânia so­fre com a falta de fluência em idio­mas estrangeiros para os funcioná­rios. Os fiéis são contados na casa dos milhares. João de Deus atende todas as quartas, quintas e sextas­-feiras e a média é de 1.000 pessoas por dia. Muitos vêm e ficam sema­nas e até meses em tratamento e se hospedam nas pousadas e hotéis na parte oeste da cidade, movimentan­do o comércio local e fazendo uma verdadeira Torre de Babel nas ruas.

Na Casa dom Inácio de Loyola encontram-se muitos voluntários que são fluentes em outras línguas e auxiliam nas relações, mas no co­mércio a dificuldade é grande. “O que queremos é facilitar a relação dos comerciantes com os turistas. Com funcionários melhor qualifi­cados até a economia vai melhorar, porque à medida que os trabalha­dores se especializam os salários melhoram e a produção de renda aumenta na mesma proporção”, explica a doutora Sônia.

AMIZADE

João de Deus agradeceu o au­xílio prestimoso que o Instituto Reger vai prestar para a cidade e ressaltou a aproximação que os trabalhadores vão experimentar com os turistas. “Tudo o que é fei­to para aproximar nossa gente dos fiéis que vêm orar em nossa casa é positivo e essa amizade que une as pessoas dá ainda mais brilho para nossa fé”, comenta o médium. Há até a perspectiva de maior afluxo de pessoas com a notícia de que a comunicação será facilitada com os cursos de conversação básica ministrados pelo Instituto Reger através do Cotec de Abadiânia.

Do sonho à realidade: personagens do curso de línguas

Emilson Melo de Souza

O atendente Emilson Melo de Souza veio de Fortaleza, Ceará, há seis meses e encontrou trabalho em uma lanchonete especializa­da em açaí. Solteiro, ele trabalha e vive diariamente a dificuldade de se comunicar com os turistas estrangeiros. No Point do Açaí, onde Emilson trabalha, há uma forte presença de turistas estran­geiros que procuram os cremes com a exótica fruta originária da Amazônia, cujo consumo remon­ta às populações pré-colombianas. Por não saber falar ele fica restrito às mímicas para tentar se fazer en­tender pelos turistas e identificar o que eles pedem. Mas, sua expecta­tiva é grande com a possibilidade de aprender a falar outro idioma.

“Sempre tive muita vontade de aprender a falar inglês para poder conversar com pessoas de outros países e para aumentar minha cul­tura. Inglês é uma língua pratica­mente universal e que é falada no mundo todo. Aqui todos os dias aparecem turistas estrangeiros e é grande a dificuldade de falar com eles. Agora, espero poder aprender e falar com facilidade. O melhor mes­mo é que o curso é totalmente de graça”, comenta Emilson.

Jéssica Aline Dickel Carlotto

A estudante Jéssica Aline, 15 anos, trabalha com os pais na Pou­sada Catarinense, de propriedade da família, localizada bem próxi­ma à Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus atende. Ela cur­sa o primeiro ano do ensino médio e tem aulas de inglês no colégio, mas como acontece em toda a rede de ensino do Brasil o estudo é incipien­te e as aulas não dão a fluência ne­cessária para conversar com estran­geiros. Nada mais que um bom dia ou algo parecido. Os pais falam al­guma coisa de inglês também, mas aprenderam na prática do dia-a­-dia conversando com turistas. O que Jéssica Aline quer com o cur­so é aprender a conversar e se rela­cionar com mais facilidade com os hóspedes da pousada.

“Na escola aprendemos apenas o básico e nada que seja possível conversar com os turistas. Acredi­to que 70% dos hóspedes são es­trangeiros e falam inglês principal­mente. Por isso se eu não falar pelo menos um pouco de inglês não vou conseguir tirar mais proveito do trabalho. Meus pais aprende­ram aqui mesmo, na marra, falan­do com todo mundo e se tives­sem um curso assim seria muito mais fácil. Eu ainda tenho muita dificuldade em conversar com os gringos e quando preciso resol­ver alguma coisa preciso chamar a minha mãe por isso quero supe­rar essa dificuldade”, frisa.

Álvaro Rodrigues e Ana Maria Rodrigues

O casal de colombianos Álvaro Rodrigues e Ana Maria Rodrigues são o retrato fiel da dificuldade de co­municação que permeia a realida­de em Abadiânia. Ele é aposentado e ela gestora de Recursos Humanos. Eles estão em Abadiânia frequen­tando as sessões de tratamento es­piritual e ficam hospedados em uma pousada próxima da Casa de Dom Inácio. Mesmo falando espanhol há uma dificuldade de comunica­ção no comércio local e na pousa­da onde estão hospedados.

“Chegamos a uma semana e o idioma é uma dificuldade para con­vivermos fora daqui da casa do se­nhor João de Deus. Os atendentes de pousadas, de restaurantes e do comércio falando outros idiomas é muito melhor”, comenta Álvaro.

Ana Maria Rodrigues faz coro à manifestação de Álvaro ressaltando a facilidade de relacionamento com os brasileiros, mas que isso poderá ser melhor se houver uma forma mais curta de comunicação. “Me encanta o calor humano que os bra­sileiros nos tratam, são pessoas mui­to amáveis e que ajudar. Todavia, é um pouco difícil nos comunicar­mos e precisamos falar um pouco mais devagar para nos fazermos en­tender. Se puderem estudar outros idiomas isso vai ser muito melhor para todos, vamos entender e eles vão nos ajudar bem mais”, finaliza.

Dulce Elen dos Santos

Há ramos diversos de atuação em Abadiânia que atendem tu­ristas estrangeiros e que precisam de uma noção mínima de conver­sação em outro idioma, principal­mente inglês. É o caso da terapeu­ta Dulce Elen dos Santos, 55 anos, natural de São Paulo, que veio para Abadiânia há aproximadamente sete anos em busca de tranquilida­de e paz para viver. Ela faz acupun­tura, shiatsu, massagem e outras formas alternativas de terapia. Sua clientela é quase que totalmen­te composta de turistas estrangei­ros que vão complementar o trata­mento espiritual com relaxamento e uma vida mais zen. A dificuldade de comunicação com praticamen­te todos os clientes é compensada com a boa vontade e a aura pacifi­cadora que ela mostra.

“Há uma possibilidade de com­preensão mundial na mímica e nos sinais que podemos usar para o relacionamento”, comenta ela. Dulce Elen explica que um turista que não fala nada de inglês indica com gestos e sinais que está doen­do aqui ou ali e ela vai tentando compreender. Outro diz que está estressado e que quer uma mas­sagem para relaxar. “Assim, vamos nos comunicando de maneira pre­cária, mas com um curso de inglês, que é uma língua falada no mun­do todo vai ficar muito mais fácil. A Rede Itego colocando esse curso de graça para nós, totalmente gra­tuito, é uma coisa muito boa, por­que preenche um vazio que é um curso público de conversação para a população que não pode pagar”.

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