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COTIDIANO

A solidariedade anda a pé

Olga Gonçalves Faria é filha de Odilon Braz de Faria Filho, já falecido. Ele era renal crônico e fazia hemodiálise no Hospital São Bernardo em Aparecida de Goiânia.

Quandoelecomeçouotratamen­to, conheceu outras pessoas com a mesma doença. Muitas eram muito pobres, que vinham do interior, che­gavam exaustas e não tinham o que comer nem onde ficar.

Por exemplo, um doente chegava de Iporá, tendo viajado a noite inteira, dentro de uma ambulância, condu­ção cheia, e ia direto para a hemodiá­lise, sem ter tomado o café da manhã.

Ele se comovia e pedia que sua filha comprasse lanche para todos, porque enquanto o paciente está na máquina, ele pode comer à vontade, porque a máquina vai purificando o sangue. Então sua filha Olga compra­va biscoito frito, pão de queijo, chá, re­frigerante, e levava na sala enquanto eles estavam deitados nas cadeiras.

Quando um ou outro se despe­dia de seu pai, Odilon, ele apertava a mão de cada um deles e deixava uma nota de dez reais, por exemplo, para que eles pudessem se alimen­tar durante a viagem ou enquanto esperavam a condução, que só che­gava tarde da noite.

Odilon Braz fazia hemodiáli­se toda segunda, quarta e sexta, e durante esses dias, toda sua tur­ma estava garantida com aquela ajuda. Mas tinha outra turma: a de terça, quinta e sábado. Ele se preo­cupava em como poderia ajudar essas pessoas também.

Olga Faria então saiu a campo atrás de uma associação já exis­tente, para saber como funciona­va tudo. Isso foi em meados de 2001. Além disso, ela fez uma pes­quisa no computador e encon­trou um estatuto que foi elabora­do pela equipe da Ruth Cardoso, então primeira-dama. Ruth Car­doso havia criado uma Organiza­ção da Sociedade Civil de Interes­se Público (Oscip).

Olga então adaptou esse esta­tuto e criou uma associação: Asso­ciação Centro de Apoio ao Renal de Aparecida de Goiânia–Ascar.

No dia da fundação da asso­ciação, estavam presentes 86 pes­soas. Foi eleita a diretoria, registra­da em cartório.

O que ela observou com o pas­sar dos dias com sua atuação na associação foi que o que mais os renais crônicos precisavam era do transporte de casa para a clíni­ca e da clínica para casa. O ôni­bus é um verdadeiro sufoco–sem condições–pois a pessoa sai to­talmente debilitada da máquina.

Então, Olga Faria se concen­trou neste ponto: em viabilizar transporte para os renais crônicos.

Ela organizou um chá entre mulheres e ganhou uma Kombi.

A Kombi estragou, e o tempo passou, na ilusão de que ela con­seguiria consertá-la, com os re­cursos da associação.

NÃO CONSEGUIU

Hoje a Kombi está encostada e o conserto apresenta-se caro, pois o veículo perdeu os quatro pneus, o motor não funciona mais, ao pon­to de Olga procurar o jornal Diário da Manhã para viabilizar seu pro­jeto, alcançando, através dos leito­res, solidariedade para fazer o veí­culo funcionar.

Atualmente, a Prefeitura de Aparecida está ajudando a fazer o transporte, mas isso não é con­veniente, pois a associação preci­sa ter autonomia.

O transporte que a associação faz consiste em pegar o doente re­nal crônico na casa dele, levá-lo até a clínica, e depois trazê-lo de volta à sua casa.

TURNOS

Hoje a associação cumpre três turnos, transportando pessoas para três clínicas diferentes, uma em Goiânia e duas em Aparecida de Goiânia: Clínica Santa Mônica, Mille e São Bernardo.

A Ascar transporta atualmente 48 pessoas, e há uma fila de espe­ra enorme. No total, são 400 doen­tes renais crônicos em Aparecida de Goiânia. Olga Faria pretende am­pliar o transporte de doentes, e por isso precisa da Kombi funcionando. Ademais, Kombi está fora de moda para transporte, pois é desconfor­tável, não tem ar condicionado, e ela deseja o melhor aos seus assis­tidos, ainda mais porque se tratam de doentes reais.

Quem sabe algum empresário, alto funcionário do governo muni­cipal, estadual ou federal, ou mes­mo um cidadão comum ou uma instituição, ao ler essa matéria, se comova, e além da Kombi arruma­da, doe também uma Van! Nada é impossível ao que crê.

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