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O trânsito goiano como problema social

Carros inteligentes e movidos a energia são realidade em vários países. No Brasil, a taxação excessiva desse tipo de veículo para o mercado interno reforça a estratégia governamental de manter o país a reboque no que diz respeito à tecnologia automobilística, enquanto mantém sob domínio estatal um dos mercados mais lucrativos, o dos combustíveis. Essa estratégia vem de longa data, reforçando o caixa de uma das estatais mais usurpadas do planeta nos últimos tempos.

Ainda que os combustíveis sejam muito caros para o brasileiro - o mesmo combustível é vendido pelo Brasil a preços muito menores para o mercado externo -, há de ponderar, com extrema preocupação, a falta de educação no trânsito. O Brasil ocupa a quarta posição mundial de mortes no trânsito, além do quarto lugar de países imprudentes, dentre os países latino americanos. A região Sudeste lidera o ranking brasileiro em números absolutos de acidentes, embora a região Centro-Oeste ainda sustente o título de região mais violenta no trânsito. Goiás ocupa posição de destaque quando o assunto é imprudência, fazendo acender a luz amarela no quesito educação.

Cruzar em sinal vermelho parece praxe na cidade de Goiânia, que intensifica o uso de câmeras e lombadas eletrônicas em suas vias. Chamado de indústria da multa por muitos, o sistema autua motoristas infratores. Já a educação no trânsito parece restrita ao curso de formação e ações pontuais, principalmente no maio amarelo, mês dedicado às poucas ações voltadas para esse fim. O resultado do descaso com a educação no trânsito se verifica em todas as vias da capital e interior, em sinais claros de que o interesse de cada um é mais importante que o de todos; de que uma infração oculta não é problema. Nem mesmo as autoridades observam a legislação: é comum viaturas policiais estacionarem em lugar proibido, ultrapassagem em sinal vermelho e toda a sorte de desrespeito no trânsito, mesmo quando não há atendimento específico - outro dia presenciei uma viatura da Rotam parar no meio de um cruzamento movimentado, para que os policiais comprassem jabuticabas. Ao que parece, o Código Brasileiro de Trânsito, já com 22 anos de existência, não se aplica a todos.

A baixa formação em engenharia de tráfego dos servidores responsáveis pela área e as vias pouco ou nada cuidadas, completam o quadro de gargalo que o trânsito em Goiânia e interior se deparam. As vias padecem de falta de sinalização, seja vertical ou horizontal, colocando vidas e carros em risco. As mudanças constantes de velocidade permitida e sentido das vias parecem responder não a um planejamento, mas a demandas emergenciais, como se o tráfego devesse guiar as ações de organização de fluxo, ao invés do contrário. Há anos a capital carece de uma pesquisa Origem Destino, justamente para compreender e organizar os fluxos de deslocamento, o que vem sendo postergado constantemente. Os Planos de Mobilidade Urbana, obrigatórios por lei, ainda não mostram resultado, apesar das várias discussões tidas.

Em meio a motoristas mal educados, carros tecnologicamente pouco evoluídos, interesses econômicos se sobrepondo aos sociais na política de combustíveis, vias com asfalto danificado e mal sinalizadas, ações punitivas ao invés de educativas no trânsito, decisões intempestivas de engenharia de tráfego, tudo isso faz com que estejamos a caminho da inoperabilidade do trânsito, como demonstram vários pontos das cidades. E o problema não é mais somente de trânsito, é um problema social, porque impacta todo o modelo cidade e endêmico, pela caracterização do motorista goiano, moldado na prática incomum de um trânsito nada inteligente.

Cleomar Rocha Professor Associado da UFG

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