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COTIDIANO

Receita literária

Vinícius de Moraes estava com o melhor amigo engarrafado do homem quando em 9 de julho de 1980 um edema pulmonar deu por encerrada uma das trajetórias mais apaixonantes da poesia brasileira. Bon vivant assumido e apreciador de um bom uísque, Vinícius eternizou versos marcantes na literatura produzida em língua portuguesa, como os que abrem “Receita de Mulher”, texto que hoje – é verdade – soam antiquados: “As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental.”

Machista ou não, o poetinha, que teve nove casamentos, responsável por cinco filhos e milhares de admiradores, será homenageado na 11ª Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri), evento realizado entre hoje e o próximo sábado (25), no histórico município goiano. “Embora ela seja conhecido como poeta da paixão, ele era o poeta da esperança também”, afirma o curador da Flipiri, Maurício Melo Junior.

De fato, Vinícius sintetiza a poesia por excelência, empunhando um trago, vivendo amores arrebatadores e expressando sua devoção à vida, como em “Soneto da Felicidade”, “Poema dos Olhos da Amada” e “Soneto da Separação” – a dor do término, obrigado poetinha, é inevitável! Foi essa matéria-prima boêmia, inclusive, que lhe fez despertar a fúria dos militares durante o regime fardado: teve de abdicar da diplomacia, ofício que exercia paralelo à crítica de cinema e ao cancioneiro.

A homenagem a Vinícius de Moraes ocorre na ocasião dos 40 anos da morte do poeta, compositor e jornalista carioca, completados no ano passado, quando a Flipiri deixou de acontecer por conta da pandemia. Mas a escolha em celebrar a obra de Afonso Félix, contemporâneo de João Cabral de Melo Neto, vem da valorosa contribuição do escritor para as letras e a ausência de um reconhecimento à altura de sua obra. “Queremos falar sobre a importância dele para a literatura brasileira”, sentencia Maurício.

Com atrações presenciais e virtuais, já na abertura, as cerimonialistas Régia Diniz e Liduína Bartholo recitam versos dos homenageados. Depois, o cantor e compositor Toquinho, parceiro de Vinícius, sobe ao palco para apresentar um tributo ao companheiro, numa celebração em verso e cordas para transformar a saudade da irreverência na esperança de dias melhores. Clássicos como “Canto de Ossanha”, do disco “Os Afrosambas” (1966), de Vinícius com Baden Powell, estarão no setlist.

“A publicidade e propaganda deveria ser um crime inafiançável. É muita sacanagem"

Se a letra do álbum eternizado por Vinícius de Baden fala sobre “a tristeza de um amor que passou”, o sentimento coletivo de terra arrasada permeará toda a Flipiri. Isso porque, na abertura do evento, cuja conferência tem o tema “E o Mundo Não Parou”, o convidado será um dos mais conhecidos educadores do desenvolvimento humano, Rossandro Klinjey: ele vai focar nas competências socioemocionais na época do caos.

NOVIDADES

Para quem deseja saber as novidades do mercado editorial, e Flipiri conta com porção de atividades para estimular a produção literária local. Na sexta-feira, por exemplo, autores estreantes de Pirenópolis vão lançar seus primeiros livros, na Coleção Arterial, projeto que tem como objetivo desenvolver a capacidade de escrita em jovens, bem como proporcionar que eles se iniciem na literatura.

A Editora Mais Amigos, como parte da iniciativa de valorizar a cena local, disseca publicações do projeto de cidades e unidades da federação, com foco no público infanto-juvenil – majoritariamente alunos iniciais do Ensino Fundamental. Na Flipiri, serão publicados os títulos “Venha Conhecer Goiás”, escrito por Dani de Brito, e “Venha Conhecer Pirenópolis, de autoria de Íris Borges, ilustrado por Sérgio Pompeo. Entre os lançamentos previstos para rolar na na 11ª Festa Literária de Pirenópolis, há o “Aves, Cores e Flores do Cerrado”, novo livro do poeta mato-grossense radicado em Brasília, Nicolas Behr. Na obra, Behr deixa de lado a temática focada na capital federal para mostrar sua faceta de militante das pautas ambientais, numa obra que versa sobre fauna e flora do bioma que lhe inspira. É um tema urgente, imprescindível.

Além disso, a Flipiri também tem preocupação em contribuir com a formação de novos leitores, e uma série de atividades estarão previstas com estudantes, envolvendo programas de leitura, como contação de histórias ou brincadeiras lúdicas. Já o público infanto-juvenil será contemplado com publicações específicas, sempre acompanhadas de mesa de autógrafos e atividades recreativas, como a contação de história do livro “A menina cata-vento”, seguido de confecção de um catavento de papel, por exemplo. Importante instrumento para disseminar a cultura do livro e autores considerados clássicos, a Festa Literária de Pirenópolis acontece num momento de desesperança pela sequência de fatos obscurantistas que pipocam no noticiário. É nesse sentido que o papel da arte – incluso aí o da literatura – podem contribuir para a emancipação da sociedade. Se o livro não muda o mundo, ao menos ajuda a mudá-lo. E isso, bem, isso é mais necessário do que nunca.

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