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Afazeres domésticos: Um trabalho invisível

O dia 1º de maio é dedicado à conquista de todos os trabalhadores durante a história e surgiu após a greve operária que ocorreu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1886, quando os trabalhares lutavam pela melhoria das condições de trabalho.

Segundo a coordenadora nacional do Projeto de Combate à Discriminação e Promoção da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, Marina Sampaio, ainda temos muito que caminhar para a efetivação desses direitos. “Temos ainda muita discriminação, abusos, trabalho infantil e exploração do trabalho em condição de escravidão. Precisamos superar essa realidade e temos trabalhado para isso”, afirma a coordenadora.

Edsônia Antônia de Deus é uma das pessoas que não tiveram seus direitos respeitados. Ela conta que começou a trabalhar muito nova porquê não tinha pai e o padrasto não deixava a companheira ajudá-la. Então a mãe dela arrumou um serviço de diarista quando ela tinha apenas 07 anos.

“O pessoal disse até que eu não ia dar conta porquê a casa era muito grande e tinha muito serviço. Mas eu dei conta de todo o serviço da casa e eles ficaram encabulados com a minha capacidade. Desde então passei por várias casas de Goiânia e trabalhava para comer e ter onde morar. Na última casa que trabalhei não deu muito certo e fui embora, mas minha mãe tornou a arrumar outro emprego e eu fui. Chegando lá, só estava um homem, a esposa dele havia sido internada. Depois eu fiquei sabendo pelos vizinhos que ele tinha batido muito nela e por isso ela foi parar no hospital. Eu tinha muito medo de trabalhar lá, era uma casa estranha e um dia começou a chegar muitos homens e eu desesperei e decidi ir embora. Comentei com uma vizinha e outra mulher ouviu e disse que precisava de uma babá e eu fui trabalhar com ela. Essa mulher me tratava muito mal, não me deixava nem ficar entrando dentro da casa dela, só na área de serviço. Eles eram muito ricos e comiam aqueles banquetes, coisas boas mesmo, mas ela me dava só arroz com cenoura crua. Eu fui ficando triste com aquela situação e pedi a Deus uma luz".

Edsônia afirma que ligou para uma tia chorando e falou que não aguentava mais aquela situação. “Pedi que ela me ajudasse e no outro dia ela me buscou. Fui morar e trabalhar com ela. Trabalhei com minha tia até depois de casada, mas quando meus filhos foram nascendo a situação foi ficando complicada para eu ir trabalhar, mas continuei por muito tempo. Depois comecei a dar problemas na coluna, não conseguia mais fazer serviços pesados e decidi parar de trabalhar fora .

O problema é a falta de reconhecimento e julgamentos sobre as mulheres que não trabalham fora de casa, já que as tarefas domésticas são tidas como obrigação e não são vistas como trabalho.

“Hoje eu sou muito julgada porquê as pessoas acham que só trabalha quem sai cedo de casa e volta à noite. Isso que é serviço, isso que é trabalho, dona de casa não tem serviço, não faz nada o que é muito triste e gera muitas cobranças sobre essas mulheres”, afirma Edsônia.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2018, uma em cada cinco mulheres não busca trabalho porque precisa cuidar de afazeres domésticos, dos filhos ou de algum outro parente. O fato é que mesmo com a mulher entrando no mercado de trabalho, por uma questão cultural, os homens não entram nas atividades domésticas e lavar, passar, cozinhar, arrumar a casa e cuidar dos filhos são tarefas que não acabam o que gera sobrecarga feminina, dificultando o ingresso e a manutenção do emprego.

“Mas se fossemos colocar na ponta do lápis as atividades que uma “dona de casa” realiza, esses serviços custariam caro, pois, tomando por base as leis trabalhistas, as donas de casa deveriam receber salário, horas extras, insalubridade, adicional noturno, plano de saúde, adicional de final de semana, décimo terceiro salário e férias remuneradas. Porém, elas realizam essas atividades de forma gratuita e não conseguem nem reconhecimento”, afirma a estudante de direito Renata Louredo.

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