Poeta goiano lança hoje o livro Os Tambores da Aurora. Gabriel Nascente foi premiado no ano passado pela Academia Brasileira de Letras
Thamy Gibson,Da Editoria DMRevista
O autor Gabriel Nascente lança hoje o livro Os Tambores da Aurora. O evento acontece às 10h na Câmara Municipal da cidade de Luziânia, em uma parceria entre a Secretaria de Cultura e Juventude e a Editora Thesaurus.
No evento, o jornalista e poeta goiano será prestigiado com a presença de membros da Academia Goiana de Letras e de desembargadores do TJ de Goiás. A edição será especial em comemoração aos 50 anos de atividade poética de Gabriel Nascente.
Em setembro do ano passado Gabriel também foi prestigiado pela Academia Brasileira de Letras com o prêmio nacional de poesia da ABL por seu livro A Biografia da Cinza. Nascente é autor de mais de 50 livros, sendo, em sua maioria, trabalhos de sua verdadeira paixão, a poesia.
Sobre o autor
Nascido em Goiânia no dia 23 de janeiro de 1950, Gabriel Nascente publicou, aos 16 anos, o livro de poemas Os Gatos. Além de escritor, passou a atuar também como jornalista e funcionário público.
Morou em São Paulo, onde era apadrinhado pelo poeta Menotti Del Picchia. Em terras paulistas, trabalhou para a Editora Martins como redator de textos de orelhas em livros de autores famosos.
Foi professor em cursinhos pré-vestibulares e marcou presença na redação da Folha de São Paulo. Persistente e perseverante, Gabriel terminava seus turnos na redação da Folha e saía para a noite paulistana para vender seus livros.
Em setembro de 1978 recebeu da Academia Paraibana de Poesia o título de “O Embaixador da Poesia Brasileira”. Já em 1996 conquistou em Santa Catarina um dos prêmios mais cobiçados do País, o “Cruz e Sousa de Literatura”, concedido por seu livro inédito de poemas A Lira da Lida. Em 2001 foi premiado em Minas Gerais com o “Centenário de Henriqueta Lisboa”. O poeta foi também finalista do Prêmio Jabuti de São Paulo, ainda no ano de 2001.
Nascente foi editor de diversas revistas e jornais da capital, inclusive do Diário da Manhã. É também membro da Academia Goiana de Letras, onde ocupa a cadeira 40.
Muitos de seus poemas têm como característica a natureza assumindo reações humanas, uma figura de linguagem conhecida como prosopopeia ou personificação. Tal característica atribui qualidades humanas a personagens não-humanos, como no trecho a seguir: “As bananeiras estão fartas e amarelas de fadiga. Mas quando nas madrugadas as ventanias são impiedosas a ponto de maltratá-las, elas ficam a chorar de inveja dos telhados, porque abaixo dos telhados há corações, relógios e cobertores. E por baixo das bandeiras, não.”
Outra característica do poeta é a sua ligação com a terra goiana, tal conexão lhe rendeu os apelidos “o maior poeta de Goiás” e “Castro Alves da poesia goiana”, sendo este último conferido a ele por Cora Coralina.
Vários de seus poemas já foram traduzidos em outros idiomas e publicados em países como Estados Unidos e Grécia.
ARAGUAIA: UM ARRANHÃO DE BELEZA
Paisagem – 1
Este rio passa pelo sertão
como um bicho por uma estrada.
Este rio é como a língua de um bicho
a lamber os barrancos da solidão.
Este rio é como a cauda de um astro,
é como um correio
a água deste rio.
Vem a noite e se debruça no rio.
O rio alaga seu mistério, o rio ronca.
Este rio carrega o remorso dos afluentes,
segue o dorso das estradas, o rio.
Passo a passo se transforma em noite.
O rio é noite: a noite dorme dentro do rio
como uma mulher sem suplício.
A noite é fêmea, como fêmea
será o sexo de suas águas.
Há calma na superfície
como na boca de um anjo.
Episódio
A queimada vai devastando
as penugens da terra:
troncos e galhos estalam pelos ermos,
flores se alteiam com medo do chão.
Brotam cinzas como prantos: a terra chora.
O gemido entra pelo corpo do rio
Como uma bala pelo peito de um pássaro.
Agonia mortal: o sertão está ferido.
Paisagem – 2
Parece que o rio está enforcado
como um peixe no galhaço.