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No Timbre: juventude pulsante no Meio Termo

Ilustração: Rabiscos e Escarros / Fotos: Renato Vital

A efervescente cena musical goianiense tem alavancado e incentivado a garotada a pegar nos instrumentos cada vez mais cedo. E além de jovens pela idade, o pessoal da Meio Termo é a expressão sonora das mesclas de influência e construção, do que pode ser considerado uma nova marca registrada da musicalidade “Goiânia Rock City”.

O grupo é formado pelo estudante Isaque Saraiva (18), que é baixista e vocal da banda, Victor Rabelo (17), que também é estudante secundarista e atua como vocalista e guitarrista, a persona do Rafael Ramos (17) como baterista do grupo, e por fim o tecladista Igor de Souza, que participou das gravações e composições do conjunto, apesar de não estar em Goiânia por agora.

A história dessa galera começa quando eram ainda mais jovens. Embebidos na vontade de tocar e sentir a música pulsar no organismo, o guitarrista Victor arranjou um violão e foi tratar logo de aprender a emitir algumas notas. Rafael já tocava bateria e era amigo de infância de Victor e forjaram a cena clássica dos amigos que passavam tardes ouvindo e ensaiando alguns covers para tocar no festival de calouros do colégio. Quando ainda estavam no ensino fundamental, talvez sem nenhuma pretensão, montaram o grupo “Os quatro elementos”, que pouco tempo depois desintegrou.



O que antes era somente “power acords” em um violão e alguns pratos na bateria, foi desenvolvendo, se tornando mais elaborado, juntamente com as influências musicais dos rapazes. Victor conta que logo depois, durante o ensino médio, fundaram outra banda, a “Silver Contact”, cujo vocalista era o atualmente ausente tecladista Igor de Souza. Nessa segunda experiência sonora, os rapazes traziam pela garganta o som da gringa, cantado em inglês. O projeto não vingou, mas as relações interpessoais estavam traçadas e os camaradas continuariam batendo cabeça até chegar no timbre desejado.

Foi somente no ano passado, mas não tarde demais, que os rapazes encontraram Isaque Saraiva e ajustaram o grave das músicas, com o baixo do jovem. Então, em 2014, começaria a Meio Termo. O nome retrata o mosaico de influência, gostos musicais e estilos que cada integrante carrega de bagagem. “Escutamos havy metal, rock progressivo, punk rock, hard rock, psicodélicos e música brasileira”, comentam. Parece uma união um tanto complicada de ser transformada, dentro da química e essência que compõem tais gêneros.

Apesar de tentarem abraçar os desejos estéticos de todos os integrantes do grupo e de fato fazer um meio-termo entre as sonoridades, os rapazes comentam que atualmente já traçaram uma proposta mais fixa, excluindo algumas músicas do repertório e criando o que definem como “hard rock, progressivo e psicodélico nacional”. Esse rótulo, segundo o baterista, tentaria abraçar as mesclas de estilos que a banda executa.



Não é estranho e nem muito distante pensar que realmente a gama de influências que um novo grupo incorpora é realmente abrangente. Os garotos comentam que escutam desde os clássicos sessentistas, como Doors e Pink Floyd, até MPB mais atual, como Los Hermanos e também a música goiana, como o Boogarins, Carne Doce e Shotgun Wives. E é gritante quando se escuta o som desses garotos, as referências que foram harmonicamente adaptadas para gerar um legítimo e autoral rock do cerrado.

Pode-se dizer que o Boogarins, quase como magia, conseguiu dar o pontapé inicial que encorajou os músicos da capital, principalmente essa nova fornada, a cantarem em português e experimentarem estilos menos padronizados. Isso fica claro no processo de composição da Meio Termo, os garotos comentam que é totalmente aberto, tanto a melodia, quanto a letra, que é composta em conjunto entre todos.



As músicas cantam sobre o cotidiano, de forma mais introspectiva eles tentam retratar as perdas, sonhos, viagens e fritações de forma mais genérica. É bastante acessível, com grande chance de identificação nas tramas e mensagens que ecoam: “Experiências individuais que acabam se cruzando.” Em canções como Deixa pra depois, Esquizofrenia e Voar Fugir, que, apesar de não serem gritadas, têm bastante energia. O vocal de Victor Rabelo vem com um grave que mantém a atenção aos versos e refrões de cada composição. É possível ouvir, entender e compreender cada palavra cantada, uma característica que por uma certa gama de ouvintes é essencial.

Jujubas

Botando fé no que fazem, os rapazes correram atrás desde sempre. Quando começaram a produzir as primeiras músicas autorais, já juntaram grana e gravaram o primeiro single, Deixa pra Depois, no estúdio do pessoal de outra banda de peso na cidade, a Hellbenders. “A gente já tinha mais músicas prontas, mas não tinha a verba para gravar, então botamos a cara à tapa, vendemos jujuba no sinaleiro, até juntar em moedas toda a grana necessária pra gravar o EP.”

E o suado e trabalhoso trampo de vendas informais de guloseimas nos semáforos da região metropolitana de Goiânia valeu a pena e logo viria a gerar resultados. Os garotos, que não fizeram hora, quebraram o cofrinho, fizeram uma pré-produção de cinco músicas, até deixar tudo mais ou menos arranjado e voltaram finalmente para o estúdio. Começaram a gravar em setembro de 2014 e lançaram virtualmente, finalmente em 31 de março de 2015 o EP Tempo.



Diz aquele ditado que quem quer vai atrás, e foi fazendo contatos a partir da internet, mandando por e-mail o arquivo do primeiro single Deixe pra depois para uma gravadora da Grécia. A tentativa colou, o pessoal, mesmo falando grego, ouviu e curtiu o som. Logo os rapazes mandaram o EP completo e então a gravadora

 (Garden Of Dreams Records) deu uma boa adubada no sonho dos goianienses da Meio Termo.

A proposta fechada com os gregos seria que a G.O.D. faria um lançamento mundial do EP Tempo, divulgando em todas as redes sociais e plataformas virtuais do selo. Além disso, a grande chance vai ser a prensagem e lançamento do Tempo, em vinil e CD.



A pedra está jogada, os garotos da Meio Termo já estão espalhando essa nova sonoridade pela cena goiana. Tocaram no Grito Rock e alguns pub’s e casas da cidade, como no Banada Party e Loop Studio, onde fizeram o lançamento oficial do primeiro EP. “Tem muita gente que acompanha, principalmente a galera mais nova, que tá sacando o que está rolando de novo, no Brasil e na cidade”, afirmam.

Para quem quer entender o que está surgindo, a nova sonoridade que está emergindo nessa cidade deve pesquisar o EP Tempo e tirar as próprias conclusões a respeito dessa galera jovem. “Procure nas nossas músicas algo que se você se identifique. Dá para viajar, se aventurar em novos ares e deixar a cabeça fluir um pouco”, concluíram.


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