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Bananada: Escorregando na casca

Será que é realmente inevitável um grande festival, com ótimos nomes e variedade de gêneros, estilos e idiomas, ser uma opção de rolê cara e com grandes filas? É indiscutível que a 17ª Bananada mostrou que não é à toa que o nome se consolidou como um dos maiores festivais de música alternativa do País, se tratando das atrações e inúmeros eventos que percorreram a última semana.

De Boogarins ao clássico da MPB, como Caetano Veloso, a atmosfera musical e artística que o festival promoveu foi exemplar na escolha dos nomes. Não rolaram tantas bandas nativas do Cerrado como em outras edições, porém isso não diminuiu o quantitativo de público, que lotou os três principais dias do evento.

Uma das atividades mais impactantes do Bananada foi o lindo painel pintado pelo pessoal do Bicicleta Sem Freio na parede da biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Com cores vibrantes, a ilustração de traços tortuosos primou pela psicodelia para contrastar com a arquitetura concreta do prédio. O painel foi um sucesso nas redes sociais, no Instagram e Facebook, o que não faltou foram poses de frente à arte contemporânea. A intervenção também gerou críticas de setores mais conservadores, que consideram uma “profanação” da obra original do centro de cultura.

O show de Caetano, impecável, trouxe uma apresentação bem montada, com o novo disco Abraçaço em peso, apesar de várias clássicas animarem o coro das cerca de três mil pessoas que pagaram 60 reais para ver o baiano. A noite teve espaço até mesmo para uma sonora vaia do público do festival, quando anunciada a presença da secretária de Educação, Cultura e Esporte, a professora Raquel Teixeira, e logo após, quando anunciado uma das principais patrocinadoras do evento: Petrobras.



Apesar da noite de estreia ter sido animada, totalmente destonante para uma segunda-feira, além do ingresso caro, quem foi ao palácio da música teve que suportar filas monumentais para comprar a cerveja oficial do evento, que custava seis reais a latinha. Um “espetáculo” a parte, os preços superfaturados e as filas quilométricas no caixa, bar e banheiros, na primeira noite do evento, já premeditavam o que estaria por vir no fim de semana.

O que pode ser colocado em discussão é para quem é voltado um festival desse porte na capital. Uma vez que na tradição do que se diz “música autoral independente” os maiores eventos dessa natureza, que consolidou o apelido da cidade como “Goiânia Rock City”, sempre foram mais acessíveis às diversas classes e origens de público. O que boa parte do plateia se pergunta é o que justifica tamanha discrepância de preços (ingressos, comida e bebida) de alguns anos para cá. Alguma resposta que fuja do padrão “mais a inflação também”. O que antes era 10 reais para entrar e 2,50 uma latinha de cerveja, agora praticamente triplicou de preço, sendo que os patrocínios só cresceram. Outra pauta colocada é que, afinal, quem consegue ir ao Oscar Niemeyer pagando 30 reais por dia, sendo que não passam tantas linhas de ônibus e os shows principais terminam depois que a frota de coletivos já parou de rodar. Talvez seja uma tendência a elitização do que antes era considerado o “underground” ou o antro da música independente na cidade.



Desde o primeiro pronunciamento dos organizadores do festival foi colocada a preocupação com as grandes filas, o que foi notado durante o fim de semana. Nessa edição eram duas entradas e dois bares, o que, infelizmente, não foi suficiente para a demanda do público, de cerca de 8 mil pessoas por noite. Outra reclamação recorrente do pessoal que foi prestigiar o evento foi a questão do estacionamento, que, além de ser cobrada a taxa de 10 reais para quem colocasse o carro nas vagas “oficiais” do CCON, quem não conseguiu lugar ficou refém da extorsão dos flanelinhas e dos roubos. Várias pessoas tiveram seus veículos arrombados enquanto curtiam os shows do Bananada.

Impacto sonoro

Problemas a parte, o gigante na mesa é o fato de quem tem a oportunidade de financiar um rolê que fica caro ao bolso pode conferir o que tem de melhor na música independente. É indescritível a aura positiva de alto-astral que a apresentação intimista do pessoal da Francisco El Hombre trouxe à noite de sexta-feira. Com ritmos latinos, um grupo democrático onde todos cantam, tocam e falam com o público, uma das maiores revelações do evento. Mesmo em meio à euforia da plateia, entre aplausos e danças calientes, eles encontraram espaço para uma fala em apoio à greve nacional dos professores. Apresentação impecável.

Os veteranos de casa, como Boogarins e Carne Doce, não economizaram na apresentação explosiva, que contemplou os fãs (uma legião de jovens que aguardaram de frente ao palco de ambos grupos, mesmo antes de começar o show). Talvez as duas atrações locais fossem as mais esperadas, até mesmo que os artistas da gringa, e proporcionaram a sensação que Goiás produz muita coisa de qualidade e prazerosa aos olhos e ouvidos. Os rapazes da Boogarins apostaram nas clássicas do primeiro disco “As plantas que curam”, com muita improvisação e fritação de solos e distorções. Levou a plateia nas palmas das mãos.

Entre as atrações, além das citadas acima, destacaria dentro da pluralidade acertada na escolha das bandas os shows do pessoal da Bang Bang Babies, Pato Fu (que atendeu às expectativas, mesmo tocando músicas mais atuais do grupo), o guitarrista King Tuff, o pessoal do Apanhador Só, o pop eletrônico da Karol Conka, Magaly Fields, os goianos da Hellbenders, que lotaram o espaço, fechando a noite do domingão e encerrando o ciclo intenso do festival, o rapper Criolo, que convocou o buda da galera que aguardou em peso, até o último minuto, pela apresentação.

Confira os momentos de algumas das atrações do Bananada pelo olhar do fotógrafo Renato Vital:


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