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CULTURA

“Nunca acharam em qual prateleira deviam nos colocar”

Rariana Pinheiro, Da editoria DMRevista

Com a turnê homônima do disco novo Não Pare Pra Pensar (2014) a tiracolo, o Pato Fu – como seu próprio guitarrista John Ulhoa enfatizou no título desta reportagem  - , chega a Goiânia reafirmando uma de suas maiores características: a de surpreender. O timbre doce da vocalista Fernanda Takai, que poderia se acomodar a um pop previsível, é incrementado por certa estranheza, apresentado em letras, misturas de vozes e idiomas diferentes.

O disco novo é mais uma prova disso, pois se distanciou do bem-sucedido e delicado último projeto  do grupo, o intitulado Música de Brinquedo (álbum com releituras de clássicos da MPB tocadas por instrumentos em miniaturas, que ganhou até Disco de Ouro), ao trazer melodias dançantes, sem baladas e com mais peso nas guitarras.

A turnê deste mais recente trabalho é também eletrizante e repleta de efeitos tecnológicos . Aqui em Goiânia a apresentação está marcada para começar 1h da manhã encerrando a programação desta noite do Festival Bananada. Os mineiros se apresentam logo após os goianos da Boogarins, banda local, que tem conquistado boas críticas e fãs no Brasil e, até nos Estados Unidos e Europa. E, ao que parece, tem ganhado também a simpatia do Pato Fu.

Em entrevista ao DMRevista, John Ulhoa revelou ser fã do grupo, e contou que certamente deverá estar na plateia para assistir o show dos músicos goianienses. No bate papo, o guitarrista também conversou conosco sobre os louros que colheu na música independente, a falta de criatividade na música, entre vários outros assuntos. Confira trechos do bate-papo a seguir:

“Todo mundo corre atrás de projetos de lei, de festivais e de views no YouTube, mas a profissionalização do músico autoral ficou mais difícil. John Ulhoa

BANANADA

Quando: até domingo (17)

Onde: Centro Cultural Oscar Niemeyer (Avenida Deputado Jamel Cecílio, 4490, Quadra Gleba, Lote 1 - Setor Fazenda Gameleira)

ENTREVISTA JOHN ULHOA

DMRevista - O que prepararam para o show de hoje? Vão revisitar alguns hits, além das músicas de Não Pare Pra Pensar?

John Ulhoa - Sim, teremos músicas de várias fases da banda... Gostamos de tocar o máximo possível de novas, e é difícil fazer uma lista reduzida quando se tem mais de 20 anos de carreira. Mas acho que chegamos a um consenso muito bom.

DMRevista - Como o público tem recebido o novo trabalho?

John Ulhoa - O mais legal que tem acontecido nos shows dessa turnê é o fato de as pessoas já estarem cantando músicas novas, e ver que elas funcionam muito bem ao vivo, como a gente tinha pensado que seria. Acho que é mesmo um desafio pra uma banda lançar algo relevante depois de tanta estrada – não ficar só no saudosismo. Isso tem sido muito bom.

DMRevista - A turnê de Não Pare Pra Pensar é bem tecnológico, o que não é uma novidade nas apresentações da banda. Como vocês montam um show? E, que sensações pretendem passar para o público?

John Ulhoa - A gente gosta que as pessoas saiam do show com a certeza de que o Pato Fu tem uma marca registrada, que não fomos lá e só tocamos as músicas no piloto automático. Tem que haver algum elemento surpresa, algo que só a gente faria, tanto no som como no visual... Tem que valer o preço do ingresso, e as pessoas já espe-ram isso da gente, então caprichamos o máximo que podemos.

DMRevista - Não Pare Pra Pensar tem sido considerado um álbum mais pesado, dançante e sem baladas. A opção de trazer um disco mais agitado foi também para fugir do universo infantil de Música de Brinquedo, por exemplo?

John Ulhoa - Talvez um pouco, e também pra ser um contraponto do álbum de inéditas anterior, o Daqui Pro Futuro, que era mais contemplativo. Nos distancia da carreira solo da Fernanda e mostra de onde viemos – a mistura de vocais, letras em idiomas diferentes, bastante guitarra... De uma certa forma, esse disco nos reapresenta aos antigos fãs, e esclarece umas coisas pra quem está chegando agora.

DMRevista - Em tempos de readaptação do mercado da música, podemos dizer que o Pato Fu conseguiu se virar bem na cena independente. Em que momento perceberam que precisariam de mudar? E como foi esta transição?

John Ulhoa - Percebemos que seria necessário voltar à independência quando as propostas de gravadoras começaram a ficar ruins, tinham pouco a oferecer para uma banda que já tinha uma estrutura como a gente. É compreensível da parte deles, o mercado estava encolhendo drasticamente. Pra gente foi interessante porque, entre outras coisas, nos permitiu fazer projetos malucos como o Música de Brinquedo, que dificilmente passaria como um projeto viável dentro de uma gravadora. Por outro lado, a falta de uma indústria investindo permanentemente em carreiras artísticas ainda faz falta, principalmente para artistas novos. Todo mundo corre atrás de projetos de lei, de festivais e de views no YouTube, mas a profissionalização do músico autoral ficou mais difícil. Com certeza nós demos sorte de termos “acontecido” ainda dentro do esquema antigo, por isso foi mais fácil partir pra independência.

DMRevista - Vocês sempre foram uma banda que passeou muito bem pelo mainstream, sem perder a personalidade criativa, por vezes soava até estranha. Como conseguem fazer isso com tanta naturalidade?

John Ulhoa - Não temos opção, é de criação! Partimos de um disco completamente estranho, o Rotomusic de Liquidificapum, e fizemos cada álbum de um jeito, cada música de um jeito... Nunca demos sequência em músicas radiofônicas que fossem parecidas, nunca acharam exatamente em qual prateleira da loja deviam nos colocar. Acho que por isso fomos conquistando nosso público lentamente mas de maneira bem fiel. O que nos levou a essa carreira “longa e próspera”, que, ao contrário do que era no início, passeia pelo alternativo e pelo mainstream sem grandes traumas.

DMRevista - Por outro lado o pop rock que foi sempre um dos estilos mais ousados da música, atualmente parece estar se repetindo. Existe algum estilo musical que tem produzido grandes e boas novidades ao público?

John Ulhoa - Acho que sempre houve quem só repetisse fórmulas do passado ou do sucesso recente, e sempre houve quem fosse mais criativo... Não é uma questão do gênero pop rock ou do momento atual. O rock e o pop rock já se repetem há mais de 50 anos, a criatividade está nas personalidades, uma voz nova, um jeito de cantar fora do padrão, um jeito peculiar de tocar guitarra, uma postura de palco diferente... O problema é que muita gente quer se encaixar em segmentos bem definidos, preencher aquela vaga. Até mesmo a produção musical dentro dos estúdios fica contaminada por clichês e presets de timbres muito manjados. Apesar disso, sempre aparece quem tenha atitude suficiente pra quebrar essas regri-nhas, e aí a coisa fica interessante.

DMRevista - Vocês têm ouvido bandas goianas? Acham que por aqui, muito em decorrência dos festivais, tem nascido bandas que fogem da mesmice do pop rock? Se sim, quais?

John Ulhoa - Conheço o Boogarins, quero ver o show deles no mesmo dia do nosso! Não sei as bandas têm surgido em decorrência dos festivais, mas estar neles é um objetivo bem definido pra bandas novas, então bom shows pra todas elas!

capa 1 - pato fu - divulgação

CONFIRA O QUE VAI ROLAR NO BANANADA NESTE FINAL DE SEMANA

Hoje

capa - programação - sexta

20h  Bang Bang Babies

20h30  Scalene

21h  Jaloo

21h45  Francisco El Hombre

22h30  Wannabe Jalva

23h15  Allah-las (EUA)

0h  Boogarins

1h  Pato Fu

Amanhã

capa - programação - sábado

19h  Camarones Orquestra Guitarrística

19h30  Carne Doce

20h  Lê Almeida

20h30  Câmera

21h  King Tudd (EUA)

22h30  J Mascis (EUA)

23h15  Karol Conká

0h  Bonde do Rolê

1h  Tropikillaz

Domingo

capa - programação - domingo

16h50  Gasper

17h30  Marrero

18h15  Magaly Fields (Chile)

19h  Caddywhompus (EUA)

19h45  Maskavo Roots – 20 anos

21h15  Vivendo do Ócio

22h  Hellbenders

22h45  Criolo

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