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Um ‘Parabéns a você’ gutural nos 30 anos do Sepultura

RIO - Normalmente cercado por um sujeito com cabelo quase na cintura, que empunha uma guitarra barulhenta, e por um gigante com voz de trovão, Paulo Jr. consegue manter, de alguma forma, uma discrição mineira em meio ao peso e à agressividade do Sepultura. No entanto, o baixista de 46 anos tem algo que nem Andreas Kisser, nem Derrick Green (o cabeludo e o gigante acima citados, respectivamente), muito menos o baterista Eloy Casagrande, têm: 30 anos na banda de rock brasileira mais conhecida pelo mundo.

- É difícil de explicar que já se passaram tantos anos, né? - diz Paulo, por telefone, de Jacksonville, nos EUA, onde o grupo passa com a turnê comemorativa, que chega ao Rio neste sábado, no Circo Voador, e a São Paulo no domingo, no Audio SP. - Na verdade, nunca me preocupei muito com isso. Os cabelos ficaram grisalhos, é verdade, mas o tesão ainda é o mesmo.

Paulo entrou no Sepultura ainda na adolescência, convidado pelos irmãos Max e Iggor Cavalera, em Belo Horizonte. A banda contava ainda com o guitarrista Jairo T (ou Jairo Guedz), logo substituído por Kisser. O show comemorativo, segundo ele, deve contemplar as três décadas do Sepultura.

- Estamos aproveitando as passagens de som aqui nos EUA para ensaiar algumas músicas mais antigas, como "Bestial desvastation" (do primeiro EP do grupo, de mesmo nome, lançado em 1985) e "From the past comes the storm" (do disco "Schizofrenia", de 1987) - conta o baixista. - Para os shows no Brasil, devemos aprontar mais algumas coisas, além de uma surpresa que deve pintar no Rio e em São Paulo, onde o show será gravado.

É muito improvável que a surpresa seja a presença de algum dos irmãos Cavalera. Max deixou a banda em 1997, após os outros músicos decidirem que sua mulher, Gloria (que recentemente zombou dos 30 anos da banda nas redes sociais), não seria mais a empresária do Sepultura, e fundou o Soulfly; Iggor ficou na banda até 2006, quando saiu para dedicar-se à discotecagem no projeto MixHell, que tem com a mulher, Laima Leyton. Logo que ele saiu, formou com Max o grupo Cavalera Conspiracy, que já lançou três discos e, claro, toca músicas do Sepultura em seus shows. Mesmo depois de tanto tempo, o clima entre Paulo e seus amigos de infância não é de extrema leveza.

- Não, eu não falo com eles - resume o baixista.

É possível que a turma esteja reunida virtualmente no documentário oficial do Sepultura, que, apesar de ter a chancela da banda, não tem qualquer proibição em relação a seus ex-integrantes (aliás, recentemente, mais uma Cavalera deixou a firma: Monika, ex-mulher de Iggor, foi demitida em abril após anos como empresária do Sepultura). O filme, financiado por meio de um crowdfunding, está sendo dirigido por Otávio Juliano, que vem acompanhando as viagens do quarteto.

- Os Estados Unidos sempre são um mercado mais complicado para o heavy metal do que a Europa - analisa Paulo. - Mas acho que o nosso público aqui está crescendo. Os shows nos grandes centros, como Los Angeles, Nova York e Chicago, foram muito cheios. O Canadá também curte muito o Sepultura.

A Europa, destino da banda em julho para uma turnê de 30 datas, não se cansa de ver o quarteto.

- É a região por onde mais viajamos - define Paulo. - No ano passado, tocamos em 17 cidades da Rússia! Foi uma viagem espetacular.

Ele diz que, hoje em dia, apesar de tanto trabalho no exterior, morar no Brasil não é problema.

- Hoje todo mundo está conectado - diz. - Eu só não estou animado com a vida em São Paulo. Muita corrupção, violência, desrespeito... Sempre que posso vou a Belo Horizonte e fico lá com a minha mãe e a minha irmã, vou aos jogos do Atlético... São Paulo está muito caótica, em BH eu nem preciso pegar o carro.

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