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Fronteira Festival encerra sua segunda edição depois de 11 dias de atividades em Goiânia

O II Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental encerrou, no último sábado, suas atividades com um saldo extremamente positivo e muitas possibilidades futuras. Durante 11 dias, entre 60 e 200 pessoas compareceram às sessões, que exibiram 110 filmes, com diferentes perspectivas, distribuídos entre as 11 mostras que compuseram a programação em 2015.

Pessoas de todas as idades e diferentes realidades, passaram pelo Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, local que acolheu a segunda edição do festival. “Para nós foi uma surpresa muito boa a realização do festival no Cine Goiânia Ouro, sobretudo pelo espaço de convivência que ele oferece, com Café, uma sala de cinema com tela ampla, cadeiras confortáveis, uma boa projeção. O teatro comportou outras atividades do festival, como o Master Class do Sylvain George”, avaliou Henrique Borela, um dos diretores artísticos do festival.

Outro destaque desta edição foi a “Calçada Viva”, uma iniciativa que proporciou grandes encontros, conversas interessantes e muitas trocas, a partir de um espaço de convivência montado em frente ao centro cultural. O projeto chamou a atenção dos transeuntes, que interessados, procuravam saber o que acontecia no lugar. Segundo Borela, o público aumentou bastante em relação a edição anterior. “Ano passado nós tínhamos uma sala de 100 lugares. Aqui (no Cine Goiânia Ouro), nós tivemos 130 pessoas na primeira sessão do festival e esse público se repetiu durante a semana.”

Henrique destaca os filmes da competitiva, que, segundo ele, atraíram grande parte dos visitantes. A sessão do filme Mais do Que Eu Possa Me Reconhecer, do cineasta carioca Allan Ribeiro, primeiro longa da mostra competitiva exibido no festival, foi uma das mais cheias desta edição, provando que já existia uma identificação do público com o realizador. Outro filme muito esperado foi o curta Quintal, do cineasta André Novais.

Quem também apontou a grande evolução do festival foi a montadora Cristina Amaral, que esteve em Goiânia para ministrar um Workshop de Montagem Cinematográfica durante o II Fronteira. “A infraestrutura melhorou muito. O primeiro Fronteira foi o início, e já foi muito bonito, dentro das possibilidades que se tinha. Mas, eu percebo que esse ano houve uma melhora de tudo, de qualidade de projeção, de espaço. Virou um espaço de encontro entre as pessoas, o que é muito importante nesses festivais, ter um espaço para conversar, para as pessoas se conhecerem, para trocarem impressões a partir das projeções dos filmes”, observou. Uma das mais reconhecidas e respeitadas montadoras do País, Cristina destacou o grande salto do festival em 2015, com a curadoria das mostras que, segundo ela, trouxeram um olhar inteligente e arriscado.

Cristina Amaral reforçou a importância das atividades de formação que aconteceram durante o festival. Além do Workshop de Montagem Cinematográfica, o II Fronteira promoveu a Estado Crítico – Residência de Crítica de Cinema com os críticos Aaron Cutler e Juliano Gomes. Para ela, a segunda edição do Fronteira deu um grande salto e, as atividades de formação, principalmente como as que foram oferecidas durante o festival, voltadas à formação de pensamento, foram uma ótima oportunidade. “A proposta não era fazer um cursto técnico, com exercícios para aprender programas. Eu acho que isso também está de acordo com a proposta do festival, que é trazer filmes que arriscam, que provocam exatamente essa coisa do pensar, a reflexão. A seleção das pessoas que participaram do workshop foi muito bem feita, de muita qualidade. E o curso cresce, fica muito melhor, se os participantes têm um bom nível de diálogo, de reflexão e de entendimento do que está sendo colocado. Eu acho isso um grande privilégio”, resume.

Curadoria e júri

Extensa e engajada, a programação do II Fronteira trouxe a cidade diferentes olhares e experimentações. A curadoria das mostras competitivas de longas e curtas-metragens ficou a cargo do diretor artístico do festival Rafael Parrode, do mineiro Ewerton Belico, um dos curadores do Forumdoc.bh, e do editor da revista italiana La Furia Umana, Toni D’Angela.

Para Belico, o Fronteira lida com um acervo de filmes que a grande maioria dos festivais brasileiros dá pouca atenção, com foco no experimental e no cruzamento entre o documentário e o experimental. “O festival tem uma programação extraordinária. Eu nunca tinha visto os filmes do Martins Muniz (diretor goiano) e poder assisti-los foi uma experiência indescritível, uma coisa que eu, seguramente, não teria acesso se não tivesse vindo a Goiânia. É bom ver que a cidade está acolhendo o festival. Festivais não sobrevivem a despeito das cidades onde eles acontecem, apenas os festivais que não estão interessados em fazer cinema, porque o que não falta é festival de cinema em que cinema é a última das preocupações”, analisa.

De acordo com o cineasta, montador e editor de som Guile Martins, um dos jurados da Competitiva Internacional de Longas-Metragens o II Fronteira explorou novas formas de se trazer uma experiência. Segundo ele, os filmes surpreenderam de várias maneiras. “Por vezes a gente pensa que a linguagem cinematográfica já está esgotada, que tudo já foi contado, mas não foi, porque as formas não se esgotam. Você pode trazer uma sensação, um estado de alma, a partir de uma imagem ou de um som, não necessariamente a imagem mais bem acabada ou o som mais bem construído. As vezes, um som do acaso, um vento que invadiu e acabou arrastando a imagem para outro lugar... Isso é muito surpreendente.”

O realizador mineiro Leo Pyrata, que teve parte de sua filmografia exibida na mostra “Cineastas na Fronteira”, também reforçou a importância desse momento único em sua carreira. Para Leo, a exibição dos filmes foi uma mistura de sensações e emoções. “Depois que eu cheguei aqui e comecei a acompanhar as sessões, fiquei muito lisongeado por participar de um festival com um rigor de curadoria tão alto, em um ambiente com muitos jovens realizadores, com pessoas que são envolvidas e que amam o cinema. Eu acabei de sair de uma sessão agora e o filme foi completamente devastador, provavelmente um dos melhores filmes que eu vi esse ano. Todos os filmes que assisti aqui estão em um nível muito alto.”

Pyrata destaca na programação três filmes: Estilhaços, do francês Sylvain George; Mais do Que Eu Possa Me Reconhecer, de Allan Ribeiro e Devil’s Hope, da realizadora belga Sophie Bruneau, que, segundo ele, é um documentário com um trabalho de pesquisa e uma montagem impressionantes.

O júri oficial da Competitiva Internacional de Longas-Metragens foi formado por Andrea Tonacci, um dos grandes nomes do cinema brasileiro, Aaron Cutler, crítico e programador americano, e Guile Martins. Oona Mosna, artista e escritora canadense, diretora de programação do Media City Film Festival, Juliano Gomes, crítico de cinema brasileiro, diretor e professor, e Lis Kogan, brasileira, diretora geral da Semana dos Realizadores e uma das fundadoras do Cachaça Cinema Clube, formaram o júri da Competitiva Internacional de Curtas.

O júri popular foi outra proposta muito bem sucedida. Para a organização do evento, o júri popular deixou clara a necessidade de reflexão, por parte do público, sobre os filmes exibidos. A experiência fez com que os espectadores saíssem de sua zona de conforto para se posicionar, se empoderar. Nem sempre confirmando as escolhas do júri oficial, o júri popular trouxe o olhar das pessoas, um olhar mais pessoal.

Retrospectivas

Duas das mais esperadas mostras dessa segunda edição do Fronteira Festival, as retrospectivas Sylvain George e Bruce Baille e a Canyon Cinema tiveram grande repercussão e contaram com a presença do próprio Sylvain nas sessões, além de uma sessão comentada e uma Master Class com o documentarista francês, realizador decisivo no cinema político atual.

Pela primeira vez no Brasil, Sylvan destacou a experiência de ter uma retrospectiva de seus trabalhos exibida em outro país, além de um convite para participar do festival e para a realização de uma Master Class. O cineasta foi figura recorrente em todas as sessões do festival e na área de convivência do Goiânia Ouro.

“Eu estou muito contente que esse convite tenha vindo do Fronteira, que é um festival muito jovem, com uma programação que eu gostei muito, que tanto na competitiva, quanto nas outras mostras, trouxe escolhas que são muito pertinentes.” Eu gosto da juventude que vejo nesse festival, existe muita fraternidade entre as pessoas que realizam o Fronteira, entre participantes de diferentes épocas. É por isso que falo de juventude, não relacionado à idade, mas relacionado à abertura, à alegria, à experiementação. Uma juventude impertinente. Por ser um festival que está em sua segunda edição, é incrível sua capacidade organizacional. Estou impressionado com a capacidade da produção de colocar online os debates, fotos, de um dia para o outro, de uma forma muito rápida e precisa”, analisa.

Com cópias restauradas em 16mm e sessão ao ar livre no Beco da Codorna, a mostra Bruce Baillie e a Canyon Cinema trouxe a Goiânia uma experiência única, nos moldes das exibições da Canyon em São Francisco.

“O Fronteira tem essa incrível capacidade de reunir filmes extremamente recentes e ao mesmo tempo trazer retrospectivas de realizadores já renomados. Não é um festival de postura, é um festival que ama o cinema, que defende o cinema, sem esnobismo. O Fronteira propõe filmes, defende esses filmes e ama o cinema. Um cinema que tem o tamanho humano”, resume Sylvan.

Premiação

Anunciada no último sábado, 29, a premiação do II Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental destacou, pelo júri oficial, três longas e três curtas-metragens nas categorias Melhor Filme, Prêmio Especial do Júri e Menção Honrosa.

Vencedor do prêmio de Melhor Filme da Competitiva Internacional de Longas-Metragens, o documentário Crônica de um Comitê, dos chilenos Carolina Adriazola e José Luiz Sepúlvida trouxe à tela várias fronteiras políticas, de linguagem, tecnológicas, humanas. O Prêmio Especial do Júri foi para o longa La Nuit e L’Enfant, de David Yon (França/Qatar). De acordo com o júri, o filme nos coloca num estado de fronteira suspensa entre a vida e a morte, em que os personagens centrais percorrem, como extremos de um mesmo ser, a vida feita uma noite sem fim. A menção honrosa foi para Devil’s Rope, de Sophie Bruneau, filme que explora a imagem e o conceito atrelado ao arame farpado enquando objeto criador de fronteiras, colocando o homem, simultaneamente, na posição de confinador e confinado.

Os prêmios da Competitiva Internacional de Curtas foram para Occidente, da francesa Ana Vaz, que levou o prêmio de Melhor Filme, Night Watch, de Danaya Chulphuthiphong (Tailândia), ficou com Prêmio Especial do Júri e Wayward Foonds, do diretor Fern Silva, foi o premiado com a menção honrosa.

O Júri Popular escolheu Mais do Que Eu Possa Me Reconhecer, do brasileiro Allan Ribeiro como Melhor Longa e Pen Up the Pigs, de Kelly Ghallangher (EUA) como Melhor Curta.

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