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Carl Eytel: obsessão pela estética do deserto

Um artista aprisionado na dinâmica profissional da vida. Carl Eytel precisou apenas de um sinal que o direcionasse para um esconderijo natural: tomou conhecimento da existência do deserto de Palm Spring, no sudoeste dos Estados Unidos, através de uma fotografia de jornal. Sempre foi obcecado por natureza e quietude. Estudou engenharia florestal por quatro anos na Alemanha, até embarcar no navio Suevia, em 1885, aos 23 anos, em busca de contato com a experiência intimista e obscura dos desertos do novo mundo.

Para familiarizar-se com a paisagem árida, um contraste inimaginável diante de sua paisagem natal, trabalhou como auxiliar geral em um rancho de Kansas, ainda distante de seu sonhado deserto. Por 18 meses sustentou-se como vaqueiro, fazendo estudos pessoais sobre os pastos. Decidido a deixar registros da sensação milagrosa que sentia diante do árido, voltou à Alemanha onde estudou artes por pouco mais de um ano, reimigrando em seguida direto para Palm Springs em 1903, onde construiu sua própria cabana, fazendo do deserto sua casa.


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Ele também costumava fazer longas caminhadas motivadas pela sede visual do deserto. Chegou a andar mais de 600 quilômetros a pé. Nos primeiros anos era visto como um desenhista louco e faminto perdido no meio do nada. Conheceu o escritor Smeaton Chase e ilustrou seus conhecimentos de Palm Springs para o livro As maravilhas do deserto de Colorado, que o revelou como artista e fez com que ele conhecesse pessoas dispostas à mesma experiência de introspecção, montando um movimento artístico sediado em cabanas do deserto.

Irmandade Criativa

O sucesso dos desenhos de Eytel chamou a atenção de Edmond C. Jaeger, naturalista, e do autor Francis Sauders. Ambos construíram suas cabanas no deserto, e lá permaneceram por boa parte do inicio do século XX. Vários artistas curiosos também habitaram o local por algum tempo. Juntos, acabaram criando um micropolo de produção, fazendo viagens e contribuindo com as obras em produção mútua. Estudiosos do final do século XX apelidaram a experiência vivida pelos artistas de Palm Springs de “irmandade criativa”.

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Ali permaneceram de 1915 até 1923, ano da morte de Jaeger. Antes de morrer, o naturalista deixou registrado em um artigo para a Universidade de Riverside as suas impressões sobre o trabalho de Eytel. Este dizia: “Como artista, Eytel era completamente autodidata. Não muito escolarizado, mas com muita leitura. Possuía conhecimento não apenas dos clássicos da Grécia e de Roma, mas da melhor literatura da Inglaterra, Estados Unidos e de sua Alemanha natal. Nunca vi Eytel dormir entre paredes. Ele tentava acostumar-se às dificuldades do deserto, na crença de que isso fortaleceria sua existência”.

Eytel morreria apenas dois anos depois, em 1925, aos 63 anos, vítima de tuberculose. A longa amizade que o artista firmou com o povo da etnia Cahuilla, habitantes nativos do local, viabilizou seu sepultamento no cemitério deles em Palm Springs. Eytel havia feito vários desenhos do modo de vida do povo Cahuilla, que mais tarde contribuiriam com estudos sobre os povos nativos do deserto de Palm Springs.

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Em 1926, Francis Sauders, ex-membro da irmandade criativa, escreveu uma carta destacando e elogiando o trabalho minucioso de Eytel. “Carl Eytel, artista pioneiro de Palm Springs, trabalhou por lá antes mesmo antes da exploração comercial do local. Fez de Palm Springs sua casa, e do deserto sua vida. Ele conheceu-o em todas suas estações, todos os humores, e pintou-o com um tipo de ardor religioso, florescido de um amor infalível, a cada nova estação”, redigiu.

Sauders também ressaltou a sensibilidade visceral de Eytel, que dispensava qualidades técnicas avançadas em desenho, defendendo que a obsessão e paixão de Eytel pelo deserto era o elemento X que fez de seu trabalho algo tão impactante e revelador. “Outros desenhistas foram mais técnicos que ele, mas quando você olha para os melhores quadros de Eytel, estará olhando para o coração do deserto”.

Estilo

As influências de Carl Eytel direcionavam-no para o impressionismo. Através de seus desenhos e quadros descreveu o modo de vida de vários povos pré-colombianos no deserto do sudoeste norte-americano. A preferência por paisagens desérticas associada ao impressionismo coloca-o no patamar de outros pintores: Alson S. Clark, Jack Frost, Carl Bray, Fred Chisnall, Maynard Dixon, Clyde Forsythe, entre outros.

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As inúmeras cartas enviadas por Eytel ao amigo Jaeger durante as viagens do último até a Universidade de Riverside são hoje documentos que revelam a impressão de Eytel da vida no deserto. Uma carta de 1922 traz a paisagem de Palm Springs que chegava aos órgãos do sentido do artista, e revelam sua grande empolgação e amor pelo deserto. “O dia clareia como um cristal, a noite gela com belas estrelas. Eu sinto melhor a liberdade do deserto no povoado de Mecca que na nossa região, o ar se mostra mais claro e transparente”. Escreve.

Na mesma carta, ele revela as montanhas vistas no horizonte do povoado de Mecca como picos vigilantes. Eytel costumava falar da paisagem e dos elementos de Palm Springs como se fossem coisas vivas e animadas, que contribuem para uma harmonia total entre homem e natureza. “Uma maravilha especial é o modo como aqueles picos vigilantes banhados a neve aparecem quase de repente sobre o denso azul do céu. São fantasmas azuis no lugar de montanhas, e o imenso deserto em primeiro plano, mais cruel e devastador do que no bairro de Palm Springs”.

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