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CULTURA

Corrida sem fim

Considerados membros do seleto grupo dos personagens mais memoráveis presentes em desenhos animados produzidos pela Warner, o Papa-Léguas e o Coiote foram criados em 1949, por Chuck Jones, um dos gênios da animação norte-americana, também responsável por dar vida ao Coiote, Pernalonga, Patolino, Gaguinho e uma gama de outras criaturas que marcou e ainda marca a infância de crianças de diversas gerações. Ambos completam nesta semana 67 anos de existência, guiados pela mesma perseguição infinita, a qual todos nós já sabemos o fim: o fracasso e humilhação do predador diante da velocidade inalcansável de sua presa. A fórmula simples é baseada em outros desenhos de perseguição, como Tom & Jerry, mas repleta de detalhes e de criatividade.

De um lado temos o Papa-Léguas, um corredor sem destino tão veloz que mal conseguimos visualizar o movimento de suas pernas. Do outro, o engenhoso Coiote, sempre munido de alguma bugiganga em formato de armadilha que, além de nunca funcionarem contra sua presa, acabam voltando contra ele mesmo. Durante a saga dos dois animais humanizados, o coiote é vítima de explosões, esmagamentos e quedas de penhasco. Ele sempre termina chamuscado e frustrado, enquanto o veloz Papa-Léguas segue ileso, emitindo sua famosa e única fala: bip-bip. O grande impacto e longevidade dos desenhos da Warner, bem como sua distribuição mundial, vem fazendo com que seus personagens sejam apanhados cada vez mais como objetos de pesquisa.

Pesquisas

O artigo científico Entre cenouras e cupcakes – o Pernalonga da nova infância, escrito pela pesquisadora Karine Joulie, apresentado na sexta edição do Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, analisa a forma como cenas violentas são tecidas nos desenhos, como Coiote e Papa-Léguas. “As cenas de violência são sempre minimizadas tanto por não se tratarem de personagens com características humanas, quanto pela repetição e recuperação instantânea dos danos causados pelos tiros. A lógica para que a violência não atinja o público de fato é nunca concretizar o objetivo. Pernalonga, Papa-Léguas e Piu-Piu nunca serão capturados e devorados, pois são mais inteligentes do que seus caçadores.”

A autora do artigo explica ainda como funciona o formato no qual os roteiros eram desenvolvidos na época de ouro dos cartoons. Ela especifica uma fórmula que permite ao espectador uma certa ciência do que acontece no final, deixando a emoção e a personalidade de cada episódio na reelaboração de acontecimentos e detalhes compatíveis. “Não muito distante da linguagem já usada nas comédias do cinema mudo, os desenhos ficaram mais repetitivos, com humor visual e violência arlequinada. O formato de gag trata a audiência como participante e detentora de códigos para desvendar o desenho. Como acontece com as animações de Papa-Léguas e Coyote, criadas exclusivamente para TV, a piada só funciona porque o espectador já prevê o desfecho.”

Visões atuais

A influência dos personagens, criados há quase sete décadas por Chuck Jones, nunca deixou de atualizar-se das mais variadas formas. Um exemplo está na pintura criada por uma professora de artes visuais próxima a um túnel da cidade de Juazeiro, na região norte da Bahia. A imagem recriava uma das táticas do coiote para interromper a correria de sua vítima: a pintura da continuação da estrada em uma rocha para confundir visualmente a ave e levá-la a uma colisão. A arte, criada em 2015, gerou muita repercussão (inclusive foi compartilhada pela página oficial de Chuck Jones em redes sociais), e foi apagada pouco tempo depois de inaugurada com a justificativa de que ela poderia causar acidentes.

Outro exemplo de recriação moderna dos inseparáveis Coiote e Papa-Léguas pode ser contemplado no jogo para video games Sheep Rider (também conhecido como Sheep, Dog N’ Wolf), lançado em 2001 para plataformas populares como Windows e Playstation. O game traz uma versão 3D dos famosos protagonistas, e diferentemente do desenho animado não está centrado na perseguição entre os rivais. Em Sheep Rider, o jogador controla Ralph Wolf (apresentado como um primo do Coiote, visualmente idêntico a ele) em uma silenciosa e delicada missão: roubar ovelhas de um rebanho vigiado atentamente por Sam Sheepdog, um cão pastor. O jogo conta com a aparição de outros personagens clássicos como Gaguinho e Marvin, o marciano.

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