TattoArt
Diário da Manhã
Publicado em 13 de novembro de 2016 às 01:19 | Atualizado há 4 mesesCover up é o termo em inglês utilizado por tatuadores para nomear a prática de cobertura de tatuagem. A cobertura, ou cover up, é a solução mais barata e imediata para quem tem interesse em se desfazer de uma tatuagem antiga, que não tenha ficado ao gosto do cliente, ou que tenha perdido o significado. Além de poupar o tatuado de ter que passar pelas infinitas e dolorosas sessões de remoção à laser. Em Goiânia, um nome tem se destacado nessa técnica, pelo trabalho limpo, minimalista e totalmente original. Herbert Esteves está há cinco anos no mercado, e vem conquistando o público goianiense com um estilo de cover up que ele considera único.
“Como eu sou um tatuador que trabalha com linhas, minha especialidade são linhas e pontos, conhecido como linework e dotwork. Eu aproveito as linhas da tatuagem existente. Eu vou desenhar em cima dessas linhas, criando novas linhas, transformando a figura da sua tattoo em uma figura diferente. Tatuando em cima de um traço existente, eu machuco menos a pele, e agilizo mais a nova tatuagem”, diz Herbert, não dispensando frisar o quanto é agressivo para a pele, e um gasto desnecessário de tempo cobrir uma tatuagem com outra que não aproveite nada da anterior. Trabalhando dentro da linework e dotwork, Herbert cria formas, tonalidades e sombras, evidenciando sua própria assinatura. “O meu estilo é um estilo diferente, tenho um estilo mais mistico, mais indígena. Às vezes o cliente quer que eu coloque algum significado na tatuagem, alguma coisa importante, e eu faço todo esse contexto em cima da nova arte que eu estou criando. Altero a tatuagem 100%, aproveitando as linhas pré-existentes”.
Herbert, que é arquiteto e se considera um artista desde os 9 anos de idade, começou a tatuar há cerca de 5 anos, e confessa que passou a optar por criar um estilo próprio assim que percebeu que tatuar era tão simples como desenhar em papel. “Com o tempo eu não diferenciava mais a máquina de um lápis ou pincel. A tatuagem passou a ser um processo simples, tendo em vista que o que eu desenhava no papel, eu desenhava na pele, numa tela. Foi aí que comecei a colocar em evidência a minha arte, o meu estilo de trabalho”. Com o advento tecnológico e a força das redes sociais, o trabalho de centenas de artistas ganhou um novo apoio, e Herbert Esteves diz que já é até reconhecido nas ruas. “Estou chegando no ponto importante da minha vida, onde estou recebendo reconhecimento pelo que eu faço. As pessoas já veem uma arte minha na pele de alguém, sabem que fui eu quem tatuou. As redes sociais também tem me ajudado bastante. Meu momento de expansão e maturidade profissional tem sido agora”.
“A cover up está em todo momento, em todo lugar. A cobertura serve para todo tipo de coisa. Isso é criar uma arte em cima de uma outra. Fazer uma pintura em cima de outra pintura, uma escultura em cima de outra, isso depende do talento de um artista, que tem essa visão de como melhorar aquilo que está ruim, ou não está muito bom. Meu principal público de trabalho é o feminino. Então venho especializando minha arte, para fazer tatuagens e coberturas para mulheres. Cobertura de mama, cicatrizes ou tatuagens desgastadas”, ressalta.
O maior desafio da carreira de Esteves foi a cobertura de cicatrizes de uma cliente que havia se submetido a uma abdominoplastia. O tatuador recorda que a cliente tinha cicatrizes enormes, “uma delas ia da virilha até próximo ao pescoço. Fiz um verdadeiro 360 graus no tronco da cliente, abrangendo toda a barriga dela, cobrindo até o umbigo”. Depois de longas sessões, a cobertura finalmente ficou pronta, atendendo às expectativas da cliente e do próprio tatuador. “Tampar cicatriz não é fácil. E esse desenho foi criado na hora, foi um freehand. Até hoje faço trabalhos nessa cliente”, comemora.
“Além da pele”
“Além da arte da tatuagem, eu também trabalho com a arte de parede, faço painéis. É como se eu fosse um tatuador de parede. Em algumas situações, o cliente tatuou no braço e me convidou para ir à sua casa fazer o mesmo desenho na casa dele. Às vezes existe um desenho na parede que o cliente deseja mudar, eu modifico esses desenhos também. A minha arte é além da tatuagem, além da pele. É uma arte que já ultrapassou o limite de pele. Já estou fazendo outras coisas”, conta o arquiteto.
Tatuagem colorida?
O arquiteto e tatuador Herbert Esteves frisou um detalhe importante na aplicação da técnica cover up: as cores. Segundo ele, tatuagens coloridas, ao serem cobertas com outra tatuagem, também colorida, pode ocasionar na mistura pigmento original com o novo aplicado, ocasionando num outro tom, diferente do original e da cobertura. “A pintura hoje, é muito discutida no mundo da tatuagem. O colorido desbota muito. Se você cobrir uma tatuagem colorida, com outra que também é colorida, pode acontecer de o pigmento que já existe na pele se misturar com o novo pigmento, alterando a cor desejada pelo cliente. O colorido desbota com a insolação, ou se você não mantiver os cuidados corretos com a sua pele, como usar protetor solar. Isso gera um desgaste maior das tatuagens coloridas, e pode ocasionar no reaparecimento da tatuagem de baixo”, explica.
Por que e quando cobrir?
Segundo Esteves, as procuras mais frequentes pela cover up são para cobrir tatuagens antigas, que possam ter perdido o significado para o cliente, ao longo do tempo, cicatrizes, deformidades na pele ou na tatuagem antiga, entre outras razões. “As pessoas, muitas vezes, fazem uma tatuagem precocemente, ou não sabem o que querem tatuar e se arrependem depois. Muitas tatuagens são religiosas também, e exigem cobertura. Às vezes a pessoa frequentava uma religião, e ao longo do tempo acaba mudando de vertente, e acaba querendo modificar aquela tatuagem. A procura por esse tipo de cobertura é muito grande. Cicatrizes também, a pessoa faz uma tatuagem para cobrir uma cicatriz, e à medida que o corpo muda ou cresce, essa cicatriz modifica também, alterando o desenho da tatuagem, e consequentemente sendo necessária uma nova cobertura. Existe uma variedade enorme de situações, modificar a tatuagem, melhorar, restaurar, retificar”.
As dicas de Herbert para quem deseja realizar uma cobertura, ou para tatuadores que realizam esse tipo de trabalho são as seguintes: “a cover up hoje é muito procurada, tem que saber executar a técnica, tomar cuidado para o não aparecimento de queloides. O tatuador deve procurar saber se o cliente tem tendência a ter quelóides, e procurar trabalhar com uma agulha mais leve, atingindo 1 mm apenas na pele, fazer a tatuagem com mais calma, uma pintura menos agressiva. O cuidado por parte do tatuado também é importante. Não se expor à piscinas públicas e ao expor, tudo isso induz na qualidade da tatuagem. O pós-tatuagem é muito importante”.
Cover up de Natasha Nogueira
A jovem modelo e blogueira Natasha Nogueira estava em Pirenópolis, numa cachoeira, quando achou dinheiro caído no chão. “Estava longe da cidade, não sabia de quem era e não tinha para quem devolver. Peguei o dinheiro e fui para o Centro de Pirenópolis atrás de um tatuador”. Chegando no estúdio, Natasha perguntou o que poderia ser feito com aquele valor que ela havia encontrado. Um estrela no ombro direito, foi essa a arte que o regalo das águas deu à Natasha. Porém a modelo se arrependeu do desenho com o tempo. “Fica muito exposto. Vestido, regata, tudo mostra”. A blogueira já havia feito outras duas tatuagens com Herbert, e decidiu por fazer a cover up com o tatuador. O novo desenho, uma mandala, foi criado na hora, sem uso de decalque.