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As veias abertas da América Latina em 2019

Foto: Júlia Lee

Júlia Lee

Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, disse em 2010 que tristemente reconhecia que seu livro-reportagem “As veias abertas da América Latina”, de 1971, continuaria sendo atual por muito tempo. “A história não quer se repetir, o amanhã não quer ser outro nome do hoje”, afirmava Galeano à época. De fato, desde 1492, a América Latina tem seus minérios, pratas, água e outros bens saqueados por senhores do “primeiro mundo”.

É perceptível que a história do povo latino está intrinsecamente ligada à exploração e consequentemente a miséria, e as estruturas sociais e econômicas se construíram à base de submissão. Se há mais de 500 anos temos a devastação das matas em prol do capital, há de se entender que em 2019 a população é totalmente controlada pela engrenagem que oprime, e a resistência é feita com sangue nesse país. A guerra nunca acabou. Indígenas, ativistas ambientais, quilombolas, comunidade agrária entre outros povos são assassinados cotidianamente pela elite mundial.

No sábado (29), Jair Bolsonaro afirmou que a nomeação de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para embaixador do Brasil em Washington seria derivada da necessidade de aproximação com os países de “primeiro mundo”. Segundo o presidente, “só assim pra explorar o minério de terras indígenas. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”.

Já no dia 24, o cacique Emyra Wajãpi foi assassinado por garimpeiros no Amapá. A violência contra a aldeia vem acontecendo pela quantidade de ouro que existe na região, onde 1,3 mil indígenas da etnia wajãpi residem. Somente os indígenas têm permissão para explorar os minérios da região de forma artesanal, o que cria uma grande cobiça por parte de garimpeiros e mineradoras. 

Vale ressaltar que Bolsonaro já afirmou que irá apresentar um projeto de lei para legalizar o garimpo no Pará e região. “Terra riquíssima. Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o primeiro mundo para explorar essas áreas em parceria e agregando valor”, afirmou o presidente sobre a reserva yanomami, que fica em Roraima, Amazonas.

Não precisamos voltar em 1500 e pouco para nos lembrarmos de que explorar minérios é devastar a vida, em 2015 tivemos o maior “acidente” de impacto ambiental da história do país, matando a fauna e a flora da região da bacia do Rio Doce e 19 pessoas. Em 2018, a barragem de Brumadinho rompeu, matando cerca de 300 pessoas e dizimando a natureza da região.

Mineradoras e Bolsonaro são sanguinários, pois fomentam uma guerra contra a vida. Com o latifúndio, a aprovação de mais de 110 agrotóxicos só nos últimos seis meses, a devastação crescente da Floresta Amazônica pelas madeireiras, o assassinato de indígenas, a falta de punição de empresas como a Vale: a guerra nunca acabou.

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