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CULTURA

Quadrinista mistura universo infantil com existencialismo

Ludimila Mendonça

Um moleque atrevido, criativo, muito custoso como a gente diria aqui ‘no Goiás’ e absolutamente encantador. Este é o Calvin.  Na parceria de Haroldo, seu tigre de pelúcia, forma uma das duplas mais geniais dos quadrinhos. Com elementos como irreverência e surrealidade conquistaram admiradores em todo o mundo de mais de uma geração.

Calvin e Hobbes foram criados pelo norte-americano Bill Watterson, e a tirinha foi distribuída apenas por 10 anos, de 85 a 95. A história da dupla é a seguinte: um garotinho cheio de imaginação atribui vida a seu tigre de pelúcia, e juntos eles questionam, subvertem e descobrem o mundo.

Bill adorava uma boa ironia e o nome do garoto Calvin foi inspirado em um religioso que defendia que a natureza do homem era declinada à maldade. Trata-se de João Calvino, figura conhecida da reforma protestante. 

No Brasil, o nome do tigre ficou Haroldo, mas na versão original seu nome é Hobbes, inspirado no filósofo Thomas Hobbes. Esse pensador construiu a célebre frase: “O homem é o lobo do homem”. Ou seja, mais um cara que acreditava na natureza do homem como voltada para a maldade. A ironia está no fato de que Calvin e Haroldo, apesar dos nomes, representam o que há de sincero e surreal nas pessoas.

Com os quadrinhos de Calvin, Bill abordou vários assuntos, mas principalmente as relações, que o caso de alvin são raras e complicadas, tanto que ele recorre a um melhor amigo imaginário personificado por seu bicho de pelúcia. Uma das poucas crianças próximas do garoto é Susie, com a qual ele mantém uma relação recheada de pequenas desavenças e confrontos, mas que mostra em personagens infantis os melindres das relações.

Calvin nunca se tornou uma marca de produtos como outros personagens famosos por decisão de seu criador

Uma abordagem recorrente das tirinhas são as relações familiares. O jeito subversivo e criativo de Calvin enlouquece sua família, por vezes, que tenta lidar com o filho. Bill encarna uma criança que questiona as ordens que recebe, as obrigações que são impostas, com uma riqueza incrível de construção. Calvin muitas vezes mostra uma malícia que não é característica de sua idade, mas não dá pra duvidar que Calvin tenha seis anos devido a sua visão de deslumbre e criatividade em relação a seu universo.

Imaginação não é patologia

Na internet sempre rodam umas invencionices que todo mundo acredita, com Calvin também aconteceu. Circulou muito por aí uma tirinha em que Calvin deixa de ver Haroldo como “real” e passa a enxergá-lo como o bichinho de pelúcia que ele realmente é, porém não foi Bill quem criou essa tirinha, atribuída como a última da dupla. No quadrinho, Calvin é colocado como o garoto esquizofrênico no qual os remédios começam a fazer efeito.

Em um de seus depoimentos Bill expressa sua relação com os quadrinhos, o personagem de Calvin e o processo criativo. “Colocar-me na cabeça de um garoto fictício, de seis anos, e um tigre, me encoraja a ser mais alerta e inquiridor do que eu seria normalmente. Adoro a solidão deste trabalho e a oportunidade de trabalhar com ideias que me interessam. Esta é a maior recompensa dos quadrinhos para mim.”

Bill Watterson nunca permitiu que Calvin se tornasse um produto. Ele não vendeu os direitos autorais que fizessem de Calvin uma marca de produtos, queria manter o caráter artístico e criativo de sua obra. Bill abandonou a publicação para viver uma vida de reclusão em relação à fama que ganhou com seu trabalho. Calvin e Haroldo se mantêm como uma expressão do que há de mais aventureiro e subversivo no processo de conhecimento do mundo.

Haroldo é o bicho de pelúcia animado pela imaginação de Calvin

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