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Cineasta Ângelo Lima exibe dois filmes no Festcine

No texto “A Última Fita de François Truffaut”, publicado em 8 de abril de 1962 pelo jornal O Estado de São Paulo, o jornalista Vladimir Herzog (1937-1975) discorre sobre o clássico filme “Jules et Jim”, lançado em 1961 e até hoje cultuado por cinéfilos e críticos. “Jules (Oscar Verner) e Jim (Henri Serri) são capazes de amar Catherine (Jeane Moreau) com a mesma nobreza em que é mantida a amizade de um ser humano para outro que ambos se dedicam”, reflete Herzog.

Para que possamos olhar com sensibilidade ao que acontece na telona em terras goianas, tal declaração poderia ser facilmente aplicada à devoção que o diretor pernambucano radicado em Goiás, Ângelo Lima, 68, tem em relação à sétima arte. Sua história começou ainda jovem, na década de 1960, com o filme “O Pescador de Cinema” – obra produzida em 35 mm – sobre o cineasta mineiro-goiano João Bennio, um dos maiores expoentes do audiovisual feito por estas bandas.

Claro que uma história de amor tem seus percalços. E com Ângelo não poderia ser diferente. Entre idas de vindas, trabalhou com circo, teatro e por anos interpretou o personagem ícone do cinema mudo, Carlitos. Em 1999, no entanto, decidiu que queria mesmo voltar a fazer cinema. Produziu dois curtas-metragens, “Lembranças” e “Desaparecidos”, que foram selecionados para o primeiro Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), no mesmo ano.

Cineasta Ângelo Lima é considerado um dos principais nomes do audiovisual goiano - Foto: Carlos Pereira

Em entrevista ao Diário da Manhã realizada no Ponto 18, tradicional local de encontro da boemia intelectual da capital goianiense, o cineasta – que exibe hoje, às 19h30, o média-metragem “Congo é Terno” e o curta “Sagrado” no Festival de Cinema Brasileiro de Goiânia (Festcine)– disse que os dois filmes possuem histórias interessantes. Segundo ele, as festas que são mostradas nas obras acontecem no mês de outubro e possuem características singulares.

“É uma coisa de raiz, de negro. Essa coisa popular não vai acabar. Estamos vivenciando época de ataque à cultura afro, à cultura em geral”, afirma Ângelo, que é considerado o maior nome do cinema produzido em Goiás. Para filmar “Congo é Terno”, o diretor utilizou um método consagrado pelo documentarista paulista Eduardo Coutinho, que se aproximava dos entrevistados sem restrição de espaço e tempo. “Você precisa ser muito corajoso para enfiar a câmera na cara das pessoas”.

Indagado por este repórter sobre o cinema brasileiro, Ângelo comentou que o nível dos filmes feitos no País está alto. E recomendou: “Eu acho que as pessoas precisam e devem assistir “Bacurau”. Cinema é trabalho, mas também é amor. Hoje em dia todo mundo faz imagem, mas há diferença entre cinema e imagem”, analisa o cineasta, que é figura marcante nos espaços da capital goianiense em que há projeção de filmes.

Produção

Com uma vasta produção cinematográfica, o diretor Ângelo Lima, 68, retratou inúmeros artistas e documentou episódios que ficaram marcados na memória coletiva da população goianiense. Em 2000, produziu “Um Vídeo Chamado Brasil” sobre a arte do artista plástico Siron Franco, que já teve destaque em diversões salões pelo Brasil e mundo. Além disso, retratou em “Amarelinha” o acidente radiológico Césio 137, que aconteceu em 1987.

Também mostrou ainda a tradição dos carreiros de boi da cidade de Damolândia, no interior de Goiás, com o filme “Ruídos da Fé”. A obra foi premiada no Festival de Sergipe. No ano seguinte, faz o documentário “Icologia”, que retrata a figura tradicional de “seu Ico”, na cidade histórica de Pirenópolis. Com o filme, Ângelo foi premiado no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), levando o Melhor Filme Goiano. Participou de centenas de outras festivais.

Além disso, filmou a cultura goianiense da cachaça em “É da Raiz”. É um dos fundadores da Associação Brasileira de Documentaristas (ABC seção Goiás) e do Cineclube João Bennio. No momento, é presidente da Associação de Cinema Independente de Goiás (Acine), que foi fundada há quatro anos. Por essas e por outras, não tem como perpassar pela história do audiovisual goiano e não mencionar o nome de Ângelo Lima. O cinema daqui lhe deve muito.

Serviço

Entrada Franca

‘Congo é Terno’ e ‘Sagrado’

Data: hoje, dia 24

Horário: às 19h30

Onde: Cine Ouro

Endereço: R. 3, 1016 - St. Central,

Ângelo Lima em conversa com a reportagem do DM - Foto: Carlos Pereira

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