Home / Cultura

CULTURA

'Na Calada da Noite' mostra por que Barão Vermelho é patrimônio do rock nacional

Cazuza foi a primeira ramificação. Após gravar os discos “Barão Vermelho” (1982), “Barão Vermelho 2” (1983) e “Maior Abandonado” (1984), o poeta saiu da banda e levou consigo boa parte do repertório que seria do quarto disco de estúdio. Frejat assumiu os vocais, os integrantes remanescentes (Dé, Maurício Barros e Guto Goffi) se uniram ao guitarrista Fernando Magalhães e ao percussionista Peninha. Lançaram os álbuns “Declare Guerra” (1986) e “Rock´n Geral” (1987). No entanto, a volta aos holofotes ocorreu apenas com o single “Pense e Dance”, de “Carnaval” (1988).

Em 1990, já debilitado pelo vírus HIV, Cazuza havia se consagrado como um dos maiores nomes do rock nacional, com “Exagerado” (1985), “Só Se For a Dois” (1987), “Ideologia” (1988), “O Tempo Não Para” (1989) e “Burguesia” (1989). O Barão vinha da pauleira do LP “Barão Ao Vivo” (1989), gravado no Dama Xoc, em São Paulo, durante a turnê de “Carnaval”. Dé, baixista da primeira formação, estava descontente com os rumos do grupo e com a falta de espaço para suas composições, e caiu fora. Para o lugar do músico, Guto sugeriu Dadi, ex-integrante da banda “A Cor do Som”, sucesso do rock brasileiro na década de 1970.

Capa do disco

A essa altura, o Barão não precisava provar nada para ninguém. A banda estava estabelecida na cena roqueira brasileira. Com o disco “Na Calada da Noite”, Frejat e companhia colhiam os frutos de uma carreira que oscilou entre momentos de glória (como na monumental e histórica apresentação no Rock In Rio, em 1985) e outros de baixa (tal como nos fracassos comerciais após a saída de Cazuza). Mas, mesmo declarando guerra nesta torre de babel e declamando o amor de irmão ao ‘brou’, o grupo se reinventou e encontrou novos caminhos. A começar pelas parcerias que formaram o repertório do disco.

Frejat estava em sintonia com o poeta Jorge Salomão (morto em fevereiro deste ano em decorrência de uma pneumonia) e compôs a primeira faixa do álbum, “Política Voz”, clássico do Barão. Com Guto, Jorge e Dé, o guitarrista assina “O Invisível”, segunda música do repertório e marcante pelas guitarras descaralhantes e demenciais da dupla de Frejat/ Fernando. “Na Calada da Noite”, a quarta música do LP, é uma parceria entre Frejat e Luiz Melodia. Pela primeira vez, o baterista fez letra e música, e de uma das canções mais marcantes do repertório do Barão: “Tão Longe de Tudo” se tornou indispensável nos shows.  

No entanto, a composição que consagrou “Na Calada da Noite” como uma das obras-primas da história do rock brasileiro é a última faixa. A bela “O Poeta Está Vivo” foi composta por Frejat e Dulce Quental, ex-vocalista da banda Sempre Livre. Trata-se de uma homenagem ao ‘brou’, que chegara a visitar os estúdios quando a banda estava gravando o disco. O solo de Fernando Magalhães é um dos mais lindos da nossa música e, ao vivo, é impossível não fazer com que lágrimas escorram dos olhos. Fernando e Frejat, como anotou o jornalista e produtor musical Ezequiel Neves, iluminam uma cidade de um milhão de habitantes.

“Na Calada da Noite” reforça o de sempre, com a competência que fez do Barão um verdadeiro patrimônio do rock brasileiro e prova que a banda produziu obras-primas após a saída de Cazuza. Os rockões clássicos elementares, a leve pegada flamengo em “O Invisível”, o slide bluseiro na faixa-título ou a influência Melô na poesia “Seco”, todos esses elementos sonoros evidenciam uma coisa: o Barão é eterno, sua obra é eterna, seu rock é eterno. Em tempos em que o mercado fonográfico segue um rumo estranho, ouvir Barão Vermelho é um alento roqueiro. Ainda bem.

Ficha técnica

‘Na Calada da Noite’

Banda: Barão Vermelho

Gênero: Rock

Gravadora: WEA

Disponível nas plataformas de streaming

Mais vídeos:

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias