Home / Cultura

CULTURA

Mostra homenageia ator Paulo César Pereio

“Eu te amo, porra”, diz Paulo (Paulo César Pereio) a Maria (Sônia Braga) em cena inesquecível do filme “Eu Te Amo” (1981), de Arnaldo Jabor. Com 60 anos de carreira e 80 de vida completados nesta segunda-feira (19), Pereio se tornou uma espécie de “galã-terrible” do cinema brasileiro. Motivos para isso não faltam: lendas de que ele faltava ao set - além da folclórica caricatura boêmia, do tipo que perambula pela noite soltando profecias poéticas bêbadas - contribuíram para a sua imagem de cafajeste, junto com suas atuações feitas nos anos 70 e 80. No entanto, o ator transitou com desenvoltura pelo Cinema Novo, Marginal e Pornochanchada.

Entre 20 de outubro e 24 de novembro, o Canal Brasil exibe seis filmes na mostra “Paulo César Pereio – 80 Anos”. O primeiro será o drama experimental “Os Fuzis” (1964), clássico do Cinema Novo realizado por Ruy Guerra, que vai ao ar na próxima quarta-feira (21), às 00h30. A programação terá ainda “Toda Nudez Será Castigada” (1972), dirigido por Arnaldo Jabor, e “Dama da Lotação”, de Neville D´Almeida. Além disso, haverá o drama “Chuvas de Verão” (1977), de Cacá Diegues, a chanchada “O Bom Marido” (1978), de Antônio Calmon, e “Eu Te Amo”, de Jabor.

Se galãs do actor´s studios são enaltecidos pelo público e crítica, Pereiro completa a oito décadas de uma existência exageradamente bem vivida, muchas gracias, muchachos. Até cult, o cara virou. Mas ele ostenta esse rótulo não é à toa, não: são 60 filmes e, claro, o singular “porra” – quase uma vírgula para pontuar o final de cada frase – virou um clássico. No caso do ator, a frase de William Blake – “a estrada do excesso conduz ao palácio da sabedoria” – é um libelo para quem construiu uma carreira com requintes de marginalidade. Trata-se, portanto, de um caso a ser admirado.

“Eu tô achando estranho, porque cachaça pra mim é um alucinógeno, e eu não vi ninguém fazer merda ainda”, desboca ele no documentário “Pereio, Eu Te Odeio”, dirigido por Allan Sieber, enquanto fala no microfone para o público. O filme, que não é fácil de encontrar nas plataformas de streaming, perfila o lendário ator a partir de um método, digamos, um tanto peculiar: amigos, filhos e familiares apontam defeitos dele, e sem praticamente elogios. É o caso de Hugo Carvana, com quem Pereio trabalhou em obras de sucesso: “A primeira vez que eu vi o Pereio ele me roubou.”

Nascido na cidade gaúcha de Alegrete, Pereio começou a carreira nas artes cênicas participando do Teatro de Equipe, iniciativa que marcou a cena cultural porto-alegrense no final dos anos 1950 e início de 1960. Nesta época, o ator atuou na releitura de “Esperando Godot”, peça escrita pelo dramaturgo Samuel Beckett. Em janeiro de 1968, já sob a batuta da ditadura civil e militar, ele interpretou o personagem Mané em “Roda Viva”, espetáculo dirigido pelo dramaturgo José Celso Martinez Corrêa que viria a ser no mesmo ano alvo do Comando de Caças Aos Comunistas (CCC).

Foi nas telonas, contudo, que a marca do “galã-terrible” passou praticamente imune ao tempo, sendo motivo de gargalhadas até hoje. Paralela a carreira construída nos palcos, Pereio fez uma ponta em “Terra Em Transe”, filme de Glauber Rocha aclamado no mundo todo. Mas, como o deboche sempre foi uma das mais marcantes características do gaúcho, é difícil não falar de “Vai Trabalhar Vagabundo”, obra de Hugo Carvana na qual interpreta Russo – jogador de sinuca que, cedendo à insistência de Secundino Meireles (Hugo Carnava), duela com Babalu (Nelson Xavier).

Pereio participou ainda de obras que fizeram grande alarde, como “Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia” (1977) , “Rio Babilônia” (1982) e “Bar Esperança” (1982).  Se no cinema ele conseguiu brilhar, na televisão não foi assim: suas aparições em novelas da Globo eram rápidas. “O fracasso não me subiu a cabeça”, reconhece, sarcasticamente, em “Pereio, Eu Te Odeio”. Desde março, o “galã-terrible” do cinema nacional vive no Retiro dos Artistas, instituição localizada em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Paulo César Pereio merece ser louvado. 

Serviço

‘Os Fuzis’ na mostra ‘Paulo César Pereio – 80 Anos’

Quando: quarta-feira (21)

Horário: às 00h30

Onde: Canal Brasil ou Canal Brasil Play

Veja a sinopse de ‘Os Fuzis’

Ano de 1963, policiais chegam a uma cidade pobre do Nordeste brasileiro para impedir que a população saqueie um depósito de alimentos. Em meio a um cenário desolador, os homens da lei ficam chocados com a negligência do governo que, ao invés de mandar alimentos para os moradores famintos, manda soldados. Direção: Ruy Guerra. Duração: 1h54. Gênero: Drama.

Mais vídeos:

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias