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Em obra, escritor reúne personagens de Aparecida

A História – essa com agá maiúsculo da qual tanto falam os acadêmicos em seus ensaios – geralmente é contada a partir do ponto de vista dos poderosos. Nela, os desassistidos, os combalidos e os denegados pelos holofotes do poder, não possuem vez: são relegados a segundo plano pelas sílabas das idiossincrasias historiográficas.

Se você pensa que o escritor e advogado Irani Inácio de Lima fez isso na obra “Aparecida: Sua Gente, Sua História”, obra de fôlego lançada pela editora goianiense Pé de Letra no ano passado, está enganado. Redondamente enganado, eu diria. Com 416 páginas, fica evidente que a preocupação de Irani é perfilar nomes comuns, como a primeira merendeira de Aparecida, ou o sujeito que deu nome ao estádio onde a Aparecidense manda seus jogos.

Ademir Menezes, Carmen Silva de Oliveira, Freud de Melo, Daniel Vilela, Gustavo Mendanha e Liosmar Mendanha, mais conhecido como Leo Mendanha, são alguns dos personagens que têm suas histórias registradas por Irani. Em todos os textos, um aspecto se destaca: o cuidado para manter viva a memória coletiva do nosso estado. Nesse sentido, “Sua Gente, Sua História” é uma lição de documentar a realidade.

“Para não ficar só em profissionais políticos, fui atrás de Aparecida, sua gente e sua história. Tem, ao longo do livro, pessoas que são simples, mas que são pessoas. Eu acredito no homem como ser imortal. Queria deixar bem claro essa ideia”, afirma Irani em entrevista ao Diário da Manhã realizada na tarde desta sexta-feira (29). Para o autor, as 57 histórias reunidas na obra são interessantes. Nenhuma melhor ou pior que a outra.

A prova dos nove vem logo na apresentação de “Sua Gente, Sua História”, em um poema assinado pelo próprio Irani batizado de “Aparecida, Cidade Inteligente”: “Aparecida de Goiânia conta a sua história/ Aqui narrada na linguagem de sua gente/ É a marca indelével, cravada na memória/ Deste povo alegre, gentil, feliz e sorridente”. E, sem esconder o lirismo, se declara: “A história é o cantar de um hino de amor”.

De fato, não é preciso muito esforço para perceber que se trata de uma obra aparecidense em sua essência. Sua escrita, forjada em mãos diferentes, haverá de ser uma obra histórica para ser lida, relida e consultada por aqueles que desejam compreender melhor a formação de uma das cidades mais importantes para o estado.

Então Irani, munido de sua formação espírita e buscando consistência histórica às informações que colhia, tentou dar um tom singular ao texto. E conseguiu: a linguagem é cuidadosa, elegante e respeitosa, mas também saborosa e prazerosa. “Eu entendo que a obra é uma obra histórica, uma obra recheada de espiritualidade, porque se você ler qualquer artigo meu você vai ver esse tom, que a minha formação espírita me ajuda a fazer. Mas com cuidado para não ferir ninguém”, ele explica.

Uma das histórias mais comoventes narradas por Irani é a de Aníbal Batista de Toledo: “Ele nunca jogou bola na vida, mas foi o melhor sanfoneiro da região. Foi, inclusive, sanfoneiro de uma dupla famosa, que era Venâncio e Venancinho”. Segundo o escritor, Aníbal foi o primeiro sanfoneiro deles e o estádio do município leva seu nome por causa de uma amizade que ele tinha com o prefeito Tanner de Melo. “Graças a essa amizade o estádio recebeu o nome dele.”

Sentimento

E a importância de Maguito Vilela, prefeito eleito de Goiânia e ex-prefeito de Aparecida que morreu em decorrência do novo coronavírus, em janeiro? “A importância do Maguito pra cidade de Aparecida é uma questão que aflora no sentimento da popularidade. Ele foi de uma importância capital para o progresso e desenvolvimento da cidade. Me sentiria suspeito, por causa do vínculo que eu sempre tive com o Maguito, foi um vínculo de funda amizade e respeito”, explica Irani.

Irani diz ainda que quando Maguito foi encaminhado para São Paulo o livro estava na editora, mas ele pediu a obra de volta para mudar o texto, acrescentar informações e lapidar o que precisava. “Terminamos com ele como prefeito. Então talvez tenha sido uma ajudazinha da espiritualidade”, diz o autor, que publicou uma homenagem ao político neste Diário da Manhã em 15 de janeiro último.

“Aparecida: Sua Gente, Sua História”, definitivamente, estratifica com riqueza de detalhes a memória da cidade de Aparecida de Goiânia, fundada em 1922, ano que ficou marcada pela Semana de Arte Moderna. Os assuntos abordados por Irani são diversificados e vão da política ao futebol, passando pela cultura, educação e cidadania, porém sem perder, é lógico, o aspecto despretensioso que caracteriza toda boa literatura.   

Para leigos ou especialistas, “Sua Gente, Sua História” constitui uma rica fonte de informação para quem quer mergulhar no passado da cultura não só de Aparecida, mas também goiana: aqui está uma obra honesta e desprovida das amarras de contar os efeitos de homens que ocuparam o poder. Vamos conhecer nossa história?

‘Aparecida: Sua Gente, Sua História’

Autor: Irani Inácio de Lima

Editora: Pé de Letra

Gênero: Não-Ficção

Preço: R$ 50,00

Para adquirir a obra: (62) 98581-1742

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