Home / Cultura

CULTURA

Cervejaria serve prato de excelência no almoço e drinques saborosos à noite

Já escreveram tudo sobre bar: a notícia, a crônica, a poesia, o conto, o romance. A crônica mais vezes, para a qual basta o escriba puxar uma cadeira, destampar uma cerveja, degustar um drinque e deixar-se mover pela música, no caso o disco “Riding With The King” (2000), dueto de BB King e Eric Clapton, blues que rolava pelas caixas dos alto-falantes no início da tarde chuvosa desta quinta-feira, 10, em que me encontro com um exemplar do DM sob as mãos analisando o labor do dia anterior.

É meio-dia e pouco, quase uma. Morreu Betty Davis, a pioneira do funk, contemporânea de Hendrix e Miles Davis, com quem foi casada. Naiara Azevedo saiu do BBB. Minha barriga ronca a sinfonia do almoço. Estamos, eu e minha parceria de sonhos (in) tranquilos, sorrindo e olhando o cardápio do Mandala Cervejaria. Observamos o menu à la carte. Escolhi o prato feito Tilápia ao Molho de Limão, um dos melhores da casa. A companheira decidiu-se por Frango ao Shoyu com Gengibre.

Para acompanhar a refeição, como acho a cerveja uma das necessidades da vida junto da música, das boas gargalhadas e dos pequenos prazeres literários, optei por um chope pilsen. Saiu sete pila. O ipa, a quem se interessar, está a nove. Preço tranquilo. Compare por aí. O prato custa vinte e oito e uns quebrados. Somando tudo, o meu e da companheira, deu uns setenta fake news. Mas se você gosta, vez ou outra, dentro das possibilidades financeiras, de comer bem, vale colocar o Mandala como prioridade: a tilápia estava bem saborosa, prato colorido, cheio de vida.

Como um todo, muito chamativo, gostoso e interessante. É acompanhado por arroz branco, fettucine ao molho bechamel com bacon, purê de banana e mandala solad. Preparado pela badalada chef Neldaci Maria de Jesus, a comida no horário do almoço pode ser definida como uma das melhores da cidade de Goiânia. Além do Frango ao Shoyu e Tilápia ao Molho de Limão, a casa dispõe de possibilidades democráticas em matéria de grana, como o Frango Acebolado, um clássico da gastronomia raiz, por catorze e noventa e nove, até Fraldinha e Filé de Coxa Assados, cinco pila mais caro.

Diversa e com preço justo, carta de bebidas é uma atração à parte - Foto: Kamylla Moreira/ Divulgação

Quando o parque de diversões noturno expulsa as mentiras diurnas, os drinques se tornam pedidos obrigatórios do Mandala. O gin tônica, um dos mais saborosos de Goiânia, sem exagero ou arroubos retóricos, figura entre as especialidades da casa. Vai bem quando se está dividindo uma mesa com amigos ou esperando o crush entre uma breja e outra para fazer o ponteiro do relógio caminhar – apesar de que, eu reconheço, sou suspeito para falar: a bebida é uma das minhas favoritas, dessas que a gente bebe assim que termina a produção do dia sentindo as engrenagens paradas.

Dando água na boca assim que o garçom traz a garrafa, a cervejinha merece um destaque paralelo aqui: Petra e Amstel, duas das mais conhecidas do público, ficam na faixa de dez pila. Vixe, tá pesado? Entendo, entendo... Mas ôxe, meu guri, não se avexe, porque a Devassa nossa de cada dia nos dai hoje irá perdoar as vossas ofensas, com cinquenta centavos mais barata. Para quem bebe em quantidade industrial, faz toda diferença na hora de enfiar a mão na carteira para pagar o saldo devedor.

Tudo isso, como não poderia deixar de ser, fica ainda mais agradável quando rola música ao vivo. Entre um solo de guitarra, dedilhado no violão, brincadeira com a galera de pé ou nas mesas, os artistas sabem do papel importante desempenhado pelo Mandala ao fomentar a cena local abrindo espaço para músicos mostrarem suas composições e interpretarem canções conhecidas, ao gosto dos presentes. Por lá, já passaram nomes como Mundhumano. Houve uma época, em 2019, que grupos da região norte do país excursionaram por Brasília e Goiânia e a cervejaria foi casa deles.

Ah, já ia me esquecendo, classifico como crime de lesa pátria o sujeito pelas cadeiras do Mandala se abancar e alheio passar às tradicionais batatas recheadas de frango de estrogonofe ou recheada mutante. Ambos custam na faixa de trinta e dois a trinta e cinco. Acompanham bem a velha e boa breja, como dois amantes de mãos dadas atravessando a rua num dia de chuva em Goiânia. No banheiro, antes e ainda hoje, assim que o efeito do líquido amarelo se fizer presente, os rabiscos da transgressão psicodélica e da libido libertária do ilustrador Heitor Vilela se mostram a nós.

Excitantes? Sim. O Mandala, aliás, passa longe de não ser esse lugar. Nas proximidades da UFG, na Vila Itatiaia, região norte de Goiânia, temos contato com boa comida, variedade musical, desde Paulinho da Viola até BB King ou Miles Davis, passando pela carta de biritas, essa que julgo no auge da qualificação de minha análise engarrafada ser uma instituição à parte. Não por acaso, o espaço – que completa sete anos nesta semana – virou um dos mais atrativos para universitários, escritores, músicos, jornalistas, poetas, mestrandos, doutorandos e boêmios como um todo.

Saciado e com o paladar sob o gosto do chopp lubrificando o filé de tilápia, visualizei as horas na tela do smartphone: duas e cinco. O labor me chama, este texto me chama. E, com a ajuda do cronista bebum Paulo Mendes Campos, chego à conclusão que bebemos para empatar com o mundo. O mundo está sempre ganhando de nós, de um a zero, dois a zero, três a zero, quatro a zero. Bebe-se na tentativa de igualar o placar. É uma ilusão? Óbvio. Mas que vive sem? A crônica me chama.

Mandala Cervejaria

Horário: hora do almoço até meia-noite

Funcionamento: de terça a sábado

Endereço: Av. Esperança, 16 - Vila Itatiaia

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias