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Ao Globo Rural, José Hamilton Ribeiro recorda reportagens marcantes

O jornalista José Hamilton Ribeiro, 86, vai para o apartamento que mantém em São Paulo para cumprir obrigações de saúde. Após ser aposentado pelo Globo Rural, o premiado repórter vive numa fazenda em Uberada (MG), caminha pela propriedade, dedica de três a cinco horas do seu dia para ler livros sobre os quais quer escrever artigos e folheia trabalhos que lhe enviam para comentar ou prefaciar.

Zé Hamilton (como é chamado pelos mais próximos) foi homenageado neste domingo, 20, pelo Globo Rural, programa do qual foi desligado há quatro meses e para onde fez reportagem memoráveis, como a entrevista com os cantores sertanejos Tonico e Tinoco. No bate-papo, disponível na íntegra no Globoplay, o jornalista recordou ainda momentos marcantes da carreira, que já ultrapassa seis década de labor na lauda.

Há 54 anos, Ribeiro participava de uma patrulha com tropas americanas, na Estrada sem Alegria em Quang Tri, norte do Vietnã, quando perdeu parte da perna esquerda. “Então senti um repuxão na perna esquerda e só aí tive consciência de que a coisa era comigo. A perna esquerda da calça tinha desaparecido e eu estava, naquele lado, só de cueca”, narra o jornalista em “O Gosto da Guerra”, reportagem com a qual fez história.

Mutilado e sentindo uma dor terrível, não perdeu o foco do cenário de carnificina ao seu redor. Por conta de sua capacidade de observação, conseguiu ambientar o cenário com precisão na antológica reportagem, que fez história ao ser descrita em primeira pessoa, e onde possibilitou ao leitor desenhar o ambiente, imaginar os diálogos e se colocar na situação como um personagem e não omitir nada do público.

Kei Shimamoto, que conseguiu o retrato de Ribeiro ferido após pisar na mina, morreu pouco tempo depois quando o helicóptero em que estava explodiu, alvo de um foguete. Com a consciência pesada e sentindo-se culpado, Shimamoto ficou no hospital com o jornalista, que precisou passar por uma cirurgia. Do Vietnã, o repórter foi para os Estados Unidos. Shimamoto vinha ao Brasil para trabalhar na Realidade, mas não deu tempo: o fotojornalista foi vítima dos horrores da guerra.

Ao Diário da Manhã, numa entrevista publicada em 2020, Zé Hamilton afirmou que o grande sucesso da obra foi porque ela acabou sendo contada “com muita naturalidade”. “Foi escrita no calor do momento, com sangue nos olhos”, disse. O repórter começou no jornalismo em 1954. (Redação)

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