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Sergio Mendes difundia samba-jazz mundo afora desde anos 60

Pianista se tornou o artista brasileiro que mais vezes esteve nas paradas de sucesso norte-americanas. Era conhecido por se conectar às novidades

Instrumentista nota dez: músico conquistou reconhecimento pela destreza com que construía arranjos - Foto: Katsunari Kawai / Divulgação Instrumentista nota dez: músico conquistou reconhecimento pela destreza com que construía arranjos - Foto: Katsunari Kawai / Divulgação

Morreu nesta sexta-feira, 6, aos 83 anos, o pianista, compositor e arranjador Sergio Mendes, grande nome do samba-jazz conhecido por levar a música brasileira para o exterior.

Mendes foi um dos responsáveis por exportar a música do nosso País, levando o samba e a bossa nova para o mundo. Começou a carreira como pianista clássico. Entre seus primeiros colaboradores estão Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell.

Em 1962, participou do concerto histórico de músicos brasileiros de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, evento que lançara o gênero musical brasileiro ao mundo. Em 1964, se mudou para Los Angeles, nos Estados Unidos, com a cantora e sua mulher Gracinha Leporace, fugindo da perseguição da ditadura militar.

Ao jornalista Sérgio Dávila, hoje diretor de redação da Folha de S. Paulo, contou que foi levado para depor pelos militares após enviar um telegrama para o pintor Wesley Duke Lee: "Rodriguinho Barra Limpa, o primeiro realista mágico de Niterói. Avisa ao Tio Lee que a ordem do dia é fralda larga e leite morno". Ele anunciava o nascimento do filho Rodrigo.

O cantor, que realizou turnês ao lado do músico Frank Sinatra, conquistou elogios do beatle Paul McCartney com seu "Fool on The Hill", disco de 1968 nomeado a partir da canção dos Beatles. Nos anos 1970, Mendes saiu em turnê internacional, colocando o mundo a seus pés.

Antes disso, todavia, Mendes tinha estourado lá fora com o grupo Brasil '66. A música propulsora foi a versão em bossa nova de "Mas que Nada", de Jorge Ben Jor, lançada em 1966, que conhecera no Beco das Garrafas, point da noite carioca em que a bossa nova se desenvolvera. Nos anos 2000, o pianista regravou a música com o grupo Black Eyed Peas.

Em 1967, o músico ganhou ainda mais destaque ao apresentar a faixa "The Look of Love" no Oscar. A música, lançada originalmente por Burt Bacharach e popularizada por Dusty Springfield no filme "Casino Royale", alcançou o 4º lugar nas rádios dos EUA na versão bossa nova. O sucesso não se limitou aos Estados Unidos.

Mendes se tornou um grande nome da música brasileira no Japão — como todos os bossanovistas. Uma das curiosidades da vida de Mendes é que seu estúdio foi construído por Harrison Ford, antes da fama. O astro de "Star Wars" era carpinteiro antes de ser ator.

Mendes foi premiado com um Grammy em 1993, com o álbum "Brasileiro". Apesar de ter sido indicado pela primeira vez em 1969 com um cover de "The Fool on The Hill" dos Beatles (elogiado em carta pelo próprio Paul McCartney), o único trabalho do músico a ser premiado pelo Grammy foi o disco "Brasileiro", na categoria Melhor Álbum de World Music. O disco conta com ampla colaboração de Carlinhos Brown.

"Magalenha", um dos maiores sucessos de Mendes, composta por Carlinhos Brown, está no disco premiado. Esta é a faixa de Sergio Mendes mais ouvida em plataformas de streaming, acumulando mais de 115 milhões de reproduções.


		Sergio Mendes difundia samba-jazz mundo afora desde anos 60
Músico ganhou dois prêmios no Grammy Latino. Foto: Instagram/ Sergio Mendes


Sergio foi indicado outras três vezes ao prêmio, e ganhou dois prêmios no Grammy Latino. Em 2005, ele foi homenageado com o prêmio de Excelência Musical por sua contribuição para a música latina. Cinco anos depois, venceu na categoria de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro com "Bom Tempo".

Em 2011, Sergio concorreu ao Oscar na categoria de Melhor Canção Original, com "Real in Rio". A música faz parte da trilha sonora da animação "Rio", que teve Mendes e John Powell como produtores executivos.

No documentário "Sérgio Mendes: No Tom da Alegria", de 2020, o público assiste a história de Mendes. Traz entrevistas de Gracinha Leporace, sua mulher e parceira musical, Harrison Ford, Carlinhos Brown, will.i.am e outros colaboradores musicais.

Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1941, Mendes se matriculou ainda jovem no conservatório de música da cidade. Aos 15 anos, estudou música erudita com Carmelita Lago e, já adulto, se interessou pelo jazz. Ele passou a frequentar o Beco das Garrafas, berço da bossa nova em Copacabana.

Até o fechamento desta edição, a causa da morte não havia sido revelada. Mendes vivia há seis décadas em Los Angeles, com a mulher, a cantora Gracinha Leporace, com quem estava casado há mais de 50 anos. Ele deixa Gracinha, além de cinco filhos.

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