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Brasil precisa de R$ 195,2 bilhões para escoar safras

O Brasil precisa de investimento mínimo de R$ 195,2 bilhões para solucionar gargalos no escoamento de produção agropecuária. É o que revela estudo da Confederação Nacional de Transporte (CNT). A infraestrutura é considerada ruim e aumenta de forma considerável o custo de transportes de soja e milho. Essas condições da infraestrutura de transporte e logística do Brasil têm impacto significativo na movimentação da produção agrícola. Com esse quadro, o País perde em competividade para grandes concorrentes como Argentina e Estados Unidos.

O estudo Transporte & Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, realizado pela CNT, analisa a logística do agronegócio com foco nas cadeias produtivas de soja e milho, que têm participação de 85,8% no volume total de grãos produzidos no País e contribuem com 43% da pauta de exportações brasileiras. O estudo identificou os principais gargalos para a exportação e propôs soluções para que os custos sejam reduzidos. Em Goiânia, a questão já foi amplamente debatida no Fórum Empresarial de Goiás, no ano passado, com a participação das Federações da Indústria, Comércio e Agricultura (Fieg, Fecomércio e Faeg).

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Principais rotas

A CNT analisou as rotas de escoamento de quatro regiões produtoras: Centro-Oeste, Paraná, Rio Grande do Sul e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia), mostrando as perspectivas de transportadores, embarcadores e entidades governamentais e não governamentais relacionadas ao segmento. Foram entrevistados os responsáveis pela logística das maiores exportadoras de soja e milho do Brasil. O trabalho também é baseado em outras pesquisas da confederação, como o Plano CNT de Transporte e Logística 2014 e a Pesquisa CNT de Rodovias 2014, entre outros estudos.

O presidente da CNT, Clésio Andrade, ressalta que “a competitividade do agronegócio brasileiro está condicionada à existência de um sistema logístico eficiente”. De acordo com Clésio Andrade, “os projetos de transporte precisam ser implementados com uma visão sistêmica, integrando ferrovias, portos, hidrovias, rodovias e terminais de transbordo”. As melhorias propostas para o escoamento da safra também favorecem outros setores produtivos.

Qualidade das rodovias

O Brasil é o 2º maior exportador de soja e de milho do mundo. Em 2014, foram 46 milhões de toneladas de soja e 19,5 milhões de toneladas de milho exportadas. Mas há problemas graves no escoamento. Somente as condições do pavimento das rodovias levam a um aumento de 30,5% no custo operacional. Se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões. O montante corresponde ao valor de quase quatro milhões de toneladas de soja ou a 24,4% do investimento público federal em infraestrutura de transporte em 2014.

Esse dado torna-se ainda mais relevante porque há uma distribuição inadequada da malha de transporte. 65% da soja é transportada por rodovias. Nos EUA, principal concorrente do Brasil, 20% da produção é transportada por rodovias. Na Argentina, o percentual é de 84%, mas as distâncias médias entre regiões produtoras e portos vão de 250 km a 300 km. Nos EUA e Brasil, as distâncias são em torno de 1.000 km. O Brasil utiliza 9% de hidrovias, embora disponha da maior bacia hidrográfica do mundo.

Escoamento de grãos é problema

Os embarcadores entrevistados no estudo selecionaram os projetos do Plano CNT de Transporte e Logística 2014 essenciais para melhorar o escoamento da safra de soja e de milho no Brasil. Eles apontaram 139 intervenções para ferrovias, rodovias, hidrovias, portos e terminais de transbordo. A CNT identificou outras 111, totalizando 250 projetos e R$ 195,2 bilhões necessários para a adequação das atuais rotas de escoamento da safra de soja e milho. Para ferrovias, são 67 projetos e R$ 80,1 bilhões. Para portos, 75 e R$ 18,8 bilhões. Para navegação interior, 46 e R$ 34 bilhões. Para rodovias, 48 e R$ 60,5 bilhões. E, para terminais, 14 intervenções e R$ 1,8 bilhão.

O estudo entende que se forem implementadas, todas essas intervenções também irão favorecer o transporte de diversos outros produtos no Brasil, além dos do agronegócio. No total, o Plano CNT de Transporte e Logística 2014 sugere 2.045 projetos, com valor estimado de R$ 987,18 bilhões, como investimento mínimo no sistema logístico brasileiro.

Dois mil km até os portos

Os avanços tecnológicos e as condições climáticas transformaram o Centro-Oeste na principal área de produção de grãos do Brasil. Entretanto, o sistema logístico não propicia diversidade de alternativas para o escoamento. A distância percorrida por caminhões, do Centro-Oeste para os portos do Sul e do Sudeste, chega a ser superior a 2.000 km. Essa distância é realidade para a maior parte dos deslocamentos de soja e milho. Atualmente, 67% das exportações ocorrem pelos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS). A nova fronteira agrícola (Matopiba) precisa de investimentos em infraestrutura de transporte para sustentar o crescimento.

Principais rotas de escoamento

A má qualidade das rodovias é considerada problema grave ou muito grave por 85,8% dos embarcadores. A percepção é confirmada pela Pesquisa CNT de Rodovias 2014, que identificou que a maioria (63,4%) das vias de escoamento apresenta alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria. As rotas com origem no Centro-Oeste direcionadas a Santarém (pela BR-163) têm 100% da extensão com problemas.

O Brasil possui 1,7 milhão de km de rodovias, 213 mil pavimentados (12,4%) – cerca de 18 vezes menos densidade que nos EUA. No ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 122° lugar em relação a rodovias; EUA, o 16°; Argentina, o 110°.

Frete decide na escolha modal

O principal motivo para a escolha modal no escoamento de soja e milho é o custo do frete (85,7%). Em seguida, estão oferta de transporte (42,9%), maior segurança da carga (28,6%), maior confiabilidade dos prazos (28,6%), conforme relataram os embarcadores entrevistados. O custo do frete pode representar cerca de 50% do valor recebido pela tonelada de milho e mais de 20% do valor da soja. De 2009 a 2014, os preços do frete tiveram reajuste de 28,3%, percentual abaixo da inflação no período, que foi de 36,8%.

A pouca disponibilidade de ferrovias é considerada problema grave ou muito grave por 83,3% dos embarcadores. Outras necessidades se referem a marco regulatório, modernização tecnológica e outras questões. O Brasil tem 3,4 km de infraestrutura ferroviária para cada 1.000 km2 de área. Os EUA têm 22,9 km, e a Argentina, 13,3 km. No ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 95° lugar em relação a ferrovias. EUA, o 15°; e Argentina, o 96°.

206 pontos críticos

Nos trechos mais utilizados para o escoamento da safra de soja e milho, há 206 passagens em nível críticas (cruzamentos de ferrovias com rodovias) e invasões de faixa de domínio da linha férrea em 50 municípios. Com isso, há necessidade de redução da velocidade das composições, gerando desgaste nas locomotivas, aumento do consumo de combustível, de emissões e de poluentes. Também reduz a segurança e aumenta a ocorrência de roubo de cargas.

Redução de custo pela metade

A viabilização da Hidrovia Teles Pires-Tapajós reduziria, em cerca de R$ 94, o custo do transporte de grãos por tonelada, na comparação com uma rota totalmente rodoviária. Isso poderia representar quase a metade do custo. Hoje, a produção que sai por rodovias de Lucas do Rio Verde (MT), e tem como direção o porto de Paranaguá (PR), percorre, em média, 2.300 km.

O custo do transporte por tonelada é de cerca de R$ 230. Com a Teles Pires-Tapajós, a distância percorrida por rodovias seria reduzida para cerca de 320 km e outros 1.425 km seriam navegados por hidrovias até Santarém (PA). Nesse trajeto que utiliza dois modais, o custo do transporte por tonelada seria de cerca de R$ 130, o que representa 58% do valor do deslocamento rodoviário até Paranaguá.

Mas a ausência de eclusas, falta de dragagem, derrocagem, sinalização e balizamento impossibilitam essa navegação. Outras alternativas que facilitariam o escoamento de soja e milho são as hidrovias do Paraguai e a Tocantins-Araguaia. Todas dependem, contudo, de investimentos para se tornarem viáveis.

Paralisação do Tietê-Paraná

Entre 2013 e 2014, houve diminuição do volume transportado de soja, milho e farelo nas vias navegáveis do país. Tanto a seca como a cheia trouxe problemas. A Hidrovia Tietê-Paraná, paralisada por causa da seca, transportou 73,4% a menos de milho, 53,5% a menos de soja e 79,2% a menos de farelo em 2014, em relação a 2013.

Com a paralisação, o trajeto precisou ser realizado por rodovias, acarretando aumento dos custos logísticos para os embarcadores. Já na saída Norte, a cheia do rio Madeira levou a uma redução de 22,7% na movimentação de milho e de 8,7% na de soja. Além desse problema da seca e da cheia, os comboios brasileiros têm capacidade limitada, até mesmo nas vias navegáveis com mais estrutura. Na Tietê-Paraná, a capacidade é para até seis mil toneladas. No Mississipi, nos EUA, são transportadas de 18 mil a 60 mil toneladas por comboio.

Rios rasos, problema sério

Dos 41 mil km de vias navegáveis no Brasil, apenas 53% são economicamente navegados. O estímulo à navegação interior é fundamental para melhorar o escoamento da safra de grãos. 40% dos embarcadores de soja e milho consideram a pouca profundidade dos rios um problema grave ou muito grave.

A baixa produtividade dos equipamentos portuários é um problema grave ou muito grave para 100% dos embarcadores. As operações portuárias em todo País apresentam deficiências. 80% avaliam a pouca profundidade dos berços, bacias de evolução e canais de acesso como problema grave ou muito grave.

Os embarcadores indicaram também que a elevada burocracia no desembaraço das cargas é um ponto crítico das operações. Essa deficiência relatada pelos embarcadores foi comprovada no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O Brasil ocupa o 122° lugar em relação a portos. EUA, o 12°; e Argentina, o 91°.

Problemas de gerenciamento

O Brasil investe pouco em infraestrutura de transporte. Além disso, cerca de 30% dos recursos autorizados não são investidos pelo governo federal, por problemas gerenciais. Em 2014, foram investidos apenas R$ 15,8 bilhões em infraestrutura de transporte, de 0,29% do PIB. Em 1975, o percentual em relação ao PIB era de 1,8%.

Medidas para entraves

O estudo da CNT tem propostas para solucionar esses entraves. Ei-los: o definir uma política nacional de transporte; o reduzir o número de órgãos planejadores e reguladores do transporte (hoje são 14); o simplificar documentos e processos exigidos na operação do serviço de transporte hidroviário (hoje são, no mínimo, 44); o maior agilidade no desembaraço de cargas nos portos; o instituir o porto sem papel como única forma de apresentar documentos nos portos; o definir claramente como os dois marcos regulatórios do setor ferroviário deverão se relacionar no período em que ambos estiverem em vigor; o investir continuamente; o propiciar segurança jurídica; e o desburocratizar trâmites para implantação de infraestruturas logísticas privadas.

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