“Vamos emanar boas vibrações juntos! ” É assim, bem ao estilo “energia positiva” característico da Natiruts, que o vocalista da banda Alexandre Carlo, em entrevista ao DMRevista, convidou os goianienses para o show que acontece hoje na Capital. A apresentação é emblemática para os brasilienses e público, pois pela primeira vez eles tocam aqui o mais recente álbum, “ Índigo Cristal”, lançado em agosto deste ano e que quebra um hiato de oito anos sem álbuns inéditos. A performance acontece hoje no Paço Municipal, a partir das 20h, no evento chamado Luau Natiruts.
Por aqui, a banda, que tanto canta o Cerrado, chega completamente à vontade. “ Goiânia é nossa vizinha, é como tocar em casa”, explica Alexandre Carlo. No repertório certamente não irão faltar clássicos, Andei Só, Liberdade Pra Dentro da Cabeça e Natiruts Reggae Power, que colocaram a banda como uma das maiores representantes do reggae no Brasil, ao longo de 20 anos.
Mesmo com a passagem dos anos, eles continuam exalando frescor e relevância, superando as mudanças no mercado da música e conquistando novas “tribos”. “ A Natiruts consegue renovar seu público ano a ano, o que é muito legal. Na plateia tem gente de muitas faixas etárias”, celebra Alexandre Carlo.
ÍNDIGO CRISTAL
Mas o foco da performance de hoje será mesmo em “Índigo Cristal”. Um álbum que expõe a maturidade de um trabalho feito com calma, após oito anos em que a banda preferiu se voltar para analisar a carreira em uma releitura do próprio trabalho. Assim, os últimos três lançamentos da Natiruts foram os DVDs: “Acústico”, “NoFilter” e “Reggae Brasil”. “Neste período também viajamos por mais de 20 países e aprendemos muito. Isso nos motivou bastante para a construção do novo álbum”, conta o vocalista.
Produzido em Brasília, pelo próprio Alexandre Carlo, o CD lançado em parceria com a Sony Music traz a linda e negra modelo fluminense Mahany Pery na capa. O álbum tem 11 faixas que mostram essa essência segura e consistente, construída nestas duas décadas da banda. Assim, os músicos que foram gerados no centro político do País deram mais uma prova que assumem toda brasilidade: tanto para o bem (na riqueza musical), como para o mal (na podridão política).
REGGAE BRASILEIRO
No quesito musicalidade, por exemplo, a banda chega a Goiânia mostrando que, apesar de beber na fonte do estilo jamaicano, não se priva de contagiar seus reggae com diversas referências brasileiras e mundiais. Característica esta que já afirmavam no primeiro álbum, no sucesso Presente de Um Beija-Flor, que diz: “...E a menina que um dia por acaso veio me dizer, que não gostava de meninos tão largados. Que tocam reggae e MPB.”
E “surfando nas nuvens doidas” da música brasileira está aquele que foi o primeiro single de “Índigo Cristal”, Sol do Meu Amanhecer. A canção une o reggae ao swing da bossa nova através da parceria dos brasilienses com o maestro Joaquim França, responsável pelos arranjos de cordas e regência da música.
Além da bossa nova, entraram no álbum outras referências. Nas faixas Na Positiva e Caminhando eu Vou, o reggae roots ganha sotaque jazzístico, com a ajuda dos solos dos sopros. Até a melodia indiana aparece junto com as batidas de Dois Planetas, enquanto que Eu Quero Demais, a black music cheia de groove dá as caras, com direito a participação de Ed Motta.
“ A Natiruts sempre foi uma banda que mistura o reggae com MPB. É interessante que aqui no Brasil nós somos vistos como uma banda de reggae. Já fora do País, como uma banda de reggae, mas essencialmente de música brasileira. Então a gente vive nesse meio-ermo. Até porque os jamaicanos fazem o reggae clássico, que é algo que a gente não sabe fazer e não é a proposta da banda. Quando a gente acaba fazendo música do nosso jeito, do jeito brasileiro de ser, a gente acaba sendo visto não como reggae, mas como música brasileira”, comenta o vocalista.
E outra curiosidade que se mistura ao caldo de “Índigo Cristal” é que o clipe de Na Positiva a banda se uniu a tribo Povos do Alto Xingu, entre outras etnias, na Chapada dos Veadeiros, o que, segundo os músicos, representou uma experiência gratificante. “Fomos abençoados com vários momentos que ficarão registrados em nossa memória para sempre! Esses quatro minutos de vídeo são apenas uma amostra da energia que fluiu durante todo o processo”, disse o guitarrista Kiko Peres, que frequentemente recarrega suas energias na Chapada dos Veadeiros.
ALMA POLÍTICA
Nos últimos seis discos inéditos da banda talvez sua característica mais latente, sejam as composições sobre positividade da mente e do corpo, além do romantismo, claro. No entanto, é bem verdade que a Natiruts também nunca se esquivou dos problemas estruturais do Brasil. E, nem poderia, saiu do Distrito Federal para o mundo. Na Deixa o Menino Jogar, no início da carreira já cantavam versos ainda atuais como: “A consciência do povo daqui. É o medo dos homens de lá”.
Em “Índigo Cristal” não foi diferente: as críticas seguem incisivas, como na canção A Justiça Falha, que, além da alma reggae-soul, provoca o público em versos como: “A notícia mente, o sistema mata, o político engana e a justiça falha, e ainda querem falar de Deus?”
“Apesar das nossas músicas serem sempre alto-astral e cheias de positividade, colocamos esta faixa de protest o (Justiça Falha), em que mostramos a nossa indignação com toda a podridão do sistema, mas do nosso jeito, com esperança e positivismo”, disse Luís, explicando que o segredo para não perder a positividade vem de coisas simples. “É preciso emanar coisas boas: nossas inspirações vêm do cotidiano, da natureza, da justiça e do amor”, revela.