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ENTRETENIMENTO

Correr o mundo de muletas

As perspectivas da maioria das pessoas para o correr do ano não são das mais animado­ras. Trabalhar durante 11 meses, um mês de férias, ou talvez vender o des­canso para empresa para fazer uma grana extra. A sensação libertadora – a qualquer época do ano – de estar a milhas de casa conhecendo um lugar surpreendente é para poucos. Muitos fatores, além da questão financeira, nos travam no sonho de abraçar o mundo. Luiz Thadeu Nunes e Silva escolheu essa vida, a liberdade de se movimentar por todo o mundo.

A liberdade de movimentos de Luiz veio exatamente de uma inér­cia forçada. Um acidente automo­bilístico deixou o engenheiro agrô­nomo de 60 anos acorrentado por um longo período a uma cama e ele reconquistou a liberdade de se mover ao melhor estilo, correndo o globo terrestre de muletas. Luiz relata o desastre que o despertou para viver além do peso cotidiano: “As viagens foram a maneira que encontrei de sair de uma situação que passei. Foram quatro anos em cima de uma cama em função de um acidente de carro.”

Ele continua: “Estava dentro de um táxi no interior do Rio Grande do Norte, em julho de 2003, e o motoris­ta em um final de tarde foi atender o celular, perdeu o controle do carro e nós batemos de frente com uma sca­nia. Até então tinha um vida normal e a partir deste acidente toda minha vida mudou. Hoje a maneira de eu andar, de conhecer o mundo é o que tenho como liberdade”.

Luiz Thadeu já conhece 120 paí­ses, mas seu sonho de pertencer ao mundo inteiro ainda está em curso. Até o fim do ano ele pretende ter vi­sitado 130 países e como o viajante planejado que é as passagens para as viagens de 2018 já estão todas compradas. “Sempre digo que não sou turista. Turista é aquele cara que passa o ano trabalhando e fica um mês viajando, de férias. Eu, se con­sigo dois ou três dias de descanso, viajo. Vivo em função de calendá­rio, vou lá e vejo todos os feriados que vão ter durante o ano e progra­mo minhas viagens. Qualquer tre­cho que tenho, viajo, essa é a dife­rença entre turista e viajante, eu sou viajante,” ele conta sobre sua rotina de viagens.

O segredo para viajar não é ga­nhar na loteria, se organizar e ter prioridades ajuda bastante. Luiz dá algumas dicas para os viajantes: “Você tem que ter foco. Quem quer viajar não pode comprar um carro novo e dar festas, o dinheiro é um só e você tem que priorizar. Se você quer por exemplo fazer um mochi­lão pela Europa, tem preço de todo jeito. Compre milhas, se você tiver cartão de crédito transforme as van­tagens em milhas, se for abastecer o carro, tenha um programa de fi­delidade pra transformar em mi­lhas. Qualquer dinheiro que tu ti­ver sobrando, 100 reais, 200 reais, compra de dólar. Procure passa­gens através dos sites de viagens, já fui pros Estados Unidos por 500 reais, ida e volta”.

O engenheiro agrônomo dá pa­lestras para dividir suas experiên­cias com outras pessoas e ressalta os pontos importantes que ele apre­senta nestes eventos: “Tenho dado palestras e sempre digo: você tem que fazer o que gosta. Não necessa­riamente viajar. Tem gente que gos­ta de futebol. Meu filho é louco por futebol e ele já fez um circuito na Eu­ropa atrás de time de futebol. Re­serve tempo pra você, o que adian­ta quem é jovem trabalhar tanto e quando ficar velho não ter feito nada por si mesmo. Muita gente a nossa volta se queixa que falta duas coisas na vida dela “Eu não tenho tempo. Eu não tenho dinheiro”, mas a gente tem que saber administrar.

ENTREVISTA COM LUIZ THADEU, NA QUAL ELE CONTA ALGUNS DETALHES SOBRE SUAS VIAGENS AO REDOR DO MUNDO:

Viajar já era um dos prazeres que você tinha como prioridade?

Sempre gostei de viajar. Quando era estudante de Agronomia, sou engenhei­ro agrônomo, sempre viajei muito pelo Brasil. Quando fazia faculdade tinha um projeto do Governo Federal que se chamava Projeto Rondon, que manda­va pessoas de diferentes localidades do País para outros lugares para conhecer uma outra realidade, e então dentro deste projeto viajei bastante. Fora do Brasil, antes dos acidente já conhecia os EUA, Portugal e a Argentina.

Qual a relação das suas viagens com a liberdade que você reconstruiu?

Depois do acidente, quando pas­sei quatro anos fazendo tratamen­tos em hospitais. Após esse período foi a oportunidade que tive para viajar mais. Falei: Não! Agora quero conhe­cer o mundo. Tenho metas para mi­nhas viagens, a última a ser quebra­da foram 120 países e ao final deste ano serão 130, as passagens já estão compradas. Este ano já fui para os EUA e para o México, mas não conta porque conhecia esses países.

Quando você visita um outro país, dá preferência aos pontos turísticos ou ten­ta conhecer algo com mais identidade lo­cal?

Sou apaixonado pela cultura. E a região que mais me fascina é a Ásia. Es­tou indo pra lá novamente este ano, já fui cinco vezes e quero conhecer to­dos os países deste continente. Além da cultura, da gastronomia, da maneira que eles vivem, que é muito diferente da nossa, é uma oportunidade de conviver com pessoas com uma realidade com­pletamente diferente.

Qual foi o país mais impressionante que você visitou?

Gosto muito de Istambul. Está entre a Europa e a Ásia, e isso é muito impres­sionante. Você tem um pé dentro da Eu­ropa, aquela onda de desenvolvimen­to e tudo mais e a influência asiática, uma onda mais exótica. Por isso Istam­bul é um país diferenciado.

As viagens que você faz não costu­mam ser muito longas. Mas dá para fazer amizades nos lugares?

Sempre digo que o que move o mun­do são as pessoas. O que me fascina é conhecer pessoas diferentes, pessoas que vivem com muito pouco. Já tinha ouvido comentários que no Cairo, Egi­to, existem pessoas que nascem, vi­vem e morrem nos cemitérios, eles não têm casa. E quando fui ao Cairo, além de conhecer as pirâmides, que todo mundo visita, fui conhecer essa gente. Como uma pessoa, para nós ociden­tais, vivem a vida toda dentro de um cemitério. Essas coisas me impressio­nam. Cheguei na Malásia e fiquei im­pressionado como eles vivem com tão pouco, no Vietnã também. Em muitos países da Ásia se come insetos, fui expe­rimentar isso, é uma coisa exótica.

Quando você viaja, qual a sua companhia?

Durante a maior parte do tempo viajei com meu filho, juntos chegamos a 80 países. Mas como ele se formou em Direito e agora está trabalhando e es­tudando pra concurso, não tem mais tempo, desde então viajo sozinho.

Qual a viagem que você está mais an­sioso pra fazer este ano?

Conheço poucos países da Amé­rica Central. Em setembro vou para seis diferentes países da América Central. As outras viagens que farei em 2018 são para destinos que já co­nheço, as novidades são estes. E tam­bém vou pra Austrália e Nova Zelân­dia, que já conheço, mas de lá vou pegar um navio pra quatro ilhas que são as mais distantes do Brasil, vou pra Vanuatu, Nova Caledônia, Sa­moa e Fiji. São lugares muito exóti­cos e muito longe do Brasil.

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