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ENTRETENIMENTO

Estranhos encontros

O que torna boa uma pintu­ra expressionista abstrata? Com essa pergunta, Isaac Kaplan, colaborador do site Artsy, inicia um artigo publicado em fe­vereiro de 2016. É uma pergunta bastante comum e coerente. Caso o leitor não saiba, pinturas de ex­pressionismo abstrato são o ápice daquelas telas cheias de riscos e sem representações de imagens reais. Ao observar pinturas do es­tilo, comentários como “por que isso é tão caro se qualquer um é capaz de fazer?” são quase inevitá­veis. Um dos representantes mais controversos desse movimento ar­tístico, iniciado em Nova Iorque nos anos 1940, é Franz Kline. Seu estilo espontâneo e intenso, que resultava em telas de difícil inter­pretação, deram início a outro sub gênero da pintura: o action pain­ting (ou gestualismo).

De acordo com Kaplan, obras de arte desse estilo não devem ser vistas como uma simples união de conceitos inacessíveis, e que elas pendem para uma percepção mais sensitiva. “Um conhecimento do contexto histórico e das críticas são importantes, mas a apreciação do expressionismo abstrato não fun­ciona como ler um livro. Sua qua­lidade pode ser medida princi­palmente pelas sensações que ele causa”, conta. Por outro lado, o au­tor afirma que a familiaridade com aquilo que essas telas apresentam também é importante. “Particular­mente, trabalhos de expressionis­mo abstrato podem provocar uma resposta emocional dos espectado­res e requerem um encontro físico, muitas vezes prolongado, com eles. Quanto mais você se encontra com eles, mais apto está para julgá-los”.

O pintor Franz Kline (1910– 1962) é conhecido com um dos mais importantes e problemáti­cos artistas do movimento de ex­pressionismo abstrato de Nova Iorque. Segundo o crítico Daniel Siedell, em publicação de 2003, seu estilo é de difícil interpretação para os críticos, comparado ao de seus contemporâneos. Junta­mente com Jackson Pollock, Wil­lem de Kooning e alguns outros, Kline era visto como um gestua­lista por conta de seu estilo es­pontâneo e intenso, que não tem foco em figuras ou imagens, mas na expressão de suas pinceladas e do uso da tela. A definição mais comumente atribuída a sua obra fala de sutileza. Enquanto a maio­ria dos quadros do gênero pos­suem um impacto dramático, as obras de Klein fogem dessa emo­tividade.

MULHERES

Uma mostra organizada em 2016 chamou a atenção do públi­co para a dificuldade de reconhe­cimento que pintoras deste estilo encontraram pelo caminho. Ape­sar de suas obras terem permane­cido invisíveis por muito tempo, elas existem. No mesmo artigo ci­tado, Isaac Kaplan fala sobre o as­sunto. “A maioria das figuras do expressionismo abstrato são ho­mens brancos, apesar de negros e mulheres também terem explo­rado a proposta”, conta. A mos­tra Mulheres do Expressionismo Abstrato, realizada sob curado­ria de Gwen Chanzit no Denver Art Museum recuperou um pou­co da história em 2016. Ela inclui 50 obras de 12 mulheres, incluin­do Krasner, Judith Godwin, Grace Hartigan, e Ethel Schwabacher.

CAPTAIN BEEFHEART

Na segunda metade da déca­da de 1980, Don Van Vliet (conhe­cido no meio musical como Cap­tain Beefheart – um dos maiores representantes do rock experimen­tal nas décadas de 1960 e 1970) de­cidiu encerrar sua carreira na músi­ca para dedicar-se exclusivamente à pintura. Em meio ao seu legado está o álbum Trout Mask Replica’, de 1969, considerado uma gran­de influência na linha do tempo do rock. O disco é uma confecção minuciosa de psicodelia e surrea­lismo. Utiliza na fórmula elementos de blues, freejazz, avant-garde e vá­rios elementos da música america­na. A partir de 1985, foi visto poucas vezes publicamente. Sua pintura também teve grande reconheci­mento, e as obras têm sido cada vez mais requisitadas.

Na época, ele decidiu abandonar a música e o nome artístico para não passar a impressão de que seu traba­lho se tratava de ego de músico em fim de carreira. Para ele, não era po­sitivo ter suas duas carreiras associa­das. O estilo de pintura de Van Vliet também é associado ao expressio­nismo abstrato. Sua obra foi compa­rada à obra de Franz Kline e também ao movimento CoBrA, um dos pou­cos movimentos de vanguarda na Europa pós Segunda Guerra Mun­dial, que unia artistas de três cidades (Copenhague, Bruxelas e Amster­dam – as primeiras letras dos nomes das cidades formam o acróstico Co­BrA). Don Van Vliet morreu no dia 17 de dezembro de 2010 na Califór­nia por complicações em decorrên­cia de esclerose múltipla, um mês antes de completar 70 anos.

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