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ENTRETENIMENTO

Eno-esnobe

A par de toda a questão emo­tiva, creio ser extremamen­te difícil eleger o melhor vi­nho que já provei por um motivo mais, digamos, ligado à minha relação com o vinho: meu gos­to muda com o passar dos anos. Aquilo que me encantou há cinco anos já não me agrada tanto. Tam­bém trilhei o caminho inverso: vi­nhos para os quais não dava muita bola, pelo seu estilo, agora gozam da minha predileção.

Pela subjetividade do tema, ja­mais existirá um melhor vinho, mas sim alguns grandes vinhos que nos seduzem de forma dife­renciada de acordo com caracte­rísticas do momento, do local, da harmonização com comida ou das pessoas com quem compar­tilhamos o doce néctar.

De olhos fechados, sem ter a menor ideia do que se está pro­vando, o melhor vinho é aque­le que surpreende no nariz pela sutileza de seus aromas, que per­mitem identificar ou não o que se vai tomar, pois o vinho pode ser maravilhoso e totalmente ines­perado. O melhor vinho é aque­le que continua surpreendendo na boca e no retrogosto, even­tualmente “traindo” sensações esperadas pelo que se viu no na­riz, eventualmente confirmando. E mais fantástico ainda, quando mesmo antes do seu rótulo e ori­gem ser descoberto, sua vinifica­ção, ele nos traz à boca a neces­sidade de uma comida qualquer, bem precisa. Quem já tomou um Pouilly Fumé com mexilhões apenas cozidos com mistura de água doce e da água do mar, sabe o que estou dizendo!

Outro dia me perguntaram qual o melhor vinho que degus­tei, vieram-me tantos na cabeça, que acabou me dando um bran­co. Por fim, o melhor vinho que aprecio, e é sempre o mais mar­cante, quando tomo a bebida de baco na companhia dos amigos. Sempre é um momento espe­cial. As pessoas marcam mais que os vinhos.

CRÍTICOS DE VINHOS

A chamada “escola Robert Parker”, o mais conhecido criti­co de vinhos dos EUA, diz que nenhum vinho intrinsecamen­te pode valer mais de 100 dóla­res. Parker foi o principal respon­sável pela introdução de vinhos da África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e pela enorme expan­são da venda de vinhos chilenos e argentinos nos EUA, tudo em detrimento dos tradicionais vi­nhos europeus. Além disso foi um grande propagandista dos ótimos vinhos californianos.

Parker foi ameaçado de mor­te na França porque disse que os Bordeaux de 5 ou 10 mil dólares eram uma mistificação, truque de marketing. A revista de Par­ker Wine Spectator é a bíblia des­sa escola e seleciona mensalmen­te vinhos bons a preços razoáveis.

Para quem curte vinhos, os críticos são fundamentais, gos­to muito de Hugh Johnson, in­glês que tem uma visão melhor e mais abrangente, mas o Parker é um revolucionário que muito contribuiu para a populariza­ção do consumo de vinho nos novos mercados.

ENO-INSUPORTÁVEIS

Quanto aos eno-chatos e aos eno-esnobes, a melhor coisa é não dar importância, eles cami­nham na linha do Burguês Fi­dalgo, de Molière, querem de­monstrar importância através do vinho, acabam sendo uma comédia para diversão de to­dos nós, deixe-os falar e pen­sar que impressionam.

Existem também os Eno­-nerds, que são aqueles que têm verdadeira paixão, às vezes pato­lógica pelo mundo dos vinhos. Eles amam estudar a garrafa, ro­lha, até se a pessoa que está ser­vindo o vinho se está usando al­gum tipo de perfume para não alterar os aromas de sua bebida!

Considera um crime beber o vinho tinto em uma taça que não seja apropriada para o vinho tin­to. A opinião dos outros sobre o vi­nho é sempre chata. Não costuma se socializar muito, apenas nas de­gustações de vinho, falar de cerve­ja, meu Deus, é o fim! São esnobes, e às vezes se tornam insuportáveis.

ETIQUETA

Diante dos amigos, evite fi­car descrevendo o vinho como se estivesse numa degustação técnica: “Reflexos violáceos, aromas complexos, taninos educados, retrogosto persisten­te...” Seu interlocutor vai so­nhar em sair correndo, diante de tão rico comentário.

Não critique o vinho ofereci­do por um amigo, mesmo que você o deteste. Guarde com você comentários como “falta corpo”, “pobre em aroma”, alcoólico de­mais”. Seja discreto e deixe o vi­nho na taça descansando eterna­mente. Com certeza o anfitrião irá notar, e se tiver outras gar­rafas, educadamente, ele irá te convidar para escolher um vi­nho que mais lhe agrade. Faça do momento um prazer, não um curso básico sobre vinhos.

REFLEXÃO

Segundo Fernando Pessoa: “Boa é a vida, mas melhor é o vinho.”

“O amor é bom, mas é melhor o sono!” Com a sabedoria de sentir o meu silêncio, aprendi a gostar de mim, a cuidar de mim e, principalmente, a gostar de quem também gosta de mim. Nada melhor do que ter elegân­cia da simplicidade, nãoachojusto alu­gar os ouvidos de amigos com minha sabedoriasobreabebidadebaco. Pre­firo compartilhar a sabedoria do viver. Aí me pergunto: existe filosofia do vi­nho? Se há uma filosofia do conheci­mento, da arte, daciência, da moral, da ação. Cada área do saber pode aspirar a ser objeto de reflexão filosófica. Mas, e o vinho? É claro, o vinho é mais um produto do saber e do conhecimento interior. Hojeovinhoévistomuitasve­zescomosímbolodetransgressãodos valoresinformadospeloequilíbriobur­guês, um período de transformações na estrutura social da nossa socieda­de. Então, quando abrir uma garrafa de vinho, pense que ele já é uma parte intelectualdeumarefeiçãoedeencon­tros com amigos. O melhor vinho para miméaquelequeencantameu sorriso eaquecemeuespírito. Assim, continuo seguindo meu coração, e somente ele conduz minha vida, não a sociedade. Como diz Abigail Van Buren: “A sabe­dorianãovemautomaticamentecom a idade. Nada vem - exceto rugas”. É ver­dade, alguns vinhos melhoram com o tempo, mas apenas se as uvas eram boas em primeiro lugar.

É por esta mesma razão que um vinho tinto da Aurora, bebido ao sol de Búzios, vendo o sol se pôr no mar, parece o melhor vinho do mundo. Amigos e um amor são os segredos do bom vinho! Que a vida me tra­ga vinhos e flores que adornem mi­nha alma. Por fim, sempre que neces­sário, repita esta frase como se fosse uma oração: “Só existem aprendizes de vinho; só os humildes aprendem sobre a bebida de Baco”.

 Receita com harmonização de vinhos

Feijão Manteiga comBochecha de Porco Alente

Rico em sabor, o prato legitimamente brasi­leiro tem um toque português, mas com a cara do Brasil. A receita me foi sugerida pela chef Rita Campos Simão, do Café Alentejo, em Évora, em Portugal. O que mais gostei foi saber que a colu­na Prazeres à Mesa é lida em outros continen­tes, e receber esta receita desta chefe me deixou muito feliz. Este prato pode se tornar uma exce­lente opção para os dias frios.

Para harmonizar, Fred Benjamin, embaixa­dor dos vinhos do Alentejo 2018, selecionou três vinhos tintos encorpados e potentes para uma perfeita harmonização com o prato, ob­tendo assim uma boa experiência gastronô­mica sem sair de casa.

INGREDIENTES

1 kg de feijão manteiga

1 kg de bochechas de porco alentejano

2 cebolas picadas

4 dentes de alho

1 linguiça

4 cenouras

batata-doce

louro

azeite a gosto

sal, pimenta e malagueta a gosto

arroz para acompanhar

PREPARAÇÃO

Cozinhar os feijões e as bochechas na pa­nela de pressão separadamente. Num tacho coloca-se a cebola e alho a refogar com o azei­te até ficar transparente. Adicione os legumes para cozinhar (cenoura e batata-doce), depois as carnes previamente cozidas e, por fim, o fei­jão. Deixa-se tudo ferver para todos os aromas se misturarem.

Dicas do sommelier para harmonizar

Como este prato é rico em sabor e ideal para o inverno, Fred Benjamin, embaixador 2018 dos vinhos do Alentejo no Brasil, recomenda vinhos tintos encorpados e potentes para uma perfeita harmonização com o prato. Abaixo, as sugestões do especialista:

SUGESTÃO 1

Bom Juiz Reserva Tinto – Carmim – Doc Alen­tejo da sub-região de Reguengos – O vinho esta­gia em barricas durante 1 ano e meio, é elabora­do com as castas Alicante Bouchet, trincadeira e aragonez.

SUGESTÃO 2

Mouchao – Herdade do Mouchao – Doc Alen­tejo da sub-região de Portalegre – Elaborado com Alicante Bouchet e Trincadeira, o vinho estagia 24 meses em tonéis de 5.000 litros de carvalho português, macacaúba e mogno.

SUGESTÃO 3

Marques de Borba Reserva – Joao Portugal Ramos – Doc Alentejo da Sub regiao de Borba – Elaborado com as uvas Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira, Touriga Nacional Es­tágio: 18 meses em pipas novas de carvalho francês.

CAÇAROLAS E VINHOS

ABE TRAZ AO BRASIL RENOMADO ESPECIALISTA NO ASSUNTO EM UM CURSO EXCLUSIVO

Pela primeira vez conduzindo um curso no Brasil, Jaume Gramona Mar­ti vem compartilhar seu profundo co­nhecimento sobre Cava com um se­leto grupo de 30 enólogos brasileiros. Reconhecido como uma das princi­pais celebridades no assunto, o es­panhol aceitou o convite da Associa­ção Brasileira de Enologia (ABE) para estar nos dias 9 e 10 de julho con­duzindo o tema “Conhecendo a Re­gião do Cava e seus Espumantes”. O evento será no Salão Chardonnay, do Dall’Onder Grande Hotel.

Durante dois dias, um seleto grupo de 30 profissionais terá o privilégio de fazer uma imersão pelo universo de um dos es­pumantes mais famosos e reconhecidos do mundo: Cava. Serão 10 horas de inten­so aprendizado. A oportunidade, gerada pela ABE, tem o patrocínio do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) – Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

BRASIL SE PREPARA PARA A MAIOR AVALIAÇÃO DE VINHOS DO PLANETA

Vai começar a maratona. A maior avaliação de vinhos de uma mesma safra do mundo já está em processo de elaboração. Vinícolas de todo o Brasil têm até o dia 6 de julho para inscrever suas preciosidades da Safra 2018 na 26ª Avaliação Nacional de Vinhos, o mais importante evento do setor vitiviníco­la brasileiro, reconhecido por enólogos e formadores de opinião do mundo in­teiro. Regulamento e ficha de inscrição estão disponíveis no site www.enologia. org.br. O evento é uma promoção da As­sociação Brasileira de Enologia (ABE).

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