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Maria Bonita: a quadrilha rememora com música a luta do cangaço

  • A quadrilha no Cabaret Voltaire. Festa também lembra cinco anos das jornadas de junho de 2013


Denominado junho de 2013, o levante popular que le­vou milhares de pessoas às ruas tem sua áurea resgatada e ad­mirada atualmente por conta do contexto pós-golpe. No entanto, as revoltas políticas e sociais não são nenhuma novidade na histó­ria do mundo, tampouco do Bra­sil. Quilombos, Canudos – narrado brilhantemente na obra Os Sertões, do jornalista e escritor Euclides da Cunha – e Revolta da Vacina são ti­dos como exemplos de manifesta­ções que marcaram nossa história. O movimento cangaceiro também deixou sua marca visível até hoje nas páginas da historiografia e foi responsável por dar vida a canções de Zé Ramalho e Nação Zumbi. Antes de tudo, o cangaço é uma forma de protesto contra injusti­ças sociais que atingiram – e ainda atingem – as regiões economica­mente mais pobres do País.

O movimento possui em Maria Bonita uma de suas figuras mais importantes. Criada no sertão da Bahia e obrigada a se casar aos 15 anos, o que lhe provocou um ma­trimônio conturbado e violento, ela virou a primeira mulher a partici­par de um grupo de cangaceiros. Era considerada à frente de seu tempo, encontrou no grupo a liberdade que precisava. Pegou em armas e en­frentou opressores. Com sua entra­da para o grupo de lampião, abriu­-se oportunidades para que outras mulheres fizessem o mesmo, inicia­tiva proibida até então. Um exemplo disso é Sérgia da Silva, mais conhe­cida como Dadá, que, além de ser responsável pela estética dos bandoleiros, era a única que carregava um revólver calibre 38 na cintura. Ela ainda ajudava na de­fesa e nos ataques promovidos pelo grupo de Lampião.

Todavia, após quase uma década de atuação no chamado “banditis­mo social”, Maria Bonita e o restante de suas companheiras foram captu­radas pela polícia, mortas e decapita­das, com as cabeças expostas ao pú­blico como forma de exemplo caso alguém subvertesse as regras vigen­tes. Entre passado e presente, eis a conexão: a luta popular contra o Es­tado. Sim, o movimento cangaceiro reproduzia em certa medida proble­mas de gênero, como a determina­ção de papéis específicos para ho­mens e mulheres. Mas o resgate da simbologia em torno de Maria Boni­ta e seus feitos acabam sendo tam­bém uma forma de resistência, seja de classe via o banditismo ou frente ao machismo, com postura contra a sociedade da época.

Em função disso, o coletivo Me­tamorfose organiza hoje, às 22h, no Cabaret Voltaire, próximo ao Cam­pus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG), no Setor Itatiaia, um “arraiá” subversivo com o objetivo de rememorar as lutas travadas pelas cangaceiras. A festa contará com “intervenção junina”, comidas típicas, quentão, música característica do sertão, shows com as bandas Retalha Vento, Cocada Coral e discotecagem de DJ Moni­que Goyana e Heitor Volta Seca, que irá animar o evento no início. Para molhar a palavra, o público terá op­ção de beber cerveja Antarctica, que custará R$ 4,00 a lata de 350 ml. A expectativa dos organizadores é de que aproximadamente 400 pessoas compareçam ao evento.

Esperando ansiosamente o pontapé inicial da Maria Bonita: a quadrilha, a cientista política Lays Vieira, 28, explicou que o segun­do evento do Metamorfose, as­sim como a festa Liberté – Maio 2018, tem propó­sito de manter viva a memória históri­ca das conquis­tas femininas. Segundo ela, o primor­dial é fazer com que o público reflita so­bre o que passaram as bando­leiras, além de se sensibi­lizar em rela­ção a problemas que elas tiveram de enfrentar ao lon­go da vida. “Tendo em vista esses ingredientes, vamos fazer uma festa com pegada de empoderamento às mana e com cunho reflexivo, já que nossa intenção não é seguir a velha cartilha de eventos não fei­tos na capital, e sim mudá-la e pro­porcionar algo novo e inédito para o público”, endossa.

Já a compositora e integrante da banda Cocada Coral, Nathália Kaule, 28, disse que a apresenta­ção do grupo é “de rachar o asfal­to”. De acordo com ela, que é auto­ra da maioria das letras, o público irá se deparar com canções que exal­tem a liberdade no pensamento e expressão. “A gente coloca em pri­meiro plano a consciência políti­ca e, como não podia deixar de ser, vamos rememorar as lutas promo­vidas pela Maria Bonita, pois somos um grupo musical formado por mu­lheres”, afirma ela, que é a vocalista. Para a musicista, o momento atual pelo qual o País passa necessita que haja cada vez mais pegadas assim. “Não há como fugir dessa temática”.

JUNHO DE 2013

“2,85 não, porrada no busão!” Essa frase foi encontrada em di­versos cartazes durante a jornada de junho de 2013 e expressa com fidelidade a revolta da população com medidas que atendiam as classes mais abastadas. Ao con­trário do que se divulgou à épo­ca, as ondas de protestos contra a alta da tarifa do transporte pú­blico teve início na capital goia­niense e, a partir das barricadas e queimas de pneus em aveni­das movimentadas, serviu de inspiração para outras cidades do País fazerem a mesma coi­sa. As manifestações acabaram provocando reivindicações para melhorias às áreas de educação e saúde, além servir como ca­nal para se contestar o sistema político-econômico do Brasil, abrangendo anarquistas, comu­nistas e autonomistas.

Há cinco anos, o País intei­ro sentiu borbulhar o Levante Popular de Junho de 2013. Di­visor de águas na história dos movimentos sociais, Junho de 2013 é considerado um marco na organização dos trabalhado­res brasileiros, sendo responsá­vel por gerar novo ciclo de lutas em que a ação direta e horizon­talidade ganharam projeção na organização das pautas popula­res. Além disso, os protestos in­fluenciaram inúmeros focos de resistência nos últimos anos, como as ocupações de secun­daristas contra as Organizações Sociais (Os) em 2015, de univer­sitários em 2016, as lutas contra as reformas promovidas pelo governo Temer 2016 e, mais re­cente, a greve dos caminhonei­ros, que paralisou o País duran­te uma semana.

PROGRAMAÇÃO:

22h - Heitor Volta-Seca (discotecagem)

23h- RetalhaVento(banda)

00h - Intervenção Junina (quadrilha aberta a todos)

1h - Cocada Coral (banda)

2h - Monike Goyana (dis­cotecagem)

SERVIÇO:

Maria Bonita - A qua­drilha

Data: sexta, dia 22/06

Horário: apartirdas22h

Local: Cabaret Voltaire - Rua 8, quadra 51, lote 07, Conjunto Itatiaia, 74690-340 - Goiânia

Entrada: 10 reais (su­jeito a alteração)

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